A velhice é aterradora. Quando associada à demência é ainda mais aterradora. Até certa altura estava convencida de que era isso que este filme de M. Night Shyamalan estava a querer dizer… mas a história é mais arrepiante. Há muito tempo que não via um filme tão assustador.
Dois adolescentes, cuja mãe não fala com os pais há uns 20 anos, decidem aceitar um convite dos avós para irem conhecê-los. A mãe não vai com eles porque saiu de casa durante uma discussão violenta e não consegue perdoar os pais.
Becca, de 15 anos, e Tyler, de 13, decidem fazer um documentário da visita. Todas as filmagens são feitas pelas câmaras amadoras dos miúdos, o que dá ao filme um toque “Blair Witch”. Na minha opinião esta técnica é indiferente neste caso e o filme resultaria igualmente com uma câmara convencional.
A princípio a visita é completamente normal para o que seria expectável. A avó gosta de cozinhar bolinhos, o avô entretém-se a partir lenha para a lareira. Os idosos deitam-se às 21h30, o que também não é incomum para gente dessa idade. Os miúdos não ficam nada satisfeitos, mas é apenas uma semana. Os avós apresentam algumas peculiaridades, mas nada que não possa ser explicado pela perda de faculdades inerentes à idade. Até perante as bizarrias mais extravagantes, os miúdos continuam a dar o benefício da dúvida.
O que não é normal são os ruídos que eles começam a ouvir depois das 21h30. Os ruídos são tão estranhos que os miúdos abrem a porta do quarto e descobrem a avó toda nua, a correr pela casa, a grunhir como um animal, ou a andar de gatas pelo chão. O avô explica que a avó é afligida por um tipo de demência chamado Sundowning que a afecta de noite e que o melhor é que eles não saiam do quarto depois das 21h30. O miúdo comenta que é como “viver com um lobisomem”.
Na verdade os miúdos têm muita paciência e vontade de conhecer os avós, até que os acontecimentos se tornam tão insólitos que eles decidem deixar uma câmara escondida. Mas a avó descobre a câmara, e o que eles vêem gravado no dia seguinte (que eu não vou dizer porque é um spoiler) seria o suficiente para a rapariga mais velha pegar no irmão e fugir dali para fora para a povoação mais próxima, a correr pelos bosques para que os idosos não conseguissem alcançá-los, para apanhar um táxi ou um comboio para casa, ou até mesmo ir à polícia. Mas os avós são velhos mas não são parvos e empatam-nos para que estes não fujam. Neste momento os miúdos já sabem que correm risco de vida.
A cena do forno é absolutamente arrepiante, uma coisa de conto de fadas, Hansel e Gretel, em que a avó pede à neta que se meta TODA dentro do forno para a “ajudar a limpar”, o que a miúda faz porque é boazinha. (Havia de ser comigo! Dizia logo à velha para que é que queria um forno tão fundo só para duas pessoas, se aquilo era alguma padaria, como é que ela limpava quando EU não estava lá, que a velha era muito mais pequena do que eu, ou porque é que ela não contratava ajuda? A mim ninguém me apanha num forno, muito menos uma gaja que só conheço há dois dias, porque eu não sou boazinha! Mais depressa ia a velha parar ao forno.)
Como disse a princípio, há muito tempo não via um filme tão assustador. Lamento não poder explicar melhor o que me deixou de cabelos em pé para não incorrer em spoilers. Vão ter de confiar em mim. Mas nunca confiem em ninguém que vos mande enfiar num forno!
20 em 20
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