terça-feira, 15 de outubro de 2024

Doctor Sleep (2019)

Este filme interessou-me muito porque segue a vida de Dan Torrance, o miúdo que todos conhecemos de “The Shining”. Ele e a mãe são os sobreviventes dos acontecimentos horríficos do hotel Overlook onde o pai de Dan morreu depois de ter tentado matar a família por estar possuído pelos espíritos maléficos do hotel.
Ainda em miúdo, Dan tem uma conversa com o fantasma de Dick Hallorann, o cozinheiro do Overlook a quem Dan enviou um SOS psíquico em vão. Dan decide esconder os seus poderes psíquicos, talvez devido ao trauma.
Não admira que já adulto Dan seja um homem deprimido e perturbado, que se refugia no alcoolismo. Um dia decide deixar o álcool e vai trabalhar como auxiliar de um lar de idosos. O lar tem uma gata que parece saber sempre quem vai morrer a seguir, deitando-se aos pés da cama do moribundo. Dan segue-a e descobre que tem um dom para tranquilizar os doentes terminais, o que lhe vale a alcunha de Doctor Sleep.
Esta vida “pacata”, na “clandestinidade”, é interrompida quando Dan recebe um apelo psíquico da uma rapariguinha chamada Abra, alguém com poderes psíquicos iguais aos dele. Abra assistiu, em sonhos, ao homicídio de um rapazinho por um grupo de vampiros. Digo “vampiros” no sentido lato, uma vez que não bebem sangue mas alimentam-se das almas das vítimas, especialmente do medo e da dor.
Relutantemente, Dan aceita conhecer Adra mas aconselha-a a esconder os seus dons uma vez que este grupo de vampiros quase imortais tem poderes únicos. Se ela os viu, eles também a “viram”, o que não só a coloca em risco como também à família dela.
Este ninho de vampiros, saliento, é deveras assustador. Por exemplo, guardam o “resto” das almas não consumidas em recipientes que mantêm para emergências e preferem exactamente as almas das pessoas que têm poderes psíquicos, como Dan ou Abra.
Num último encontro com o fantasma de Dick Hallorann, este diz-lhe que é seu dever ajudar a miúda, e Dan concorda. Mas para derrotar estes vampiros poderosos Dan tem um trunfo: voltar ao Overlook, onde todos os espíritos famintos os aguardam. Foi bom ver o Overloook outra vez, embora não seja o Overlook de Stanley Kubrick. Este é um hotel abandonado, fechado e decrépito, uma sombra da sua glória (e ameaça) passada. Saliento a conversa que Dan tem com o barman fantasmagórico, que tudo indica ser o próprio Jack Torrance que ficou preso para sempre no Overlook.
Confesso que esperava mais de “Doctor Sleep” (e de Dan Torrance) e que o final me deixou desiludida e até um pouco triste. Não queria daqui uma saga, mas Dan Torrance tinha um “shining” extraordinário capaz de chamar Dick Hallorann à distância (a ponto de o próprio Dan preferir esconder as suas capacidades), e não vi esses imensos poderes psíquicos aqui.
“Doctor Sleep” é um filme de nostalgia, principalmente, com algumas imagens do original “The Shining” e tudo, com um argumento sólido que se sustenta por si só, mas para um sucessor de “The Shining” penso que todos queríamos mais.

15 em 20

 

domingo, 13 de outubro de 2024

Annabelle: Creation / Annabelle 2: A Criação do Mal (2017)


Sequelas e prequelas têm má reputação por uma razão, mas muito esporadicamente aparece a excepção que confirma a regra. “Annabelle: Creation” é dessas excepções, talvez de onde menos a esperávamos. Tal como o título indica, esta é a história original da boneca que viria a chamar-se Annabelle. Nos anos 40 ou 50, parece-me, esta boneca foi feita à mão por um bonecreiro que tinha bastantes encomendas. (A malta da paróquia não devia ver bem para querer encomendar aquela coisa medonha, mas enfim.) A boneca pode ter sido mesmo criada à semelhança da filha do casal, chamada Annabelle (se acham que isto é demasiada coincidência com o primeiro filme, é porque não é coincidência). Digo “criada à imagem da filha” de modo geral; obviamente que a miúda não é horripilante como a boneca.
A história começa em tragédia. Num acidente estúpido, Annabelle (a criança) é atropelada. Os pais da filha única e muito amada ficam desgostosos para toda a vida.
Muitos anos depois, este mesmo casal (os Mullins) decide acolher na sua grande casa meia dúzia de raparigas órfãs de várias idades, acompanhadas pela jovem freira do orfanato onde elas estavam. Imediatamente uma delas nos chama a atenção, Janice, uma pobre miúda que teve poliomielite e que precisa de um aparelho para caminhar, o que faz com muito esforço e cansaço.
Tudo isto é um ambiente de drama, onde o Mal existencial já existe e onde o outro Mal tem o cenário pronto. (Ver sobre isto “O Exorcista II”.)
Aliás, os Mullins são estranhos. A mulher foi acometida por uma doença e nunca sai do quarto. O marido faz questão de manter trancado o quarto da filha falecida. Isto não é suspeito, tendo em conta as circunstâncias, mas desde o início achei que ele olhava de forma esquisita para as miúdas, o que me deixou na dúvida se ele as tinha convidado por compaixão ou para as sacrificar nalgum ritual para ter a filha de volta. Não estava exactamente enganada em nenhuma das hipóteses, mas também não era o que eu pensava.
Mesmo assim, durante a noite Janice encontra a porta do quarto aberta. A tentação é demasiado grande. A falecida Annabelle tinha brinquedos irresistíveis, nomeadamente uma casa de bonecas que parece a reprodução do próprio quarto com a miniatura de Annabelle junto à mobília. Entretanto, uma porta abre-se sozinha e Janice descobre a boneca lá dentro (a boneca que vai ser conhecida como Annabelle, só para clarificar).
A partir daqui Janice começa a ser assombrada pelo fantasma de Annabelle. A princípio tem pena de Annabelle, até esta lhe dizer claramente que quer a sua alma. A melhor amiga de Janice, Linda, também começa a ser perseguida, e até as raparigas mais velhas sofrem perturbações no quarto delas, embora ninguém queira admitir. Janice chega a pedir à irmã Charlotte (a freira que as acompanha) para saírem daquela casa onde sente uma “presença maléfica”, mas a freira recorda-lhe que não têm melhor para onde ir. Lentamente, vendo que ninguém consegue ajudá-la, Janice resigna-se ao seu destino.
“Annabelle: Creation” prova que não são precisos efeitos especiais histéricos para meter medo, muito pelo contrário. Como naquela cena em que não há nada debaixo do lençol. Mãezinha, o que eu teria gritado se aquilo me acontecesse a mim! O que não significa que os efeitos especiais mirabolantes não apareçam, como um mau vício. Por exemplo, na cena do elevador de mordomo (um daqueles elevadores interiores, na parede, para subir e descer comida e roupa). A certa altura a miúda mete-se nele para fugir ao demónio (quando já se sabe que não é um fantasma que as assombra) e o demónio tenta puxá-la para baixo com as patas peludas, com garras e tudo. A miúda dá-lhe uma sapatada e ele larga. Como se faz a um gato. Eu desatei-me a rir. Uma entidade maléfica desiste com a sapatada de uma fedelha? Sinceramente, realizadores. Também vemos o demónio, a dado passo, baixinho, peludinho, chifrudo, negro, assim a parecer uma daquelas iluminuras medievais. Porque esta noção de demónio é medieval e não acredito que meta medo a alguém. Não sei o que se passa com os realizadores desta série de filmes em insistirem nesta absurdidade.
O filme também é mais longo do que devia. Por mim, toda aquela cena no celeiro era cortada. Não adianta a história, não acontece às personagens principais e nem se pode dizer que é para “encher” porque o filme já está demasiado cheio.
Apesar de me ter feito rir, “Annabelle: Creation” aguentou-se muito bem depois, o que não é dizer pouco. Não é um filme que me meta medo, mas é tenso e pesado. Acima de tudo é um filme com cabeça, tronco e membros (o que vem sendo raro) que até explica em parte o original “Annabelle” (o que eu também não esperava). A aposta na empatia pelas personagens (demónios peludos à parte) fez mesmo toda a diferença.

13 em 20 (menos um ponto pelas patinhas peludas)

 

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Cell / Cell: Chamada Para a Morte (2016)

Ao contrário do que o título em português possa sugerir, este filme não tem nada a ver com o clássico de Hitchcock mas sim com telemóveis (cell phones) e é uma adaptação de um livro de Stephen King.
No terminal de chegadas de um aeroporto, o novelista gráfico Clay Riddell tenta encontrar uma tomada disponível onde carregar o telemóvel, sem sucesso. 90% das pessoas (ou mais) estão a falar ao telemóvel ou ligadas a algum dispositivo wi-fi.
De repente, um impulso electrónico (?) afecta todas as pessoas “ligadas”, transformando-as em monstros raivosos e assassinos que atacam os “não ligados”. Isto é, mais um filme sobre zombies-vivos e, como sempre, estes zombies-vivos só atacam os “não infectados”. Pergunto-me, depois de ver milhentos filmes destes, porque é que não se atacam uns aos outros também? Mas neste caso parece que as pessoas afectadas pelo impulso começam a agir em “mente de colmeia” para destruir a sociedade. Porquê? Boa pergunta. O filme nunca explica e eu também não me ponho a especular (embora tenha algumas suspeitas).
À medida que os sobreviventes deste mundo pós-apocalíptico tentam escapar aos “phoners” (nome que dão aos afectados), apercebem-se de que estes evoluem e já não precisam de dispositivos electrónicos para “infectar” os outros. O seu líder parece ser precisamente o protagonista do romance gráfico (BD) de Clay Riddell, sem que este tenha nada a ver com isso (o que não deixa de ser estranhíssimo).
Ora, eu já estou a ficar farta de filmes em que uma personagem adquire vida própria (literalmente) e estou ainda mais farta de filmes que não dão explicações, nem plausíveis nem implausíveis.
Não li o livro, embora não seja difícil imaginar de onde Stephen King tirou a ideia de “zombies” agarrados ao telemóvel. É uma premissa interessante e não sei se o livro a desenvolve num todo coerente, mas “Cell” esqueceu-se desse “pormenor”. Nunca sabemos quem controla os “phoners” (ou quem está por trás do personagem que ganha vida própria), nem o que eles querem e porquê. Simplesmente é apresentado assim, os “phoners” parecem tomar conta do mundo e nunca sabemos o que realmente aconteceu ou está a acontecer. Tudo isto é muito frustrante e mais do que sobejam filmes semelhantes em enredo e muito melhores em execução. “Cell” é para esquecer.

11 em 20

 

domingo, 6 de outubro de 2024

Shining Vale (2022-2023)


Comecei a ver “Shining Vale” convencida de que era uma série de terror. E é, mas é também o que podemos chamar de terror cómico ou comédia de terror, e conseguiu de facto fazer-me rir.
A série começa como de costume: uma família de quatro pessoas, os Phelps, pai, mãe, filha adolescente e filho mais novo, compram uma mansão no campo, antiga e enorme, para tentar reparar a vida familiar depois de Pat, a mãe, ter tido um caso extraconjugal com o canalizador. O miúdo mais novo, Jake, viciado em jogos e que raramente tira os olhos do telemóvel, olha para o casarão e pergunta: “Porque é que vamos ficar num hotel?”
Foi a minha primeira gargalhada, porque sempre que vejo estas séries em que famílias de quatro pessoas ocupam uma casa do tamanho de um hotel (e quase sempre assombradas) não percebo o que lhes passa pela cabeça. Só os custos de manutenção são um filme de terror! Por outro lado, também nunca se vê ninguém a limpar as ditas casas, o que é ainda mais relevante nesta série em que ninguém nunca faz nada. Nem o pai, Terry, que tem um emprego a tempo inteiro na cidade, nem a filha mais velha, Gaynor, mais interessada em engatar rapazes no liceu, nem a mãe, que nem limpa nem cozinha (comem sempre take away), e muito menos o nerd que vive permanentemente num jogo virtual.
Como também é da praxe, o casal comprou a casa porque o preço estava abaixo de mercado mas tiveram de gastar tudo para a adquirir, o que significa que não podem dar-se ao luxo de sair de lá.
Pat é uma escritora de erótica/soft-porno com bloqueio criativo (algumas das passagens que ela tenta escrever são igualmente hilariantes). Teve um grande sucesso há 17 anos e nunca mais conseguiu escrever nada. Os editores pagaram-lhe um adiantamento pelo segundo livro e ameaçam obrigá-la a devolvê-lo, piorando as finanças da família (e o caos em geral) e causando-lhe ainda mais stress porque Pat pura e simplesmente não consegue escrever.
No entanto, a mansão está de facto assombrada por uma dona de casa dos anos 50, Rosemary, que aborda Pat e que a convence a deixar-se possuir de modo a que Rosemary a ajude a escrever o livro. Rosemary confessa que durante a sua vida o marido nunca a deixou fazer nada de interessante e que nas páginas do livro se sente realmente “viva”. A princípio Pat não concorda que a possuam, mas com o bloqueio criativo e os comprimidos para a depressão que o psiquiatra lhe receita, acaba por deixar Rosemary entrar. O resultado criativo é tão bom que a editora de Pat lhe paga outro adiantamento.
Na sequência desse sucesso, Terry despede-se do emprego que odeia (numa cena de ir às lágrimas que alguém grava e que se torna viral), mas afinal o restante do livro de Pat, sem a ajuda de Rosemary, é recusado pela editora. Pat tem de deixar Rosemary possui-la outra vez para conseguir acabar o livro… mas o fim não é nada erótico porque Rosemary matou o marido e os filhos à machadada.
“Shining Vale” é a história de uma família completamente disfuncional que às vezes se convence de que é normal (mas não são mesmo!). Bastantes vezes a série nos tenta igualmente convencer de que a assombração e o sobrenatural só se passam na cabeça de Pat, mas o filho mais novo também é assombrado pelas vítimas de Rosemary no headset de realidade virtual e a princípio julga que fazem parte do jogo... até encontrar o crânio de um deles.
“Shining Vale” lembra-me o humor de outra série memorável, “Weeds”, mas com terror em vez de marijuana. A série tem duas temporadas de poucos episódios de 30 minutos. O enredo à volta desta família caótica torna-se ainda mais marado na segunda temporada (sim, “marado” é a palavra certa). “Shining Vale” tem alguns sustos fraquinhos mas gargalhadas poderosas (pelo menos para quem tenha o sentido de humor certo) e ainda é mais cómico ao segundo visionamento. Lamento não poder contar mais por causa dos spoilers. Imaginem “The Shining”, “Rosemary´s Baby”, “The Exorcist”, “The Amityville Horror” e outros clássicos em versão cómica e mesmo assim não seria tão tresloucado, acutilante e com tantos palavrões. Os Phelps, afinal, poderíamos ser todos nós, tirando os choques eléctricos, as drogas e os machados. “Shining Vale” foi uma surpresa que me fez rir e não posso recomendar mais.
Penso que o objectivo de “Shining Vale” era ser renovado por mais uma temporada mas acabou bem, e acabou onde devia.


ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 2 vezes

PARA QUEM GOSTA DE: terror, casas assombradas, drama, comédia, The Shining, Rosemary´s Baby, The Exorcist, The Amityville Horror


terça-feira, 1 de outubro de 2024

The Bye Bye Man / O Nome do Medo (2017)


Esta é daquelas histórias tipo “Candyman” em que não se pode pronunciar o nome da entidade senão ela aparece. Infelizmente o filme é tão mau que decidiu pôr o spoiler logo no título.
Mas não é a falta de originalidade que torna “The Bye Bye Man” um filme mau. Muito pior do que isso, é por não nos conseguir convencer do poder da entidade (cujo nome eu não vou dizer mas está no título).
O princípio promete. No passado (anos 60, 70) um homem de aparência pacata sente-se na obrigação de matar família e vizinhos por eles terem divulgado o nome maldito (que eu não vou dizer mas está no título) e de se suicidar de seguida. Leva-nos a pensar que esta Entidade deve ser muito má, mas não sabemos porquê. Isto assusta-nos e cria tensão.
No presente, um casal de namorados, Elliot e Sasha e o amigo deles, John, decidem trocar o dormitório da universidade por uma casa alugada pelos três. Elliot encontra o nome maldito talhado dentro da gaveta da mesinha de cabeceira, e a partir daí começa a ouvir coisas e a ter visões. Por exemplo, uma noite alguém arranha profundamente as paredes exteriores da casa (para nos lembrar de Freddy Krueger). Por esta altura pensamos que o filme vai ser isto: uma espécie qualquer de Freddy Krueger/Candyman ia aparecer e retalhar os miúdos, mas o filme decide ser mais inteligente. Antes não fosse.
O que o Bye Bye Man faz (ooops, já disse) é enlouquecer as pessoas, causar-lhes alucinações, torná-las paranóicas, virá-las umas contra as outras e, ultimamente, levá-las a cometer homicídio. Admito que não estava à espera disto. Mas a questão aqui é outra: como é que o filme nos convence de que o Bye Bye Man (ooops, já disse outra vez, e basta dizer uma vez para o chamar porque ele não se faz caro) consegue entrar na cabeça das pessoas e endoidecê-las? Krueger, por exemplo, controlava as pessoas enquanto dormiam. “The Bye Bye Man” não consegue fazer isto de maneira nenhuma. Aliás, acabamos o filme sem saber quem é, ou quem foi, este vilão que se apresenta de capuz e acompanhado por um cão enorme que parece um mastim do inferno esfolado vivo (talvez a parte mais eficiente do filme), mas tudo nos leva a crer que esta Entidade já foi humana, algures. Como é que ele se tornou quem é, como é que tem tantos poderes, o que é que ele realmente quer, nada disso é dito ou mostrado, logo, não acreditamos neste vilão. Não se consegue ter medo daquilo em que não se acredita, mesmo num filme de terror em que já vamos para lá a fingir que acreditamos. Isto já é metade do efeito. A outra metade tem de ser o filme a fazer, e este não faz. Por isso é que é mau.
Espero que isto não signifique a conclusão mais aterradora com que saímos daqui: que se preparava a prequela a contar a história do vilão. Se calhar era mesmo isto que estava programado.
Muito mau. Ver apenas para passar tempo.

11 em 20

domingo, 29 de setembro de 2024

The Nun / A Freira Maldita (2018)


O filme devia chamar-se “A Abadia” (nome que lhe dão, quando deviam chamar-lhe “convento”) mas penso que “The Nun” é a prequela (?) de “The Conjuring 2” e que a tal Freira Maldita vem de lá. Em “The Nun” temos alguns flashbacks com o casal Warren de “The Conjuring” em que vemos Vera Farmiga no papel de Lorraine Warren.
Na verdade, “The Nun” não se passa em nenhuma abadia nem mosteiro nem convento mas sim num castelo medieval na Roménia, mandado construir por um nobre que lá tentou estabelecer um portal para o inferno. A Igreja acabou por tomar posse do castelo e, para “conter” o portal, este foi transformado em convento. As monjas tinham por missão a “adoração perpétua”, isto é, revezar-se a rezar dia e noite para que o portal não se abrisse.
Em 1952, abalado pelos bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial, algo muda no convento e o portal abre-se (pelo menos é esta a explicação do filme).
No início do filme uma jovem freira é encontrada enforcada da janela do convento. Nós sabemos porquê, mas o Vaticano não sabe e envia para lá o padre Burke, investigador de milagres e de tudo o que é sobrenatural, e a noviça Irene, escolhida por ter visões com a Virgem Maria.
Irene é Taissa Farmiga (conhecida de “American Horror Story”), irmã mais nova de Vera Farmiga (a Norma Bates de “Bates Motel”), e as parecenças são tão notórias que por algum tempo pensei que Taissa estaria a interpretar uma Lorraine Warren mais nova, ou que, pelo menos, iria ver as duas Farmigas a contracenar juntas. (E faço este aparte para salientar que seria uma delícia tê-las juntas, como irmãs ou mãe e filha.) Mas ainda não foi desta.
O filme vale pelo cenário. Um castelo em ruínas no meio da floresta densa, onde só se consegue ir de carroça, a sensação de isolamento e de que algo está muito errado, as cruzes espetadas no chão em toda a volta, não para proteger o convento mas para impedir o Mal de escapar, o cemitério do castelo, em que ainda se usavam as sinetas do tempo da peste quando as pessoas tinham medo de ser enterradas vivas. Frenchie, o jovem franco-canadiano que abastece o convento e que descobriu o corpo, diz aos investigadores que os habitantes da vila cospem para o chão sempre que se menciona a abadia. Mais ambiente do que isto é impossível.
Assim que chegam, Frenchie encontra o corpo da freira onde a tinha deixado, mas na posição sentada. Isto significa duas coisas: que existe gente no convento e que alguém moveu o corpo mas não o enterrou durante dias e dias, o que não bate certo com um comportamento religioso.
Mas as freiras sempre aparecem à irmã Irene e convidam-na a entrar. O padre fica em aposentos contíguos mas exteriores e passa a noite a ser assombrado por um exorcismo do passado que correu mal. A madre abadessa também lhe aparece, coberta por um véu, e é sinistra que baste.
Há duas cenas muito boas entretanto: o padre é atacado e enterrado vivo numa das sepulturas com a sineta. É Irene quem o salva. A outra cena é quando Irene está a rezar com as outras freiras e é atacada também. Algo de invisível lhe rasga as costas do hábito branco de noviça e a chicoteia. As marcas do chicote formam um pentagrama de sangue. Irene nunca pára de rezar. Isto sim, é terror.
A partir daqui o filme envereda pelos clichés e pelos sustos do costume e estraga tudo o que tinha feito até então. É sempre uma pena quando isto acontece mas actualmente parece ser a norma. Os realizadores parecem ter medo de não conseguir assustar as pessoas com terror psicológico, como na primeira parte do filme.
Voltando ao princípio, o que se passa aqui é um demónio que quer possuir um veículo qualquer para sair dali, seja freira, seja padre, seja quem for que apanhar. A Freira Maldita aparece aqui e ali mas sem ver o filme anterior não lhe achei nada de tão ameaçador que merecesse o título do filme. Por outro lado, ainda bem que vi este primeiro. Assim posso avaliar se a prequela bate certo com a sequela.

13 em 20 (pelo castelo na floresta)

 

domingo, 22 de setembro de 2024

Cat People / A Felina (1982) / Cat People (1942)

Vi o filme de 82 na adolescência e fiquei aterrorizada. Nunca mais me lembrei dele até ler “Danse Macabre", de Stephen King, em que o autor menciona o “Cat People” de 1942 como uma grande referência do terror no cinema (eu nem sabia que “Cat People” de 1982 era um remake). Curiosamente, “Cat People” (1982) estava a passar num dos canais de televisão e gravei-o logo. “Cat People”, com Nastassia Kinski e Malcolm McDowell, é uma metáfora clara sobre a sexualidade. Irena (Kinski) e Paul (McDowell) são dois irmãos criados em separado, mas ambos sofrem da mesma maldição: quando fazem sexo transformam-se em panteras negras e matam os seus amantes. Para impedir isso, Paul quer que Irena “acasale” com ele, e também é ele quem lhe revela que os pais de ambos eram igualmente irmãos. Esta solução de relações incestuosas impede a mortandade que os torna perseguidos. Irena não acredita em Paul, acha a proposta repugnante e, além disso, está apaixonada por Oliver, curador do jardim zoológico de New Orleans. No entanto, Irena receia no seu íntimo que Paul tenha razão e tenta evitar Oliver a todo o custo.
Confesso que fiquei desapontada porque desta vez o filme não me meteu medo. Isto pode dever-se a várias razões. Primeiro que tudo vejo muitos documentários sobre vida selvagem e sei que os leopardos são animais tímidos e solitários, que evitam o ser humano como a peste, que estão em vias de extinção, e que por serem solitários são bastante frágeis: tal como as chitas, qualquer ferimento pode impedi-los de caçar e não têm um grupo que cace por eles como os leões. Muitas vezes deixam as presas para as hienas e outros predadores sem dar luta para não correrem o risco de ficarem feridos. Isto fez-me simpatizar com os leopardos em vez de ter medo deles.*
* O que não quer dizer de maneira nenhuma que eu não tenha um medo racional de grandes felinos predadores (só se estivesse doida varrida é que não teria, especialmente de leões machos – já viram aquelas bocarras?), mas é um medo racional e não irracional como o medo de lobisomens, que não existem.
Por falar nisso, as “panteras negras” propriamente ditas também não existem, são apenas leopardos de pêlo preto, mas se calhar um leopardo fofinho às bolinhas não causava o mesmo efeito.
A ideia de “cat people” também foi usada em “True Blood”, na forma cómica e satírica típica da série, quando Jason Stackhouse, irmão de Sookie, se envolve com uma família de traficantes de metanfetaminas, white trash de trailer park, também incestuosos e com muitos uncle-daddies, a quem ele chama were-panthers. Não tenho muitas dúvidas de que inspiração tenha vindo deste filme. Em bom português, “True Blood” adorava avacalhar coisas sérias. Mas vou aproveitar a deixa para lhes chamar lobis-panteras também.
Depois disto tudo, não admira que o choque que o filme me causou se tenha diluído. Desta vez prestei mais atenção à parte metafórica em si, completamente sexual (o despertar, os receios, a virgindade, a transformação que tal acarreta, etc), e não consegui achar o filme tão interessante. Pelo contrário, julgo algumas cenas de sexo demasiado gratuitas e sado-maso, e alguns nus integrais de Nastassia Kinski (embora agradáveis de ver, não discuto) incluídos por motivos de “picante” para o público masculino (e feminino) e totalmente dispensáveis. Da mesma forma, o filme é longo demais e muitas outras cenas podiam ter sido cortadas sem se perder nada.
Também não digo que “Cat People” não conserve algumas passagens que me pareceram mais arrepiantes na altura do que agora, mas continuam arrepiantes, como os restos de jantar do lobis-pantera Paul, que não eram antílope… Já quanto às transformações propriamente ditas, podiam ser muito assustadoras em 1982 mas já não me convenceram agora.
O fim é mais triste do que trágico, na minha opinião. Apesar de tudo isto, aconselho a quem nunca viu e faço votos de que fiquem tão aterrorizados como eu da primeira vez.


Cat People (1942)
Ao ler críticas do filme de Nastassia Kinski (sejamos francos, o filme é dela), encontrei elogios rasgados ao original de 1942 e fiquei tão curiosa que fui arranjar o filme. “Cat People” de 1942 é uma obra completamente diferente, e tinha mesmo de ser porque na época certos temas eram proibidos no cinema (e cenas de sexo nem pensar!). Aqui temos uma metáfora muito mais subtil, isto é, subtil à altura, porque agora é clara como água. Irena é uma emigrante sérvia na América que vive aterrorizada por histórias de infância da aldeia onde nasceu sobre bruxas adoradoras do Diabo que tinham o poder de se transformar em panteras quando se exaltavam, excitavam ou zangavam. Irena apaixona-se por Oliver, a quem conhece igualmente no jardim zoológico junto à jaula de um leopardo negro, e eventualmente até chegam a casar, mas Irena recusa qualquer tipo de intimidade com o marido, nem sequer um único beijo. Oliver começa por ser bastante compreensivo e paciente, mas acaba por se apaixonar por uma colega de trabalho, Alice. E é aqui que Irena se passa dos carretos ou, neste caso, vira onça!
Fiquei bastante curiosa porque a senhora que fez a crítica aos dois filmes (que ela viu de seguida, primeiro o de 1942 e depois o de 1982) está completamente convencida de que Irena é lésbica porque não tem intimidade com homens e só se transforma em lobis-pantera quando persegue Alice, mas eu não me precipitaria quanto a isso. Ao contrário do filme de 1982, estas lobis-panteras também se transformam quando se zangam, e a ira até se vê nos olhos de Irena quando ela sabe da amiguinha do marido. Irena pode muito bem não ceder ao marido por medo de o matar, mas pelo fim do filme até está disposta a experimentar uma vida normal, aconteça o que acontecer. Logo, é melhor não ver o que não está lá. O que está neste filme é a completa submissão da mulher ao homem, que, condescendente, a manda para um psiquiatra para a “curar” e que chega a decidir interná-la. Se há um comentário a fazer é este: a sexualidade feminina dependia dos humores masculinos e tudo o que fugia à norma era considerado insanidade. Irena não só pode não ser lésbica como pode ser assexual, isto é, não querer intimidade com ninguém.
Para um filme de 1942 com um orçamento reduzido, “Cat People” tem uma realização de mestre. O jogo de luz e sombras, a preto e branco, é digno de um manual sobre como fazer cinema. Mas a mim agradaram-me sobretudo as cenas das perseguições.
A primeira é tão tensa, mas tão tensa, quando Irena persegue Alice por um parque solitário à noite, que eu provavelmente nem teria reparado que é tudo filmado num cenário de estúdio se Stephen King não tivesse chamado a atenção para esse pormenor (porque na altura não havia tecnologia para filmar à noite no exterior). Sente-se que a qualquer momento Alice vai ser devorada.
A segunda cena, magistral, é a da piscina. Nunca vemos a pantera, mas vemos a sua sombra e ouvimos os seus rugidos. Acredito que a audiência de 1942 deve ter arrancado os braços às cadeiras, de tanta tensão, ou agarrado os braços dos namorados e eles os delas. A cena é completamente arrepiante, até para uma espectadora de 2024.
O fim é duplamente trágico e triste.
O filme está por aí na internet, tentem encontrá-lo. Sim, é um filme datado, mas de qualidade extraordinária.

15 em 20 para ambos os filmes 


terça-feira, 17 de setembro de 2024

Cold Skin / Isolados (2017)

Em 1914, antes da guerra, um jovem meteorologista chega a uma ilha quase deserta onde deverá passar quatro anos sozinho a fazer medições. O outro habitante da ilha é um faroleiro chamado Gruner, um homem intratável sem interesse em fazer amigos.
O meteorologista tem uma cabana de madeira bastante acolhedora e a ilha é muito bonita, com areia e rochas cinzentas contra o céu azul e a espuma branca do mar. Até apetece lá estar. A primeira noite é calma. Mas na segunda noite a cabana do meteorologista é atacada por uma horda de seres humanóides de pele azul e aparência anfíbia. O meteorologista consegue barricar-se na cave. Como os anfíbios só atacam à noite, passa o dia a entaipar as janelas e a preparar armadilhas. O que consegue com isto, ao ser atacado na noite seguinte, é pegar fogo à própria cabana.
Obviamente vai pedir ajuda ao faroleiro, que podia ser apenas macambúzio e anti-social, mas na verdade é uma autêntica besta que só aceita acolher o meteorologista porque este oferece café, chocolates e munições. Mas a partir daí o faroleiro não esconde que lhe está a fazer um favor e paga-se caro por isso.
Na verdade, o faroleiro sabe bem da presença dos anfíbios, que quase todas as noites atacam o farol. Ele próprio os parece chamar com um flare, e do alto do farol atinge a tiro todos os que apanha. O meteorologista junta-se a ele nestas batalhas nocturnas (até porque Gruner o obriga a participar) mas coloca-lhe a pergunta óbvia: se Gruner sabia o que se passava na ilha, porque não aproveitou o barco que o trouxe para fugir? “Para a civilização?!”, troça Gruner. Não, Gruner quer estar na ilha, sozinho, e quer exterminar todos os anfíbios. Este é um homem em conflito com a civilização, aliás, ambos aceitaram o cargo por qualquer motivo que os fez fugir dela, possivelmente a única coisa que os dois homens têm em comum.
Apesar do seu ódio aos anfíbios, Gruner capturou uma fêmea a quem chama mascote e a quem usa como escrava sexual (isto vai ser perturbador para alguns espectadores), enquanto que o interesse do meteorologista é acima de tudo científico, como homem de erudição do seu tempo em que o darwinismo era apenas conhecido pelas mentes mais instruídas. À medida que o meteorologista conhece a fêmea, a quem chama Aneris, e também os outros anfíbios, vai descobrindo que estes têm uma estrutura social e sentimentos, e embora não tenham tecnologia têm uma cultura e são mais amigáveis do que parecem.
“Cold Skin” é um filme complicado que quer abranger vários tópicos ao mesmo tempo sem conseguir explorar nenhum tão bem como devia. O tema começa por ser Homem vs Monstros como numa história lovecraftiana, mas depressa se torna em Homem vs Homem, se não mesmo em Homem vs Civilização ou Homem vs Ele Próprio. Pode ser um filme sobre a arrogância do homem branco e colonizador perante uma cultura “inferior”, como era típico da época. Se considerarmos os anfíbios como animais humanóides muito inteligentes, pode ser um filme sobre a prepotência do ser humano perante a vida animal e a Natureza. Por querer ser isto tudo, “Cold Skin” dá-nos muito em que pensar, nomeadamente em quem é o verdadeiro monstro, mas a história promete mais do que compensa.
Saliento a interpretação de Ray Stevenson (de “Rome”, “Dexter”, “Black Sails”, “Vikings” e “Das Boot”) que já não se encontra entre nós. Recordo sempre Ray Stevenson em papéis de vilão ou anti-herói, mas aqui, utilizando o seu corpanzil intimidante e a cabeleira desgrenhada, o homem mete medo.

13 em 20


domingo, 15 de setembro de 2024

Apparition / Aparição (2019)


“Apparition” alega ser baseado em acontecimentos reais e só posso concluir que se refere à primeira parte, aliás, a mais interessante do filme. Um reformatório para rapazes difíceis recorre ao sadismo mais aberrante para os pôr na linha. Depois de ver tantos actos horríveis cometidos por pessoas, especialmente pessoas em posições de poder contra vítimas indefesas, não me custa nada acreditar. Tenho mesmo a certeza de que isto ou semelhante aconteceu algures. Mas o filme não é exactamente um drama.
A brutalidade do director do reformatório e de dois dos guardas chega ao ponto de assassinarem um rapaz que tenta fugir. Para se encobrirem, deduzo, matam outro guarda (que ameaçava expo-los), a governanta e todos os miúdos a seu cargo, colocando as culpas noutro “meliante” (que nunca foi condenado). O reformatório acaba por ser encerrado.
Duas décadas depois, o filho mais velho do director, Derek, tem casamento marcado com Skyler, precisamente a filha do guarda que foi assassinado, e a filha e o filho dos outros dois guardas também andam numa relação pouco séria um com o outro. O filho mais novo do director, Sam, parece-me ter qualquer problema de autismo, mas aparentemente é um génio informático porque consegue criar uma app para contactar os mortos. Sim, leram bem. Ele criou uma app que liga o utilizador a um deus dos mortos esquecido pela civilização, que faz o favor de estabelecer a conexão (e sem cobrar comissões ou roaming!). E é tudo o que nos é dito sobre o funcionamento da app. (Não se riam já, isto fica melhor.)
Um pouco na brincadeira, os outros quatro jovens fingem que alinham e que acreditam na app (por isso o filme se chama APParition, topam?). No entanto, assim que Skyler toca na app, esta leva-a através de GPS exactamente ao reformatório abandonado onde o pai dela foi assassinado.
Os telemóveis ficam sem sinal mas a app continua a funcionar. Sam explica que o telemóvel já não está ligado a uma antena mas “a um espírito”. OK, aqui é que é para rir.
Por pouco nem me dava ao trabalho de escrever esta crítica, mas vou fazê-lo por uma razão. Obviamente que a ideia da app para contactar os mortos (e desta app em particular) é ridícula. Mas às vezes, no género Terror, quando a coisa é bem feita, é preciso desligar alguns neurónios e aceitar o impossível quando a recompensa é suficientemente boa. “The Walking Dead”, por exemplo. Sim, temos de aceitar que os mortos voltam à vida, ponto final, mas em troca assistimos ao desmantelar da civilização e ao regresso da lei do mais forte. Vale a pena. Quando a coisa é mal feita, não vale.
“Apparition” vale a pena? Nem pensar. Mais valia terem feito Skyler ter um sonho com o reformatório que a levasse lá. Não é original mas não é ridículo de morrer a rir.
O filme surpreendeu-me, no entanto. Pensei que isto ia ser mais um adolescentes-assassinados-por-espíritos-vingativos num cenário de casa assombrada, mas, embora se invoque o princípio bíblico de que “os filhos pagam pelos pecados dos pais”, o objectivo final é fazer justiça.
“Apparition” deve ter sido filmado com 300 euros e alguns trocos e roupa emprestada, mas isto não explica a pobreza do enredo em geral, e especialmente não explica a incoerência do final. “Apparition” é daqueles filmes que se vêem para aprender como não contar uma história. Noutro caso, recomendo que se evite.

10 em 20

 

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Fear of Rain / Os Medos de Rain (2021)

Rain é uma adolescente esquizofrénica que acaba de ter um episódio psicótico muito grave que a levou ao hospital depois de ter parado a medicação. De regresso a casa, já medicada, Rain continua a ter alucinações a ponto de não saber o que é real e o que não é, prova de que a medicação não seria a apropriada para o caso dela. Enquanto ainda tenta combater esta confusão, Rain convence-se de que a vizinha do lado (que também é professora na escola de Rain) tem uma menina raptada e presa no sótão. Mas será verdade? E se for verdade, alguém acreditará nela?
Sei que muita gente vai achar que “Fear of Rain” exagera os sintomas da esquizofrenia. Infelizmente não. Há vários tipos de esquizofrenia, dos mais funcionais aos mais graves (como este) e tenho um caso na família que observei de muito perto. A melhor maneira de explicar um episódio psicótico é a mistura da pior bebedeira com o pior pesadelo. No outro dia (isto é, depois de medicada) a pessoa não sabe o que fez, o que se passou, o que pensou, e, como neste caso, que coisas aconteceram mesmo ou que coisas fizeram parte da alucinação. Muitas vezes segue-se a vergonha e a depressão. Gostei que o filme tenha mostrado como os colegas da escola a ostracizavam. Afinal, quem é que se quer dar com “a maluquinha”? Rain faz um amigo novo, um aluno recém-transferido, e chega a duvidar se ele existe. Outra parte importante é o medo de ser institucionalizada. Rain conta as suas suspeitas sobre a menina raptada ao amigo novo, mas não se atreve a ir à polícia com medo de que a internem de vez (o que é uma grande possibilidade).
Infelizmente, percebi a situação com a mãe de Rain logo nos primeiros 30 minutos. Tenho muita experiência com este tipo de filmes, foi só somar dois mais dois. A verdadeira surpresa vem no fim.
Gostei de “Fear of Rain”, sinceramente. Não penso que o filme tenha querido ser um grande dramalhão sobre doença mental mas apenas um thriller da perspectiva de uma narradora não confiável. Como tal, funciona perfeitamente. Só lamento que aquilo que Rain observa com a menina raptada não seja mais extremo, tipo “Mentes Criminosas”, o que faria com que ainda acreditassem menos nela. Mas aqui já sou eu a ser sádica.

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