terça-feira, 28 de maio de 2024

Insidious: Chapter 2 / Insidioso 2 (2013)


Quando comecei a ver este filme perguntei-me se era a sequela daquele que achei histérico em vez de insidioso e que me fez rir quando me queria assustar. E era mesmo!
Por estranho que pareça, o segundo capítulo não é tão mau como o primeiro, o que não é dizer muito porque a fasquia é muito baixa.
Em “Insidious: Chapter 2” a família Lambert continua assombrada, como se percebeu no filme original. Mas desta vez não temos um “miúdo possuído”, temos antes uma espécie de “The Shining” com momentos a lembrar Jack Torrance nos seus piores acessos de violência. Aliás, o filme debruça-se sobre a infância de Josh Lambert, o pai, e as circunstâncias que levaram a mãe dele a pedir ajuda a “especialistas” no sobrenatural (o que nós já sabíamos do primeiro filme, diga-se de passagem).
Não sei quem é que teve a ideia de voltar a incluir os “Caça-Fantasmas” como comic relief, mas, do mal o menos, desta vez são menos ridículos e têm mais piada (mas muito pouca).
“Insidious: Chapter 2” era daqueles filmes desnecessários que não precisavam de ser feitos e, sinceramente, foi uma seca. Fiquei a saber depois que há ainda um “Insidious: Chapter 3”. Deus me valha!

11 em 20

domingo, 26 de maio de 2024

Spiders 3D / Aranhas (2013)

O “animal” aqui reproduzido é anatomicamente incorrecto. O corpo dos aracnídeos tem apenas dois segmentos e não três. Isto parece mais uma aberração de formiga com 8 patas.


Este é o tipo de filme que se odeia… ou se odeia. O título não engana. Um detrito de satélite soviético penetra a atmosfera e cai no metropolitano de Nova Iorque (porque dá sempre jeito que estas coisas aconteçam num subterrâneo) cheio de aranhas alienígenas geneticamente modificadas pelos russos para fins militares.
Obviamente estas coisas crescem a proporções monstruosas e acabam por sair do subterrâneo para explorar, comendo tudo o que apanham, e inclusive levando a melhor a um batalhão militar armado até aos dentes com um carro de combate e uma metralhadora.
O filme tem todos os clichés expectáveis: a família que quer salvar a criança, os pais divorciados que se reconciliam neste objectivo comum, as aranhas que são cada vez maiores. Só fiquei espantada quando a Rainha-Aranha não subiu ao mesmo edifício onde King Kong se empoleirou. Enfim, não se pode ter tudo.
Depreendo que 3D se refira aos efeitos especiais? Se calhar devia mesmo ter visto o filme com óculos apropriados, porque o CGI é tão mauzinho que até custa a crer que alguém queira fazer dele a atracção principal.
Em suma, este é um filme que promete aranhas e dá aranhas. Ninguém pode dizer que foi enganado.

12 em 20

domingo, 19 de maio de 2024

The Haunting of Bly Manor (2020)

A certa altura, um dos personagens diz que esta não é uma história de fantasmas mas sim uma história de amor. Nesse caso, eu diria que não é apenas uma história de amor mas várias histórias de amores e desamores que assombram os vivos e atormentam os mortos.
A história passa-se na Inglaterra rural, nos anos 80, na imponente Bly Manor, uma mansão senhorial do século XVII ou anterior. Dani Clayton é uma jovem professora americana contratada para ser ama/preceptora (ou melhor, au pair, que é mais moderno e mais fino) de duas crianças órfãs em Bly Manor, Flora de 8 anos, e Miles, de 10, cujos pais morreram num acidente no estrangeiro. Pior um pouco, a preceptora que antecedeu Dani suicidou-se no lago da propriedade. Henry Wingrave, o tio de ambos, refugia-se no seu escritório de advogados e bebe dia e noite.
Os miúdos são estranhos. Já nem me refiro à linguagem que utilizam, que parece mais de crianças do século XIX, porque ambos tiveram a educação da mais elevada classe alta britânica, com colégios internos e tudo. Flora parece falar com alguém invisível. Miles tem momentos de conduta completamente inapropriada para a sua idade. Apesar da sua juventude, Dani é uma professora experiente e atribui estes comportamentos aos traumas sofridos pelos dois órfãos, com toda a paciência. Dani, ela própria, traz atrás de si o “fantasma” da culpa pela morte do noivo, que a atormenta a cada instante.
Não estou a cometer nenhum spoiler ao dizer que Bly Manor é completamente assombrada por vários fantasmas que, a princípio, só as crianças conseguem ver. Mas alguns fantasmas, que nem sequer sabem que estão mortos, continuam a interagir com o pessoal da casa como se estivessem vivos sem que ninguém desconfie. Uma das partes mais interessantes da série, confesso, foi tentar adivinhar quem era fantasma ou não, e as próprias crianças fazem bons candidatos. Um dos meus episódios preferidos foi mesmo visto pela perspectiva de um fantasma que não sabe que está morto. O episódio é confuso, misturando o presente, as recordações, as conversas do passado, a estranheza de não se saber onde se está, o que reflecte a confusão (e o estado de negação) que o espírito sente em relação à sua situação.
No entanto, em retrospectiva, podemos perguntar-nos como é que apenas as crianças, e não os adultos, têm conhecimento da assombração mais perigosa de Bly Manor, o espírito vingativo e assassino da antiga proprietária do palacete, uma dama do século XVII que se recusou a morrer e muito menos a abandonar a sua casa de família. Mas isto é facilmente explicado. As crianças são receptivas, os adultos não. Talvez, em 400 anos em que Bly Manor mudou de proprietários, a lenda se tenha esquecido, ou os rumores tenham sido interpretados por mentalidades mais científicas como superstições campestres. Só quando os adultos, em virtude das circunstâncias, se tornam mais receptivos, começam eles também a aperceber-se e até a ver os fantasmas.
“The Haunting of Bly Manor” é uma série baseada em obras de Henry James. Admito que não estou familiarizada com o autor. Dele só li “O Altar dos Mortos” e, apesar do título, o livro nada tem de sobrenatural. É um romance denso e psicológico sobre um homem e uma mulher que se encontram regularmente quando vão acender velas aos mortos e que acabam por travar conhecimento. Um deles descobre que o outro acende velas a um indivíduo que cometeu actos execráveis e fica completamente decepcionado com a pessoa a quem já considerava uma alma-gémea. E é isto, nada de fantasmas excepto as assombrações do passado. “The Haunting of Bly Manor” também tem um episódio chamado “O Altar dos Mortos” vagamente inspirado no romance, mas repleto de elementos sobrenaturais.
Esta não é uma série cheia de horror por todos os cantos, embora baste o ambiente da mansão para ser inquietante o suficiente, mas algumas cenas são bastante assustadoras e podem permanecer connosco. Eu sei que nunca mais vou atravessar um jardim à noite sem olhar para todos os lados.
Ficou um enorme mistério por resolver, contudo: em Bly Manor só existe um cozinheiro, uma jardineira e uma governanta. Quem é que limpa aquelas divisões todas que nem se vê um grão de pó? Nem que a governanta trabalhasse dia e noite (o que não é o caso) conseguiria manter os chãos impecáveis, o pó limpo, as madeiras, os reposteiros, os sofás, os quartos, a cozinha, etc etc, já para não falar das grandes limpezas em profundidade algumas vezes por ano. Acredito menos nisto do que em fantasmas. Foi logo a primeira perplexidade que me veio à cabeça ao ver aquele casarão. Talvez os fantasmas ajudem a limpar? Os vivos não limpam de certeza.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 2 vezes

PARA QUEM GOSTA DE: The Haunting of Hill House, The Haunting, Henry James, Mike Flanagan, fantasmas, casas assombradas


terça-feira, 14 de maio de 2024

The Cave / A Caverna (2005)

Uma equipa de pesquisa julga ter descoberto um rio subterrâneo debaixo das Montanhas dos Cárpatos cuja entrada era protegida por uma igreja remota. A expedição de mergulhadores e alpinistas, com o equipamento mais moderno que existe, depressa descobre que a caverna é habitat de predadores altamente bem adaptados à escuridão.
“A Caverna” é um filme de terror com todos os elementos do género. As personagens começam a morrer antes de lhe conhecermos os nomes. Mas existe uma reviravolta original que não vou revelar e que merece um visionamento mais atento.
Contudo, o filme peca pela realização. Houve momentos em que não consegui perceber o que estava a acontecer, e onde e a quem, o que num filme de terror mata completamente o suspense. Mais profundidade dos protagonistas também não fazia mal nenhum, para nos podermos interessar por eles. Sendo assim, é um filme de terror decente, mas mediano.

13 em 20

 

domingo, 12 de maio de 2024

The Constant Gardener / O Fiel Jardineiro (2005)


Qualquer filme passado em África tem tendência para nos fazer chorar e “O Fiel Jardineiro” não é excepção. A mulher de um diplomata britânico aparece morta na companhia de um amigo e tudo indica que eram amantes, mas Justin Quayle, o marido, não acredita e decide investigar.
Quando se aproxima demais da verdade, começa ele próprio a receber ameaças de morte e a ser afastado dos serviços diplomáticos, mas não desiste. Descobre o que matou a sua esposa: uma enorme conspiração para testar medicamentos contra a tuberculose em pacientes com HIV sem que estes saibam, porque a população é pobre e vulnerável e não tem escolha e poupam-se milhões a testar fármacos perigosos directamente em seres humanos.
Como eu dizia, quando o protagonista visita o Sudão é de partir o coração. Miséria, fome, guerra, morte, escravatura, tudo ali se combina. Ainda não tinha visto este filme mas recomendo vivamente.

15 em 20

domingo, 5 de maio de 2024

Midnight Mass (2021)

Recentemente tenho tido a sorte de assistir a algumas séries fantásticas, mas esta deve ser a melhor de todas. O mais frustrante é que não posso dizer porquê sem cometer spoilers. “Midnight Mass” é daquelas histórias que têm de se ir descobrindo à medida que acontecem para que o espectador possa ir tirando as suas próprias conclusões. No entanto, tenho de incluir um spoiler para que a série não passe despercebida aos amantes de uma coisa de que eu também gosto muito.
“Midnight Mass” foi o projecto mais acarinhado do realizador Mike Flanagan que tentou promovê-lo como filme, série e, na última das hipóteses, depois de muitas rejeições, tencionava publicá-lo em livro. O que só demonstra como a indústria falha em perceber o que nós queremos ver.
A história é muito ao estilo de Stephen King. Numa ilha isolada, uma vila piscatória empobrecida já perdeu a maior parte dos habitantes e está reduzida a 127 residentes. Muitos destes, mas não todos, são católicos fervorosos, mas só ao domingo. As missas diárias em St. Patrick, a igreja da vila, estão praticamente vazias. É assim que encontra a congregação o ainda jovem padre Paul, enviado para substituir o idoso e venerado Monsenhor Pruitt que sofria de demência. O padre Paul está decidido a mudar a situação e dentro em breve começam a acontecer milagres por toda a ilha: uma jovem paralítica volta a andar, os fiéis começam a rejuvenescer e a melhorar de doenças, alguns deixam de precisar dos óculos, uma idosa com Alzheimer tem uma recuperação inexplicável. A missa em St. Patrick enche diariamente. O padre Paul atribui os milagres ao Espírito Santo, mas será mesmo Deus quem está a fazê-los? Não passado muito tempo, o xerife da vila começa a receber participações de pessoas desaparecidas.
O início da série é lento e nos dois primeiros episódios parece que não está a acontecer nada de relevante, mas nos bastidores já está tudo em marcha. Aos espectadores mais impacientes garanto que a carnificina virá, e ainda mais significante porque tivemos tempo de conhecer os personagens e os seus dramas. “Midnight Mass” tem uma forte componente dramática e filosófica e alguns personagens menos crentes fazem discursos brilhantes do ponto de vista não religioso sobre o que acontece depois da morte. O que é, aliás, o tema fundamental da série: um estudo sobre o que a morte significa para nós, para Deus, para os religiosos e os ateus; de que forma encontrar consolação quando não se acredita num Além? Estas conversas e monólogos são sempre interessantes e dão peso ao que se vai seguir.
A congregação de St. Patrick não se debate com estas dúvidas existenciais. Mesmo quando as coisas se tornam estranhas, até do ponto de vista litúrgico, os fiéis acreditam no que querem acreditar. Ofuscados pelo carisma do padre Paul e pelos milagres que vêem acontecer à sua frente, já não são a Igreja Católica: são um autêntico culto. O que acontece depois é fortemente inspirado no massacre de Jim Jones e igualmente chocante. Por esta altura até o padre Paul já tinha perdido o controlo da situação, quando a sacristã (?) Bev toma as rédeas do culto, com capangas e tudo.
Ao contrário do que possa parecer, “Midnight Mass” não é uma história anti-religião. Por muito ingénuo, inocente ou movido por uma fé cega (não obstante tocar o fanatismo), o padre Paul acreditou sempre no que dizia e na origem divina dos dons distribuídos por Deus aos fiéis. (Um trabalho fantástico do actor Hamish Linklater, a quem eu não conhecia.) Acreditou demais e com demasiado optimismo, na verdade, pois até a Bíblia adverte contra os “milagres operados por meio de demónios”, assunto em que a Igreja Católica é bastante versada. Mais uma vez, os fiéis acreditam no que querem acreditar.
A conclusão última de “Midnight Mass” é de que há pessoas religiosas boas e más como em todo o lado. Alguns, crentes ou não, mesmo depois de transformados em demónios ou à beira da morte, preferiram pôr termo à vida em vez de se tornarem monstros. Nesse aspecto o padre Paul tinha razão: nunca é tarde para a redenção.
Acabo numa nota menos séria. Quando nasceu o sol, a sacristã Bev teve a ideia certa… mas não foi a tempo. Devia ter lido mais Anne Rice.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: muitas vezes

PARA QUEM GOSTA DE: Stephen King, Mike Flanagan, cultos, vampiros, drama, filosofia