domingo, 2 de abril de 2023

I Still See You / Sei Que Estás Aqui (2018)

[contém alguns spoilers]

Para começar, é um filme do canal SyFy, com tudo o que isso implica. Mas a premissa é interessante. Na sequência do colapso de um acelerador de partículas (como o CERN) muitas pessoas morrem porque são directamente atingidas. Mas este “evento” provoca igualmente uma situação inesperada: o aparecimento de fantasmas, por toda a cidade, de pessoas mortas há muito mais tempo. Na verdade, não são bem fantasmas como os conhecemos. São “resquícios” de energia, não comunicativos, inofensivos, presos num loop em que repetem determinada acção vez após vez todos os dias à mesma hora: a senhora que atravessa a rua, o homem que varre o pátio, o pai da protagonista (morto no colapso) que todas as manhãs lê o jornal ao pequeno-almoço. Quando o loop acaba, os fantasmas desvanecem-se.
Mais interessante ainda. À medida que alguém se aproxima do epicentro do colapso, os fantasmas são provenientes de épocas muito distintas, todos eles a cruzarem-se uns com os outros e com os vivos sem interagirem com ninguém. Como diz a protagonista, é como viver numa casa assombrada, só que à escala de uma cidade inteira.
Há teorias científicas por trás disto: os multiversos, as dimensões paralelas que podem ou não existir em simultâneo. Duvido é que estas dimensões sejam povoadas por resquícios energéticos de gente falecida, mas vamos aceitar a fantasia.
Na verdade, a suposta ficção científica começa e termina aqui. Depressa a protagonista parece ser perseguida, ou avisada, por um fantasma que lhe aparece em casa e que não estava lá antes, e que lhe escreve no espelho: FOGE.
A partir deste momento, o filme torna-se bizarro. Um pai, a quem a filha morreu como consequência do colapso, começa a matar raparigas da mesma idade na tentativa de trazer a filha de volta aos vivos (?), sem que nada de científico ou sobrenatural, ou nada de nada, o aponte como possível. Enfim, completamente doido. A protagonista teve o azar de nascer a 29 de Fevereiro, data de nascimento da tal outra rapariga, e o assassino convence-se de que vai conseguir “enfiar” o fantasma da filha no corpo da substituta se esta morrer. Como? Perguntem ao filme, porque o filme não explica. Ou o homem é tão maluco que não merece explicação.
No fim acaba por ser uma vítima a fugir de um serial killer, em que os fantasmas não têm qualquer relevância.
É pena, porque o início prometia algo de original e diferente, uma cidade em que os vivos têm de viver com os fantasmas dos mortos. Terminar assim, com um serial killer prosaico e não muito certo das ideias, foi uma decepção.

12 em 20 (pelo início promissor)


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