Esta Lua revela uma predisposição para as crises existenciais, para a depressão e angústia, ou mesmo tendências autodestrutivas. (...) Predispõe ainda o indivíduo à obsessão pela morte, mas, curiosamente, sem medos nem rejeições: sente um estranho fascínio por essa "viagem", que considera como uma espécie de caminho de iniciação espiritual.
In "Boa Estrela", Setembro
Se isto não é a definição da alma gótica, daquele "sentir" que inspirou artistas e assombrou infelizes desde que o mundo é mundo, muito antes da música, muito antes das roupas e do que somos hoje, então não sei o que é. Para mim, ser uma alma gótica é ser isto.
sábado, 27 de outubro de 2007
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
A morte moderna
E voltamos a falar na morte.
Há pouco tempo soube da morte de um amigo, mas soube tarde e a más horas. Temos a tendência para pensar que algumas pessoas que desaparecem das nossas vidas estão em todo o lado menos mortas porque são muito novas para morrer. Essa é uma das perplexidades da morte. Nunca se é muito novo para morrer. O dia em que se nasce é um dia mais próximo Dela.
Mas hoje não quero falar da eterna perplexidade da morte mas sim da morte moderna.
Da última vez que fui a um funeral foi por um vizinho idoso a quem tinha apreço. Lembro-me que tive de pedir autorização no trabalho e de me olharem de lado como se fosse uma extravagância, um mimo, uma ida ao cabeleireiro. Pedir dispensa do trabalho para ir a um funeral? Não podia ir ao funeral no fim de semana? E mesmo assim tive sorte. Na condição precária em que me encontro, actualmente só poderia ir à noite ao velório. Acompanhar o defunto à última morada à hora de expediente é que não. O morto que morresse ao sábado.
Isto faz-me impressão, confesso que faz. Seriam vinte pessoas naquele funeral, no funeral de um homem idoso que deve ter conhecido tanta gente ao longo da vida. Até se pensaria que era uma peste. Só uma peste merece ter um funeral de vinte pessoas. Achava eu.
Comecei a pensar no assunto, porque a morte é daquelas coisas que não me saem da cabeça, quando percebi que se um amigo chegado morresse ia ter muitos problemas para ir ao funeral. A lei laboral só contempla essa "benesse" para a família. Ao funeral dos amigos não se pode ir.
E depois pensei como as coisas mudaram com o progresso. Antes, quando Lisboa era ainda uma aldeia de pequenos bairros, e morria alguém lá da rua, nem se pensava pedir ao patrão para ter dispensa para ir ao funeral. Que raio! Fechava a mercearia, fechava a farmácia, fechava o sapateiro, punham a gravata preta e iam todos ao funeral. E depois voltavam, todos, mesmo todos, para os seus afazeres. Não falo do século passado. Falo de coisas tão presentes como os anos oitenta. A partir daí, o progresso ditou que os moribundos fossem para o hospital e os mortos se enterrassem sozinhos. É isto progresso?, pergunto ingenuamente. É isto que se faz nos países desenvolvidos?
Se a minha indignação pega, ainda vamos ter funerais depois das seis. Ou de noite. Faltar ao trabalho para ir ao funeral de um amigo é que não. Com os mortos que vão os velhos, que é o sítio deles. As crianças estão na escola e os novos estão a trabalhar. Não há tempo para enterrar os mortos. Toca a andar, sempre a correr. Isto é que é o progresso? Que honra está na vida quando se rouba a dignidade à morte?
Estranhos tempos, estes. Tempos de guerra, tempos de peste, tempos das mais terríveis trevas. Os vivos estão mortos e não sabem.
Há pouco tempo soube da morte de um amigo, mas soube tarde e a más horas. Temos a tendência para pensar que algumas pessoas que desaparecem das nossas vidas estão em todo o lado menos mortas porque são muito novas para morrer. Essa é uma das perplexidades da morte. Nunca se é muito novo para morrer. O dia em que se nasce é um dia mais próximo Dela.
Mas hoje não quero falar da eterna perplexidade da morte mas sim da morte moderna.
Da última vez que fui a um funeral foi por um vizinho idoso a quem tinha apreço. Lembro-me que tive de pedir autorização no trabalho e de me olharem de lado como se fosse uma extravagância, um mimo, uma ida ao cabeleireiro. Pedir dispensa do trabalho para ir a um funeral? Não podia ir ao funeral no fim de semana? E mesmo assim tive sorte. Na condição precária em que me encontro, actualmente só poderia ir à noite ao velório. Acompanhar o defunto à última morada à hora de expediente é que não. O morto que morresse ao sábado.
Isto faz-me impressão, confesso que faz. Seriam vinte pessoas naquele funeral, no funeral de um homem idoso que deve ter conhecido tanta gente ao longo da vida. Até se pensaria que era uma peste. Só uma peste merece ter um funeral de vinte pessoas. Achava eu.
Comecei a pensar no assunto, porque a morte é daquelas coisas que não me saem da cabeça, quando percebi que se um amigo chegado morresse ia ter muitos problemas para ir ao funeral. A lei laboral só contempla essa "benesse" para a família. Ao funeral dos amigos não se pode ir.
E depois pensei como as coisas mudaram com o progresso. Antes, quando Lisboa era ainda uma aldeia de pequenos bairros, e morria alguém lá da rua, nem se pensava pedir ao patrão para ter dispensa para ir ao funeral. Que raio! Fechava a mercearia, fechava a farmácia, fechava o sapateiro, punham a gravata preta e iam todos ao funeral. E depois voltavam, todos, mesmo todos, para os seus afazeres. Não falo do século passado. Falo de coisas tão presentes como os anos oitenta. A partir daí, o progresso ditou que os moribundos fossem para o hospital e os mortos se enterrassem sozinhos. É isto progresso?, pergunto ingenuamente. É isto que se faz nos países desenvolvidos?
Se a minha indignação pega, ainda vamos ter funerais depois das seis. Ou de noite. Faltar ao trabalho para ir ao funeral de um amigo é que não. Com os mortos que vão os velhos, que é o sítio deles. As crianças estão na escola e os novos estão a trabalhar. Não há tempo para enterrar os mortos. Toca a andar, sempre a correr. Isto é que é o progresso? Que honra está na vida quando se rouba a dignidade à morte?
Estranhos tempos, estes. Tempos de guerra, tempos de peste, tempos das mais terríveis trevas. Os vivos estão mortos e não sabem.
Cenas aterradoras
Hoje vou improvisar. Movida pela comentadora Penemue, que neste post falou "das mais aterradoras cenas alguma vez apresentadas em celulóide", aqui vão algumas das minhas "preferidas", aquelas que se "vêem" no escuro...
1. O Exorcista (1973) A miúda a rodar a cabeça 360 graus.
2. Night of the Living Dead (1968) Filme a preto e branco. Um casal que viaja de carro, ao fim da tarde, faz uma paragem à beira da estrada e vê um homem aproximar-se deles, a cambalear. A mulher comenta que deve estar doente e precisa de ajuda. Quando lhe tenta dar a mão, a criatura agarra-a e rosna. É um zombie.
3. The Howling (1981) Filme de lobisomens que podem transformar-se em lobos quando querem, não apenas na Lua Cheia e também durante o dia. A certa altura, uma das vítimas ouve um barulho fora de casa, em plena tarde solarenga. Quando a personagem se afasta, vê-se projectada na parede, através da janela aberta, a sombra de um lobisomem gigante.
4. The Haunting (1963) Filme a preto e branco.
Primeira cena: Duas mulheres estão deitadas no mesmo quarto, em camas separadas. Antes de adormecer, conversam sobre as suas vidas. Uma delas continua a desabafar sem se aperceber que a companheira já tinha adormecido. Pede-lhe que lhe aperte a mão porque tem medo. Pouco depois, queixa-se que a outra lhe está a agarrar a mão com demasiada força. A mulher adormecida acorda com os gritos, acende a luz, e ambas percebem que outra coisa estivera com elas no quarto.
Segunda cena: Fortes pancadas no tecto. Pancadas tão fortes que deixam marcas por onde passam. Aterrorizados, os presentes na sala nem abrem a boca. As pancadas dirigem-se para a porta. Batem na porta, ameaçam deitar a porta a abaixo. A porta de madeira maciça estica, como se fosse feita de borracha e estivesse prestes a romper-se. As pancadas cessam com o aproximar de mais pessoas. Quando abrem a porta, nada de sobrenatural. Nada de nada.
1. O Exorcista (1973) A miúda a rodar a cabeça 360 graus.
2. Night of the Living Dead (1968) Filme a preto e branco. Um casal que viaja de carro, ao fim da tarde, faz uma paragem à beira da estrada e vê um homem aproximar-se deles, a cambalear. A mulher comenta que deve estar doente e precisa de ajuda. Quando lhe tenta dar a mão, a criatura agarra-a e rosna. É um zombie.
3. The Howling (1981) Filme de lobisomens que podem transformar-se em lobos quando querem, não apenas na Lua Cheia e também durante o dia. A certa altura, uma das vítimas ouve um barulho fora de casa, em plena tarde solarenga. Quando a personagem se afasta, vê-se projectada na parede, através da janela aberta, a sombra de um lobisomem gigante.
4. The Haunting (1963) Filme a preto e branco.
Primeira cena: Duas mulheres estão deitadas no mesmo quarto, em camas separadas. Antes de adormecer, conversam sobre as suas vidas. Uma delas continua a desabafar sem se aperceber que a companheira já tinha adormecido. Pede-lhe que lhe aperte a mão porque tem medo. Pouco depois, queixa-se que a outra lhe está a agarrar a mão com demasiada força. A mulher adormecida acorda com os gritos, acende a luz, e ambas percebem que outra coisa estivera com elas no quarto.
Segunda cena: Fortes pancadas no tecto. Pancadas tão fortes que deixam marcas por onde passam. Aterrorizados, os presentes na sala nem abrem a boca. As pancadas dirigem-se para a porta. Batem na porta, ameaçam deitar a porta a abaixo. A porta de madeira maciça estica, como se fosse feita de borracha e estivesse prestes a romper-se. As pancadas cessam com o aproximar de mais pessoas. Quando abrem a porta, nada de sobrenatural. Nada de nada.
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Uma semana sem internet
Por motivos de avaria no computador, vivi uma semana sem internet. Para quem tem banda larga há quatro anos, foi uma provação que ultrapassei mais facilmente do que pensava. Mesmo assim, foi doloroso. Devo mesmo admitir que as noites de quatro canais sem televisão de jeito foram anestesiadas pelas horas passadas de volta da máquina, a tentar restaurar a minha ligação ao mundo, qual alma penada que se esforça por abrir um canal de comunicação com os vivos.
À falta de séries e filmes de qualidade (quatro canais... nada de jeito) sobrepôs-se uma secura de notícias e opinião imparcial que até doía. Imaginei-me a viver assim, toda a vida, como a maioria dos portugueses que nem sonham do que fervilha na internet, sedada em estado comatoso por novelas da TVI, reality shows, reality telejornais e reality concursos da treta onde se escreve jasmim com "n" (jasmin, à inglesa) e girassol com apenas um "s" (girazol?). E futebol, muito futebol, e muito governo a dizer todos os dias a toda a hora que o país está a progredir, enquanto à socapa se vão passando notícias de que o desemprego aumenta, o endividamento não é preocupante, é chocante!!!, e o país se afunda. Apercebi-me, eu, que tenho acesso a um quociente de inteligência acima da média (mas bem tento acabar com ele, juro, mea culpa, mea culpa!) e à autoestrada da informação, do pouco que um português típico fica a saber do que se passa. Os coitados só percebem quando lhes bate à porta. E como ainda por cima o português tem a mania de fingir que está sempre bem na vida e cheio de dinheiro, nem entre "amigos" se confessa o real estado do sítio, a não ser quando a miséria é tão grande que nem os amigos acreditam.
E depois há outros problemas. Há empregos a manter. Há que calar a boca.
É por isso que artigos de opinião como estes, no jornal gratuito que é o Metro, são um bálsamo para a alma. Infelizmente, a maioria das pessoas prefere fazer o sudoku ao lado da crónica, o que é lamentável. Vale a pena ler José Júdice às quartas feiras, embora o apelido do senhor me faça imediatamente torcer o nariz (reflexos condicionados de repulsa perante a consanguinidade das "elites" do país). Ora vejam.
Sim, sei que é mais um a dizer o mesmo, e num estilo tão irónico e sinuoso que apenas os abençoados com dois neurónios (porque a maioria só tem um) apanham o significado. Mas atentem nestas palavras:
"Se em Portugal não há uma 'riqueza intangível', é porque alguém a meteu no bolso, como já se mete a outra riqueza, a tangível. É por isso que a corrupção nos rouba duplamente".
Não sei quando começou mas suspeito que foi por altura do declínio e queda da nação pós-Descobrimentos, das quais ando aqui a tentar descobrir as causas já que desisti de lhe procurar cura para os efeitos. A certa altura esta elite de gente que casa entre famílias a um ponto de consanguinidade, ou a classe dos tios, como lhe chama o Hora Absurda, percebeu que a única maneira de pôr os idiotas congénitos que geravam à frente dos negócios de família era ter uma horda de gente semi-inteligente a trabalhar às suas ordens. Mas, atenção, gente não muito inteligente que ofuscasse completamente o idiota com o seu brilho. Gente apenas menos idiota que o idiota primogénito, que não tropeçasse na sua própria pastilha elástica. Os cérebros, os verdadeiros talentos, eram para abater logo, de preferência na escola primária. Aliás, todo o processo educativo em Portugal se destina a identificar estas potenciais ameaças ao domínio dos idiotas. Para isso promovem-se semi-idiotas que vão dando conta do recado, marionetas babadas porque afinal, e pela primeira vez na vida, se sentem inteligentes e recompensados. Como o Sócrates.
Pensemos no que liam os idiotas e os semi-idiotas no tempo de vida de Fernando Pessoa. Não sei o que liam, mas certamente não era Fernando Pessoa mas um semi-idiota promovido a bobo da corte do momento. Inteligências geniais como Fernando Pessoa, apesar de empregado de escritório e tudo, eram uma ameaça demasiado grande. Haviam de ser lidos, sim, mas depois de morrerem.
Até aqui, parece que o sistema funciona. Os príncipes idiotas governam nesta monarquia de ser filho-de-tal, fidalgo, portanto, e os semi-idiotas os servem. Até ao momento em que é preciso alguém inteligente para resolver problemas. E olhem, pasmem!, não há! O que temos em vez disso? Sócrates e Menezes. Com um pouco de sorte, ainda Pinto da Costa há-de ir a Presidente da República.
Quando disse aqui, muitas vezes, que se premeia a mediocridade, confesso que era um recurso estilístico, a hiperbole, que estava a utilizar. Claro que não se premeia a mediocridade. Premeia-se a semi-mediocridade, conhecida no nosso país pelo termo "chico-esperto". Nunca um chico-esperto inventou uma lâmpada. No máximo, roubou a ideia e vendeu-a. No momento em que não há ninguém a inventar nada, devido ao esmagamento de cérebros, os chico-espertos não têm nada para vender. Claro que os chico-espertos não conseguem ver tão longe. E os príncipes herdeiros idiotas também não gostam de ouvir estas coisas, que é preciso alguém com ideias, porque ficam nervosos e agitados e atiram cocó aos servos mais chegados, por isso é melhor nem tocar no assunto, que, é como quem diz, tocar na merda.
Quando José Júdice diz que meteram a riqueza intangível no bolso, está a usar outro recurso estilístico que é o eufemismo. Se a tivessem metido no bolso, tinham-na preservado. Quem a mete no bolso são os países que dão bolsas de estudo aos cérebros mundiais porque reconhecem que génios há poucos. Aqui o que se faz é mesmo deitar cérebros pela pia abaixo. Um dia até os idiotas vão ficar às escuras, e vão querer lâmpadas, e não as vão ter. É tão simples como isso.
À falta de séries e filmes de qualidade (quatro canais... nada de jeito) sobrepôs-se uma secura de notícias e opinião imparcial que até doía. Imaginei-me a viver assim, toda a vida, como a maioria dos portugueses que nem sonham do que fervilha na internet, sedada em estado comatoso por novelas da TVI, reality shows, reality telejornais e reality concursos da treta onde se escreve jasmim com "n" (jasmin, à inglesa) e girassol com apenas um "s" (girazol?). E futebol, muito futebol, e muito governo a dizer todos os dias a toda a hora que o país está a progredir, enquanto à socapa se vão passando notícias de que o desemprego aumenta, o endividamento não é preocupante, é chocante!!!, e o país se afunda. Apercebi-me, eu, que tenho acesso a um quociente de inteligência acima da média (mas bem tento acabar com ele, juro, mea culpa, mea culpa!) e à autoestrada da informação, do pouco que um português típico fica a saber do que se passa. Os coitados só percebem quando lhes bate à porta. E como ainda por cima o português tem a mania de fingir que está sempre bem na vida e cheio de dinheiro, nem entre "amigos" se confessa o real estado do sítio, a não ser quando a miséria é tão grande que nem os amigos acreditam.
E depois há outros problemas. Há empregos a manter. Há que calar a boca.
É por isso que artigos de opinião como estes, no jornal gratuito que é o Metro, são um bálsamo para a alma. Infelizmente, a maioria das pessoas prefere fazer o sudoku ao lado da crónica, o que é lamentável. Vale a pena ler José Júdice às quartas feiras, embora o apelido do senhor me faça imediatamente torcer o nariz (reflexos condicionados de repulsa perante a consanguinidade das "elites" do país). Ora vejam.
Sim, sei que é mais um a dizer o mesmo, e num estilo tão irónico e sinuoso que apenas os abençoados com dois neurónios (porque a maioria só tem um) apanham o significado. Mas atentem nestas palavras:
"Se em Portugal não há uma 'riqueza intangível', é porque alguém a meteu no bolso, como já se mete a outra riqueza, a tangível. É por isso que a corrupção nos rouba duplamente".
Não sei quando começou mas suspeito que foi por altura do declínio e queda da nação pós-Descobrimentos, das quais ando aqui a tentar descobrir as causas já que desisti de lhe procurar cura para os efeitos. A certa altura esta elite de gente que casa entre famílias a um ponto de consanguinidade, ou a classe dos tios, como lhe chama o Hora Absurda, percebeu que a única maneira de pôr os idiotas congénitos que geravam à frente dos negócios de família era ter uma horda de gente semi-inteligente a trabalhar às suas ordens. Mas, atenção, gente não muito inteligente que ofuscasse completamente o idiota com o seu brilho. Gente apenas menos idiota que o idiota primogénito, que não tropeçasse na sua própria pastilha elástica. Os cérebros, os verdadeiros talentos, eram para abater logo, de preferência na escola primária. Aliás, todo o processo educativo em Portugal se destina a identificar estas potenciais ameaças ao domínio dos idiotas. Para isso promovem-se semi-idiotas que vão dando conta do recado, marionetas babadas porque afinal, e pela primeira vez na vida, se sentem inteligentes e recompensados. Como o Sócrates.
Pensemos no que liam os idiotas e os semi-idiotas no tempo de vida de Fernando Pessoa. Não sei o que liam, mas certamente não era Fernando Pessoa mas um semi-idiota promovido a bobo da corte do momento. Inteligências geniais como Fernando Pessoa, apesar de empregado de escritório e tudo, eram uma ameaça demasiado grande. Haviam de ser lidos, sim, mas depois de morrerem.
Até aqui, parece que o sistema funciona. Os príncipes idiotas governam nesta monarquia de ser filho-de-tal, fidalgo, portanto, e os semi-idiotas os servem. Até ao momento em que é preciso alguém inteligente para resolver problemas. E olhem, pasmem!, não há! O que temos em vez disso? Sócrates e Menezes. Com um pouco de sorte, ainda Pinto da Costa há-de ir a Presidente da República.
Quando disse aqui, muitas vezes, que se premeia a mediocridade, confesso que era um recurso estilístico, a hiperbole, que estava a utilizar. Claro que não se premeia a mediocridade. Premeia-se a semi-mediocridade, conhecida no nosso país pelo termo "chico-esperto". Nunca um chico-esperto inventou uma lâmpada. No máximo, roubou a ideia e vendeu-a. No momento em que não há ninguém a inventar nada, devido ao esmagamento de cérebros, os chico-espertos não têm nada para vender. Claro que os chico-espertos não conseguem ver tão longe. E os príncipes herdeiros idiotas também não gostam de ouvir estas coisas, que é preciso alguém com ideias, porque ficam nervosos e agitados e atiram cocó aos servos mais chegados, por isso é melhor nem tocar no assunto, que, é como quem diz, tocar na merda.
Quando José Júdice diz que meteram a riqueza intangível no bolso, está a usar outro recurso estilístico que é o eufemismo. Se a tivessem metido no bolso, tinham-na preservado. Quem a mete no bolso são os países que dão bolsas de estudo aos cérebros mundiais porque reconhecem que génios há poucos. Aqui o que se faz é mesmo deitar cérebros pela pia abaixo. Um dia até os idiotas vão ficar às escuras, e vão querer lâmpadas, e não as vão ter. É tão simples como isso.
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The Ring I (2002), II (2005) e "Ringu" (original japonês, 1998)
Ao ver na televisão a versão japonesa original de 1998, "Ringu" do recente mas clássico "The Ring", tive curiosidade em espreitar o remake de Hollywood. Pode-se com toda a justiça dar o crédito a quem de direito, mas até agora ainda não vi um filme japonês dominar a técnica do cinema de terror. Técnica que não é, ressalvo, exclusiva da meca do cinema. O Reino Unido e outros países europeus já apresentaram séries e filmes que funcionam, ao seu estilo, tão eficientemente como os dos americanos. (Só a título de exemplo, recordo-me assim de repente da excelente série "Riget"/"O Reino", do dinamarquês Lars von Trier, em 1994.) Também não estou a dizer que não existam bons exemplos nipónicos; eu é que ainda não os vi e por isso ainda não me convenceram.
Por falar em filmes de terror japoneses, aguardo ansiosamente a versão americana de "Death Note", 1 e 2, porque por muito interessante e original que a ideia possa ser, os japoneses parecem ter gosto em desperdiçá-la numa série de graçolas infantis e frustrantes como sexo sem orgasmo.
"Ringu", o japonês, tem de facto um elemento arrepiante, admito, quando o fantasma sai da televisão e ataca os espectadores em casa. Não, dessa não estava verdadeiramente à espera. Se ao menos todo o filme se mantivesse a esse nível... O surpreendente nem sequer é o facto de o fantasma sair da televisão, mas a imprevisibilidade da coisa. Já o velinho "Poltergeist" do avô Spielberg brincava com o poder da caixa mágica, explorando a magia de transportar uma menina para o outro lado do écran e trazê-la de volta, mas no filme de Spielberg a coisa tornava-se tão ridícula que nem metia medo a ninguém.
Pecado mortal de um filme de terror: cair no ridículo. Causar gargalhadas, então, devia fazer um realizador perceber que tem dons de comediante e dedicar-se àquilo para que nasceu.
"The Ring II", apesar da (justificada) má fama das sequelas, é um filme que se descola do enredo original e cria um novo universo de incerteza a que se assiste com prazer. Infelizmente, o final cai no ridículo e nem sequer faz rir. Quem disse aos novos realizadores de Hollywood que as regras (ou ausência delas) do surrealista David Lynch se aplicam aos filmes de terror está muito enganado. Parece que é uma tendência recente (e, para mal dos nossos pecados, crescente), isto de acabar os filmes sem um nexo lógico como no tão falado "The Fountain", a atirar-se todo para um "2001 Odisseia no Espaço".
Nisto falha também, e de que maneira, o final de "The Ring II", como se alguém depois daquele fiasco ainda se pudesse lembrar da miúda do filme quando passar para dentro da televisão e dela para fora é tão fácil como acordar de um pesadelo. Se é fácil, se não dói, não mete medo.
O problema de "The Ring", os três, é que não é dignificante entregar um fantasma tão bom a realizadores tão maus. Por isso alguém devia simplesmente acabar com o martírio e dar um pente à miúda porque andar tantos anos com o cabelo a tapar a cara faz mal aos olhos.
Na Suécia, dependência de heavy metal é uma doença
In Blitz:
Não me admira. Eu sempre disse que o metal não faz bem à cabeça.
Homem consegue pensão de €400 por ser dependente de estilo musical.
Segundo uma notícia avançada pelo jornal espanhol El Mundo, o estado sueco catalogou a dependência de heavy metal de um indivíduo de 42 anos como invalidez e atribuiu-lhe uma pensão mensal de €400. Roger Tullgren foi considerado por um juíz de Hasslehölm como incapaz de desempenhar o seu trabalho sem intensivas sessões de metal, o que o impede de realizar as tarefas que lhe são encomendadas.
Em 2006, o cidadão sueco assistiu a mais de 300 concertos heavy e foi despedido pelo patrão por faltar demasiado ao emprego. Há 10 anos que Tullgren tentava arranjar um estatudo de invalidez psicológica e agora finalmente três psicólogos ajudaram a confirmar a doença. A solução encontrada pelo juíz foi atribuir uma pensão para compensar o tempo que Tullgren não poderá trabalhar (um part-time é obrigatório).
Segundo um documento que lhe foi entregue, «Roger sente o impulso de mostrar o seu estilo heavy metal. Isto dificulta a sua situação no mercado laboral. Por isso, precisa de ajuda financeira adicional». Assim, diz Tullgre, «quando for a uma entrevista de trabalho posso ir vestido normalmente e apresentar este documento ao entrevistador».
MRV, Segunda 8, às 13:04
Não me admira. Eu sempre disse que o metal não faz bem à cabeça.
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