Ou não fosse Florbela Espanca, este é um conto em prosa poética. Os temas são os do costume nesta poetisa, o amor e a morte, e mais uma dose de morte.
Tal como em toda a prosa poética, apenas se pode interpretar o significado, e do que eu conheço da autora interpreto assim: a Morta morreu nova; durante uns tempos, o noivo foi visitá-la ao jazigo; por fim, o noivo deixou de visitá-la. Sentindo-se esquecida, a Morta levanta-se e vai-se “afogar”/”diluir” no rio, onde acabam todas as memórias. (Florbela conheceria o rio Lethes?... Na sua obra poética, Florbela menciona várias vezes a transmigração das almas/metempsicose/reencarnação, pelo que não é descabido interpretar este conto como mais uma referência a essa “morte” do eu antigo/renascimento pós-morte).
Florbela Espanca foi a autora mais gótica do nosso país antes de haver o movimento gótico. Lamento muito por ela não ter encontrado a sua gente. Talvez o suicídio tivesse sido evitado. Trágico destino de nascer antes do seu tempo. Como é que se conseguia ser gótico e viver naquele tempo de Avé-Marias e procissões, e de gente normal a martelar-lhe aos ouvidos que o problema estava nela? A solidão intelectual devia ser absoluta.
Isto é suspeito da minha parte porque eu adoro a autora, mas este foi um dos meus contos preferidos desta colectânea.
-§-
Este conto encontra-se na compilação “Dentro da Noute –
Contos Góticos”, do Projecto Adamastor. O download gratuito pode ser feito AQUI.
Sem comentários:
Enviar um comentário