Quatro astronautas estão a cumprir um turno de dez anos na estação espacial Pangea, um entreposto de abastecimento entre o planeta Terra e Europa Um, a primeira colónia estabelecida no espaço. Ao fim de cinco anos, todos eles apresentam os sintomas patológicos do isolamento, especialmente o capitão, o que leva o médico de bordo a recomendar a rendição da equipa. Antes que isso possa acontecer, a estação é atingida por um forte impacto que danifica partes da nave. Mas o pior é que a equipa perde todo o contacto com a Terra e até com a Estação Espacial Internacional. O médico de bordo consegue ter um vislumbre de uma explosão e fica em estado de choque. Tudo leva a crer que o planeta Terra foi destruído.
Mais do que um filme de ficção científica, que evidentemente é, considero “3022” como mais na categoria da sobrevivência pós-apocalíptica. O enredo podia igualmente passar-se nos pólos, no alto mar, ou em qualquer região na Terra totalmente inóspita à vida. Em suma, estes personagens encaram o facto de que podem ser os últimos sobreviventes da raça humana e que estão completamente sozinhos e dependentes de recursos escassos. Nesta situação adiantará ter mais um dia ou dois de oxigénio e rações?
Inesperadamente, aparece ao largo o vaivém da Estação Espacial Internacional com três tripulantes a bordo, todos eles em péssimo estado. Veterana que sou destas coisas dos enredos pós-apocalípticos lembrei-me logo de um outro, “The Walking Dead”, que nos ensinou que depois de um apocalipse a primeira coisa a temer são os sobreviventes, e não augurei nada de bom.
Escusado será dizer que “3022” é um filme tenso e perturbador. A mim perturbou-me muito algo que não posso revelar, mas que tem a ver com o que aconteceu à Terra. As interpretações são excelentes, e tocou-me especialmente a de Kate Walsh (mãe de Hannah em “13 Reasons Why” que aqui também se angustia pela filha que deixou na Terra quando se candidatou ao longo turno na estação espacial).
Este é um grande filme. Lamento dizer que algumas vezes me perdi “espacialmente” e não percebi exactamente em que parte da nave é que a acção estava a acontecer. Também fiquei na dúvida sobre a posição exacta da estação espacial. Dizem que está a três meses da Terra (o que já é alguma coisa), mas será que a distância permitiria ver o acontecimento na Terra de tão longe, à vista desarmada? Até vi o filme duas vezes para tentar perceber melhor. Por outro lado, sendo uma estação espacial de reabastecimento, porque é que há tanto tempo não vivia ninguém em Europa Um, como é dito? Sendo assim, qual é a necessidade de manter uma estação permanentemente tripulada durante anos? Não faz muito sentido. Também me custa a acreditar que a Estação Espacial Internacional (ou o seu vaivém) tenha escapado a um acontecimento daquele calibre, pela sua proximidade.
Mas tudo isto são detalhes que deixo a quem perceba destas coisas. O importante é o impacto psicológico nos personagens que lentamente começam a perder a sanidade, cada um de sua maneira, de tal forma que não consegui decidir se o que acontece no fim é real ou não passa de uma alucinação. O filme dá-nos (mais) motivos para acreditar na segunda hipótese. Seja como for, o resultado é pessimista seja por que prisma for encarado, a lembrar-me o final de “The Road”.
“3022” aborda o tema de seres humanos que têm de lidar com a sua extinção e como isso os afecta psicologicamente. Como tal, afecta-nos a nós também.
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