domingo, 26 de fevereiro de 2023

Colosseum / Coliseu (2022)


“Colosseum” é um documentário dramatizado do canal História em que se acompanha o coliseu de Roma desde o apogeu à queda do Império Romano.
Aconselho vivamente a toda a gente que se interessa pelo tema, mas advirto que algumas das cenas dramatizadas contêm um realismo e brutalidade a nível de um “Spartacus” e podem perturbar pessoas sensíveis.
Tudo o que se passava naquele Coliseu, afinal, é bastante perturbador para a mentalidade moderna. Eram jogos de morte a que os romanos iam assistir por diversão de manhã à noite, que incluíam “lutas” com animais ferozes (curiosamente os “jogos” menos considerados e remetidos para a manhã), execuções de criminosos à hora do almoço, e, finalmente, o espectáculo mais aguardado: os gladiadores.
A mim perturbaram principalmente todas as cenas que incluem os animais, desde o martírio dos cristãos ao martírio dos animais propriamente ditos. Tudo isto, para nós, é de um sadismo incompreensível. Aprendi, por exemplo, que os Romanos caçaram tantos milhares de animais para o Coliseu (e para outros jogos pelo Império fora) que alguns séculos depois o Norte de África tinha perdido algumas espécies para nunca mais as recuperar. Isto dá-nos uma dimensão da grandiosidade e importância com que Roma encarava os jogos. As feras (leões, leopardos, chitas) eram os animais mais apreciados para o “espectáculo”, mas rinocerontes, crocodilos, e até avestruzes (em suma, tudo o que parecesse exótico) eram igualmente procurados. Também aprendi que os animais mortos na arena eram depois cozinhados e comidos pelo público. Nunca me tinha passado pela cabeça. Na minha matriz de pensamento judaico-cristão sempre considerei estas mortes na arena como sacrifícios, interditos a serem comidos por cristãos porque “sacrificados a ídolos”.
Por falar nisso, também é interessante e irónico que o Coliseu, onde os Romanos tentaram aniquilar os cristãos de uma vez por todas, se tornou o maior palco para a divulgação do Cristianismo que viria a dominar o Império que o quis derrotar.
O que mais me espantou foi a própria construção dos subterrâneos do Coliseu (o Hipogeu). Também nunca pensei que se conseguisse tal obra de engenharia à altura, escavada nas fundações do enorme Coliseu depois de este já ter sido construído à superfície. Inacreditável! A cultura Romana levava os jogos muito a sério.
Os documentários do canal História têm tido a tendência de explorar o sensacionalismo (extraterrestres, sobrenatural, etc) mas este, parece-me, é de bastante qualidade. O canal tende a repetir as séries periodicamente, é uma questão de estar atento.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

O Querido Lilás (1987)


Como é que este filme me escapou? Tenho a certeza de que nunca o tinha visto antes ou lembrar-me-ia. Deve ter sido daqueles que ficou na lista “tenho de ver isto” e nunca vi.
Estou triste com algumas críticas que colocam este filme como um dos piores filmes portugueses de sempre.
Herman José é o maior actor cómico/humorista da minha geração e não há nada que ele faça que não me ponha a rir às gargalhadas. Não posso falar dos anteriores (Vasco Santana, Ribeirinho, etc) porque antes do 25 de Abril ninguém tinha a liberdade de fazer o que Herman fez depois. Herman José não é apenas um humorista que escreve umas piadas em stand up ou uns textos engraçados nos jornais. Herman é um actor completo, e um actor cómico, ainda mais difícil do que um actor dramático, na minha opinião. Neste filme, e no resto da sua carreira, Herman encarna verdadeiramente algumas personagens inesquecíveis, e digo isto porque as encarna mesmo, como se fossem reais.
“O Querido Lilás” é a história de uma diva do teatro português, Beladona (Herman José), que tem um filho de pai incógnito que lhe é retirado 6 minutos depois do parto (dizem-lhe que morreu), para manter as aparências de respeitabilidade. A criança é levada para ser criada por uma mãe adoptiva.
27 anos depois, Querido Lilás (é o nome do filho, também interpretado por Herman José), conhece a mãe numa casa de fados enquanto esta andava a ensaiar a peça “A Tragédia da Rua das Flores” de Eça de Queirós, e ambos se apaixonam sem terem culpa.
Não posso dizer que passei o filme inteiro a rir, até porque o objectivo de uma comédia é deixar os espectadores relaxar antes da próxima gargalhada, mas há uma cena inesquecível que me fez rir às bandeiras despregadas: Beladona, num recital de poesia, a assassinar “Balada da Neve”. Também me ri bastante naquela parte em que Querido Lilás está a traduzir o fado em alemão, e naquela outra passagem em que Beladona se quer atirar à lareira para morrer “queimadinha como a Joana d’Arc”. Isto só podia sair da mente mirabolante de Herman José, embora a direcção seja de Artur Semedo.
É claro que é um filme propositadamente kitsch, e que Herman José é tão exagerado como em algumas outras personagens posteriores (?). Maximiana (?), por exemplo. Aqui o problema não é o som, mas como Beladona grita histericamente a ponto de não se perceber o que diz, mas também é de propósito.
Eu, pelo menos, ri-me à fartazana e ainda gostava de ver aquela “Balada da Neve” outra vez.
Só achei que o filme foi demasiado longo por causa dos fados. Não desgosto, mas também não aprecio, especialmente o fado castiço. E agora toda a gente relacionada com este filme me vai odiar: detesto musicais. O filme não é um musical, graças a Deus, mas foram mesmo demasiados fados.
Recomendo a toda a gente que gosta de Herman José.

14 em 20


domingo, 12 de fevereiro de 2023

El Camino: A Breaking Bad Movie (2019)

Só descobri que este filme existia porque “tropecei” nele a ler críticas de “Better Call Saul”. “El Camino”, realizado por Vince Gilligan e interpretado por Aaron Paul, conta-nos em duas horas o que aconteceu a Jesse Pinkman depois de ser resgatado por Walter White dos neo-Nazis que o mantinham escravizado a produzir metanfetaminas.
Embora lançado como filme, este último episódio de formato alargado funciona antes como um epílogo de “Breaking Bad”. Era necessário? Talvez não. É como comer um enorme gelado de chocolate depois de uma óptima refeição. É necessário? Não. Mas sabe bem!
Gostei muito de ver como Jesse cresceu durante o cativeiro, como abandonou o adolescente irresponsável que só queria mais droga. Agora Jesse é um homem que aprendeu a lição, perseguido pela Lei e atormentado pelo stress pós-traumático, que sabe que tem de estar disposto a correr todos os riscos e sofrer as consequências pela sua liberdade, e, em último caso, pela sua própria sobrevivência. Jesse brilha neste epílogo como o carisma de Walter White nunca lhe permitiu na série original.
Aconselho este filme a todos os amantes de “Breaking Bad”, a que ele obviamente se dirige, mas deixo o aviso: é melhor ser visto antes de “Better Call Saul”, não porque a série contenha spoilers mas porque é uma experiência muito mais satisfatória. Por exemplo, há uma cena em que Jesse tem de destruir o interior de um apartamento, paredes e tudo, à procura de dinheiro para escapar. Isto ecoa a outra cena em “Better Call Saul” em que Chuck destrói a sua própria casa à procura de fios de electricidade escondidos. Ou melhor, agora já sabemos que é Chuck quem ecoa Jesse e não o contrário.
Tal como tudo o que Vince Gilligan faz, este epílogo é uma obra-prima. Às vezes o que importa não é a chegada, mas o caminho. Tal como diz o título, este filme é sobre a viagem de Jesse para a liberdade.

 

domingo, 5 de fevereiro de 2023

The Hunger Games: Mockingjay - Part 2 / Os Jogos da Fome: A Revolta - Parte 2 (2015)


Gostei muito mais deste último “episódio” de “The Hunger Games”, muito devendo a finalmente terem deixado brilhar as estrelas: Donald Sutherland e Julianne Moore. Parecendo que não, é logo outro nível. Concomitantemente, o meu prazer neste último filme pode dever-se também ao efeito “Acabou! Acabou!”. Admito que já estava cansada do formato e queria uma resolução. Então vamos lá ao mais importante.
Finalmente, Katniss decide-se e fica com o… Haha, como se eu fosse dizer! Os leitores deste blog já devem sabê-lo, romances (e triângulos amorosos) Young Adult não me excitam grandemente e este já durava há tempo a mais.
No último filme, Katniss continua no coração da Resistência, onde a Presidente Coin (Julianne Moore) a utiliza como símbolo para galvanizar a rebelião contra o Capitólio. Mas Katniss não é rapariga de ficar metida num bunker a ser um símbolo e decide ir pessoalmente ao Capitólio apertar o gasganete ao Presidente Snow (Donald Sutherland), como ele merece.
Aqui acontece a parte mais idiota do filme. O Capitólio encontra-se sob ataque da Resistência, uma equipa de soldados acompanha Katniss pelas ruas da cidade, e, em vez de exercer uma resposta militar, o Capitólio decide colocar armadilhas aqui e ali e televisioná-las, como se fosse mais uma edição dos Jogos da Fome. Às vezes nem percebi muito bem o que estava a acontecer. Por exemplo, uma das armadilhas lança toneladas de óleo, supostamente para afogar a equipa. Não teria sido mais eficiente incendiar o óleo?... Desta forma a equipa conseguiu escapar para um prédio alto. Com o óleo a arder talvez não tivesse escapado. Não estou a ser má, estou a pensar em termos militares. Não percebi aquilo.
Mas avançando. Sem incorrer em muitos spoilers, Katniss apercebe-se de que a Presidente Coin tenciona tomar o poder e reinstaurar os Jogos da Fome, desta vez com os apoiantes do Presidente Snow como vítimas. Katniss não gosta nada da ideia. Afinal, tanto Coin como Snow são iguais no sentido em que só pensam em conquistar e manter o poder. Gostei da reviravolta.
O final é bastante satisfatório para o que se pretendia desta distopia Young Adult. Eu queria mais, muito mais, mas já sabia que não o teria daqui. Adeus, “Hunger Games”. Acabou, acabou!

14 em 20