segunda-feira, 29 de julho de 2019

Game of Thrones / A Guerra dos Tronos (final)


[crítica ao FIM; spoilers do último episódio]


Então, quem é que se sentou no Trono de Ferro? Ninguém.
A maioria das críticas são unânimes e eu concordo: durante as duas últimas temporadas foi tudo a correr, de plot point em plot point, sem tempo para aprofundar personagens. A maior vítima desta pressa foi a pobre Daenerys, transformada num monstro em 30 segundos para andar com o enredo para a frente. Nem a actriz nem a personagem mereciam isto. A ideia que tentou ser vendida é que Daenerys enlouqueceu, mas o que passou não foi convincente, nem como loucura nem como evolução natural da personagem. Daenerys não pareceu louca, pareceu monstruosa. Conseguiram transformar a Daenerys no Hitler, basta olhar para este cenário:


Só falta a suástica de 5 metros de altura. Heil!
Outro personagem desnecessariamente atropelado na pressa de chegar ao fim foi Jaime. O desgraçado ia a caminho da redenção, e até compreendo que tenha regredido a meio do caminho. Mas não em meia hora, por amor de Deus! E qual foi a necessidade daquilo com a Brienne (tirando fan service, isto é?) Se queria voltar para a irmã, que voltasse. Mas o que se passou foi que o personagem não sabia o que queria, não sabia quem queria, não sabia o que estava a fazer nem para onde se virar. Coitado, transformado em barata tonta. Merecia um fim mais consistente, quer se redimisse ou não. Mas os criadores da série estavam cheios de pressa para ir fazer outra coisa qualquer (que algo me diz que não vou ver).


O que mais não fez sentido
Perdi qualquer esperança de que o fim da série fizesse sentido quando acabaram com o Night King daquela maneira (o rei dos zombies, para quem não sabe). Este é um desgosto pessoal, admito, porque eu estava realmente a torcer pelos zombies. Talvez não esperasse que vencessem, mas nunca pensei que dessem tão pouca luta. Uma batalha, um episódio, uma ninja adolescente. E assim acabou a maior ameaça de Westeros em milhares de anos, a razão da existência da Muralha, a primeiríssima cena da série. Enfim, nem tenho palavras. Foi mesmo uma desilusão. Nem cheguei a perceber afinal o que é que os zombies queriam. Houve um episódio que explica que a criação deles foi uma espécie de feitiço contra o feiticeiro, mas isso não explica qual era a ambição que os movia. Os zombies não paravam de aumentar as fileiras do seu exército dos mortos. Para quê? O objectivo era invadir o Sul. Porquê? Num dos episódios raptaram um bebé e transformaram-no num deles. Com que objectivo? Por que raio precisavam de um bebé? Só “porque sim” não é resposta. Agora nunca vou perceber para que é que queriam o bebé.
Não pretendo ler a saga de George R. R. Martin, mas, quando e se o homem a escrever a história dos zombies, seria um livro que me interessaria. E talvez possa vir daí a minha conclusão consistente. Mas para isso é preciso que Martin escreva e é melhor não esperar de pé.
Depois desta correria desenfreada, chegámos finalmente ao último episódio. E deste, confesso, gostei da primeira parte (que tem a duração de um episódio inteiro). Especialmente a cena dramática entre a Daenerys e o Jon Snow. Até gostei do dragão! Foi das raras vezes em toda a série que de facto me importei com os personagens. Admito que me surpreendi por ter gostado tanto, porque quase tudo o que aconteceu em “A Guerra dos Tronos” teve principalmente um efeito de choque (o Red Wedding, a morte da princesa Shireen, o sadismo de Joffrey e de Ramsay, as fogueiras de Melisandre, as execuções-por-dragão de Daenerys, tudo porno-tortura) mas a isto eu senti. Finalmente, Jon Snow conseguiu pôr a funcionar o Tico e o Teco e agiu com a cabeça. Teria tido mais pena da Daenerys, mas depois de a transformarem no Hitler em 30 segundos já não deu para empatizar grande coisa.
Já a segunda parte do último episódio foi um festival de disparate. Bran? Eu já me tinha esquecido de que Bran era um personagem. E aquela reunião de nobres(?) e outras pessoas com o Torgo Nudho? Quem era aquela gente que ali apareceu do nada? Custava alguma coisa apresentarem-nas? Alguns descobri quem eram a ler críticas. Outros ficarão para sempre no mistério do meu desinteresse. Afinal, isto era a Guerra dos Tronos. O mínimo que se pode esperar é que o espectador reconheça os sobreviventes.
O fim foi completamente incoerente. Torgo Nudho não ia esperar sei lá quanto tempo por um julgamento com gente que não lhe diz nada. Assim que Torgo Nudho virasse costas, Jon Snow não ia para a Muralha. E qual Muralha? O próprio Jon Snow pergunta “ainda há uma Muralha?”, e com ele nós todos. Já não há Night King, nem sequer cavalos zombies e dragões de gelo. O que é que alguém vai fazer para a Muralha?
Bran e Sansa só acabaram como acabaram, os donos do pedaço, porque o verdadeiro Rei devia ter sido o irmão/primo deles. Essa é que é a verdade e devia ter sido a conclusão lógica da história.

Os vencedores
Apesar de tudo isto, algumas personagens conseguiram conquistar-me. Tyrion, não é novidade, sempre foi o meu preferido. Embora no fim tenha tido momentos de burrice que não fazem justiça ao personagem (e Varys, idem) quando decidiu agir com honra e coragem em vez de ser inteligente. Só se safou graças ao Jon Snow, que foi mais esperto. Não deixa de ser irónico.


Sansa nunca foi preferida do público desde o início mas eu sempre vi nela o potencial daquilo em que se tornou. Se se pode dizer que alguém ganhou a Guerra dos Tronos, esse alguém é Sansa, não apenas sobrevivente mas vencedora, não apenas uma Lady mas uma Rainha. Gostei.


Também gostei da última tirada de Samwell Tarly, sugerindo dar voz ao povo para escolher os seus governantes. Momento brilhante de alguém à frente do seu tempo. Infelizmente, ninguém lhe ligou nenhuma.


Arya, a miúda ninja, não sei o que lhe aconteceu mas perdi completamente o interesse por ela. Lembra-me aquela cena d’“Os Diários do Vampiro” em que eles desligam a humanidade. Foi o que me pareceu, que ela desligou a humanidade e se tornou uma espécie de super-Arya. Super-heróis não são o meu género e nunca serão.
Mas, no meio disto tudo, uma personagem cresceu no meu coração. Brienne de Tarth, que a princípio era bidimensional e irrelevante, nas últimas temporadas tornou-se uma mulher de carne-e-osso, não apenas uma mulher “que queria ser homem” mas alguém que amou (um homem que não a merecia), que sofreu, e que se elevou ao abandono com a maior das dignidades. Não sou daquelas que só fica satisfeita quando as personagens têm um final romântico mas, se Brienne quiser pensar no assunto, há sempre o Tormund. Depois de amestrado, e com maneiras à mesa, quem sabe, ainda se encontram para tomar um copo?


Tormund, o “gigante” (gigante entre aspas, porque nesta série há gigantes a sério) voltou para o norte, para lá da Muralha, de coração partido. Mas estar longe não é estar morto.
Para minha felicidade, Ghost (o lobo ou direwolf) também foi com ele. Esteve difícil, mas o bicho safou-se. Ainda bem, nesta série que se fartou de matar animais. Quem é que, não sendo um serial killer com nostalgia pela infância, quer ver isso?


Em suma, uma boa cena dramática (Tyrion, Daenerys, Jon Snow, Drogon) não basta para compensar a enorme frustração que foi assistir ao final desta série. Eu até não sou uma daquelas fãs “die hard”, não estou desiludida e em lágrimas, mas não é por isso que não tenho direito a um final que faça sentido. Desde que os criadores da série ficaram sem os livros para os guiar o enredo foi por água abaixo e nunca mais se elevou ao nível das primeiras temporadas.  Resta-nos esperar pelo Martin, se entretanto ele não perdeu o interesse em escrever o resto.



Primeira parte da crítica à série até à quinta temporada AQUI

Segunda parte da crítica à série até à quinta temporada AQUI


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