domingo, 11 de agosto de 2024

From (2022 - ?)

Há algum tempo disse aqui que tenho tido a sorte de andar a ver algumas séries de terror excelentes, mas são do tipo de enredos em que o terror “acontece aos outros” (o que não é menos interessante). “From” é uma série verdadeiramente assustadora que nos podia acontecer a nós. Também não é o género de medo que nos assalta à noite no escuro, mas depois de cada episódio dou por mim a pensar “Chiça, ainda bem que não sou eu que estou lá!” Desde as primeiras temporadas de “The Walking Dead” que nada me assustava tanto. *
(* E mesmo assim não tinha medo ao ver os episódios de “The Walking Dead”, mas depois tinha pesadelos em que estava fechada numa casa como as da série, e na companhia de estranhos, ainda por cima, completamente cercada por zombies. É claro que isto tem explicações psicanalíticas profundas em que não vou entrar aqui.)
A história de “From” é arrepiante. Uma vila aparentemente normal onde quem entra já não sai de lá. Mas isto não é tudo.
A série começa com uma família em viagem de lazer que encontra uma árvore atravessada na estrada, seguida de um bando de corvos que rodeiam a auto-caravana. Com o caminho impedido, a família decide voltar para trás e procurar a auto-estrada. Vão parar à vila, onde os residentes estão precisamente a terminar um funeral. Pedem direcções para a auto-estrada e o xerife diz-lhes: “Sigam em frente e verão”. O que eles vêem é que por muitas voltas que dêem vão sempre parar à mesma vila. Ainda estão na estrada quando colidem com outro automóvel.
Aqui começa a parte verdadeiramente arrepiante. Os residentes fazem tudo para levar os sinistrados para o interior das casas, explicando que depois do pôr-do-sol monstros saem da floresta e que o único sítio seguro é dentro de casa, onde estão protegidos por um talismã pendurado à porta que impede os monstros de entrar. É claro que os recém-chegados não acreditam em nada disto, até que os monstros realmente aparecem.
Os monstros parecem humanos, passeiam-se pelas ruas desertas, sorriem e batem às portas e às janelas, tentando aliciar os residentes a deixarem-nos entrar. Só que quando entram, estas entidades de aparência humana transformam-se mesmo em monstros que devoram todos os que encontram até ao tutano. A série não se importa de nos mostrar as vítimas com as costelas abertas e vazias, todos os órgãos consumidos.
Os monstros não são os únicos terrores à solta. Um dos grandes perigos é quando as pessoas perdem a sanidade e os deixam entrar. Os residentes mantêm as cortinas corridas a noite toda para não se deixarem iludir.
Episódio a episódio, vamos descobrindo outros mistérios. Por exemplo, as pessoas que foram parar à vila não vieram pelo mesmo percurso nem do mesmo sítio. Pelo contrário, encontraram a árvore atravessada na estrada em vários pontos do país, mas todos encontraram a árvore e os corvos e nunca mais conseguiram sair dali. Jim, o pai da família recém-chegada, descobre que apesar de haver electricidade os fios não estão ligados a nada, que nem sequer são fios eléctricos, apenas cabos de plástico sem nada por dentro. Então, o que é que abastece a vila? Jim é engenheiro e um dos outros sinistrados no acidente do mesmo dia, Jade, é um perito de informática que acabou de vender a sua start-up por milhões de dólares e se preparava para viver a vida à grande. Inconformados, decidem construir uma antena de rádio tentando comunicar com o exterior. Uma voz responde-lhes, mas se calhar não era a voz que pretendiam.
Não vou entrar em mais mistérios, que se adensam de temporada para temporada. Muitos residentes têm teorias: foram parar a um lugar fora do tempo e do espaço, estão na caixa de Schrödinger e são eles o gato; estão a ser alvo de uma experiência militar ou alienígena; e, inevitavelmente, há quem receie que estejam todos mortos no Purgatório ou no Inferno.
Se estas teorias parecem familiares é porque muito de “From” recorda a ilha de “Lost”. Só falta aparecer o “monstro do fumo”, carinhosamente apelidado de Smokey pelos fãs. A sirene que acompanhava Smokey, pelo menos, já por lá apitou.
Mas “From” não é “Lost”. Se “Lost” era misterioso, filosófico, (pseudo)científico, “From" é puro terror. E o terror e os mistérios aumentam de temporada para temporada sem que nos seja dada uma única resposta, pelo contrário, cada mistério traz outros atrás. Isto também não é coincidência. A série foi criada por muitos nomes ligados a “Lost” e até tem um dos seus protagonistas (não direi quem, descubram-no).
O que me leva à segunda razão que me faz ter medo de “From”. Devo ser a única pessoa do mundo que gostou do final de “Lost” (não fui, mas quase) mas admito que a série da ilha nunca nos deu respostas verdadeiramente convincentes a coisa nenhuma. Temo, sinceramente, que “From” esteja igualmente a escavar buracos uns atrás dos outros (um dos quais literal) e que o enredo se torne igualmente tão rebuscado e retorcido que não haja maneira de o endireitar.
Por enquanto é demasiado cedo para dizer. Estou completamente embrenhada na série pelo que ela é e as respostas podem vir depois. Mas que venham, desta vez.
Uma última nota para a música de abertura, uma versão dos Pixies de “Que Sera, Sera” que a princípio detestei mas que acabou por se entranhar. Espero que o significado não seja tão óbvio como a letra da canção, que se pode aplicar a toda a gente em qualquer lado e a vila de “From” é tudo menos “qualquer lado”.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 2 vezes

PARA QUEM GOSTA DE: Lost, The Twilight Zone, The Outer Limits, mistério, terror, zombies, sobrenatural



 

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