Quando se tem um buraco sinistro e malcheiroso na parede que não se deixa tapar não é boa ideia enfiar lá o braço. Mas se se enfiar o braço e se se encontrar lá dentro um colar perdido também não é boa ideia oferecê-lo à namorada.
É assim que começa “Room 203”, antes de duas jovens amigas, Kim e Izzy, se mudarem para o tal apartamento que tem o buraco sinistro na parede. (Na verdade não percebo porque é que o filme se chama “quarto 203” quando na verdade é um apartamento, mas avançando.) Assim que elas chegam, Izzy começa a ter acessos de sonambulismo e aparece no quarto de Kim como se estivesse possuída por qualquer coisa. Certa vez parece-me mesmo que a rapariga estava a sangrar da cabeça (estava escuro) mas elas julgam que foi tudo resultado das bebedeiras que Izzy apanha todas as noites e acabam por nunca falar no assunto. Até ao momento em que é impossível ignorar as coisas estranhas que se passam durante a noite e as visões de Kim relacionadas com o buraco. Kim investiga e descobre que naquele mesmo apartamento já morreram muitos residentes em circunstâncias violentas.
O que eu gostei mais neste filme é que consegue criar uma ambiente tenso e arrepiante desde o início e mantê-lo quase até ao fim sem recorrer a muitos truques de efeitos especiais e maquilhagem, quase sem que aconteça nada, e mesmo assim sentimos que o horrível pode chegar a qualquer momento. Também gostei de ver o filme fugir ao cliché da pessoa imediatamente possuída e fora de si em três tempos. Izzy e Kim têm uma relação de amizade muito forte e isso aparenta tê-la mantido controlada mais tempo, ao contrário das vítimas anteriores. Tudo considerado, chegou para me convencer e prender ao écran.
No entanto, numa análise posterior, há coisas que não fazem sentido e/ou que nunca são explicadas. Aparentemente a presença maligna no apartamento tem a ver com uma seita druida. Ok. Também existe um vitral numa das janelas que aparentemente aprisiona as almas das vítimas. Ok. Mas, pensando bem, não. O apartamento é na América. Costumava ser um prédio de um banco que entretanto foi remodelado para fins residenciais e não pode ter mais de 100 anos. De onde veio o vitral? Foi a seita que o pôs lá? E quando? O vitral tem um aspecto e design muito recente, apesar do motivo medieval. Porquê medieval? Também não sabemos. Estão a insinuar que o vitral, apesar do design recente, é medieval? Que alguém o levou de propósito da Europa para a América? Mas porque é que o vitral (recente ou antigo) foi colocado no último andar de um edifício de escritórios de um banco (pelo menos é tudo o que sabemos)? Porque é que a seita não tentaria arranjar um local mais adequado para sacrifícios humanos? E se foi depois do banco, foi quando exactamente, e porque é que haviam de escolher um edifício em remodelação? Onde é que está essa seita agora, uma vez que aparentemente deixaram o vitral e nunca mais lá voltaram? Ou foram os primeiros residentes a pôr o vitral? E porque é que o fizeram, se é que sabiam o que estavam a fazer, porque foram também as primeiras vítimas? Como é que o vitral e o buraco lá apareceram? Será que isto tudo é já a pensar na prequela?…
Felizmente estas incoerências só me surgiram depois, o que significa que o filme me manteve focada no importante e não me deixou divagar. Contudo, as incoerências estão lá e incomodam posteriormente. A não ser que isto tudo seja mesmo de propósito e já de olho no “Room 2003 - A Prequela”.
Aconselho a quem gosta de filmes de terror que se constroem mais lentamente e sem os truques fáceis do costume, mas sem esperar demais.
13 em 20
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