segunda-feira, 12 de agosto de 2019
Event Horizon / O Enigma do Horizonte (1997)
Este é daqueles que se vi não me lembro. Personagens genéricas e uma ameaça que fica sempre inexplicada parecem ser os ingredientes perfeitos para causar amnésia cinematográfica.
Até o enredo é mais ou menos igual a tantos outros do género: uma equipa de socorro é enviada em busca da nave de exploração espacial Event Horizon, seguindo um sinal que esta envia de algures em órbita de Saturno. Assim que vemos o aspecto da nave Event Horizon percebemos logo que isto vai ser um filme de terror inspirado no “Alien”. Meu dito meu feito, o filme não é exactamente subtil. Até a equipa de socorro nos recorda as tripulações dos vários “Aliens”, o tipo de pessoas que está ali porque é um emprego como outro qualquer e no fundo o que queriam era uma reforma antecipada. Gostei das cenas em que quase todos os membros da equipa fumam uma cigarrada antes de entrarem nos tanques de stasis (?). É datado, mas é giro. Também gostei de terem explicado o conceito de FTL (velocidade Faster Than Light) que implica causar uma “dobra” no contínuo espaço-tempo. Tudo ficção científica, bem entendido, mas como era 1997 ainda se deram ao trabalho de explicar. Actualmente a ficção científica usa o termo FTL a torto e a direito e pessoas como eu, que não conhecem estes termos nem sabem o que significam, ficam ali à nora a tentar perceber a acção, ou desistem. O que me leva a esta reflexão: uma ficção científica que não se dirija a um nicho muito específico de conhecedores devia ter em conta uma audiência mais interessada na história e personagens e menos nos aspectos científicos. Quanto mais a ficção científica se dirige a um nicho, mais aliena o público leigo.
Mas voltando ao filme. As coisas começam a acontecer como é previsível neste género horror sci-fi. A Event Horizon é uma nave fantasma, toda a sua tripulação está morta, alguns corpos andam mesmo ali a vogar nos corredores devido à ausência de gravidade. Enquanto exploram a nave, os membros da equipa da socorro começam a ter alucinações estranhas com pessoas que lhe são caras, algumas já falecidas. Resolvendo que se passa algo de anormal e perigoso, decidem ir-se embora, mas aqui entra em cena o cientista louco/malvado (Sam Neill). Acontece que foi ele quem desenhou a nave, dotando-a de um mecanismo capaz de criar o seu próprio buraco negro de modo a viajar no espaço mais depressa. Mas aparentemente a Event Horizon visitou outra dimensão e não regressou sozinha. Trouxe consigo forças maléficas que querem apossar-se dos recém-chegados. Que forças maléficas são estas e para onde querem levar a nave de volta? Para o inferno. Não, não é uma forma de dizer. O filme quer-nos convencer de que a nave foi ao inferno e voltou. (É tranquilizador saber que algures na infinitude do espaço, até do outro lado de um buraco negro, ainda se aplicam as regras da nossa civilização judaico-cristã.)
As tais forças maléficas apoderam-se da mente do cientista (ou será que ele já era assim?) e a partir daqui este faz o papel de sabotar a fuga dos outros. O resto do filme é a tripulação da nave de socorro a lutar pela vida.
“Event Horizon” não prima pela originalidade mas enche o olho em termos de efeitos especiais e cenários. É o tipo de filme que se via no grande écran (quando ainda havia grande écran, mas já em extinção) a comer pipocas. Uma crítica que li chamou-lhe uma espécie de “Shining via Aliens”, e é de facto uma descrição muito apta. Durante quase todo o filme me recordei de “The Shining”, especialmente na cena em que um dos tanques de stasis se enche de sangue, explode, e jorra sangue por todo o lado, como o célebre elevador do hotel Overlook. Fiquei foi sem perceber se o tanque aconteceu mesmo ou se foi outra alucinação. Na verdade, fiquei sem perceber grande coisa excepto que o inferno é muito mau e pode estar do outro lado de um buraco negro, e que o Génesis bíblico tinha razão: o homem não deve querer saber tanto como Deus ou será castigado. Mas acho que até já estou a tirar conclusões a mais por mim própria e a tornar o filme mais interessante do que é. “Event Horizon” aposta principalmente no espectáculo, com muitos cenários, muitas explosões, muito sangue e afins, mas na verdade é um filme vazio que não deixa lembranças.
14 em 20
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2 comentários:
É um filme que apesar de ter um bom elenco e algumas boas cenas (adora a cena onde o personagem do Sam Neil explica o espaço-tempo e qual a maneira mais rápida de se deslocar do ponto A para o B) perde-se na tentativa de copiar esses outros filmes de sucesso de que falas, o que é pena.
Tem alguns aspectos redentores como o solido elenco ou acertar (maioritariamente) na ciência (tem de se perdoar alguns erros).
É possível que tenha tido algumas (muitas?) interferências do Estúdio para fazer algo mais "simples" ou com o qual as pessoas se identificassem (talvez dai a nave ter ido ao Inferno Critão ao invés de uma dimensão desconhecida).
Talvez algum dia façam um remake aproveitando as partes boas...
Se fizerem um remake disto que se aproveite, eu fico espantada.
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