domingo, 17 de maio de 2020

A Dança dos Ossos, edições Livro B


A Dança dos Ossos” é a edição Livro B de um ebook já aqui muito falado, “Dentro da Noute”, organizado por Ricardo Lourenço.
(Basta seguir a etiqueta “Dentro da Noute” para encontrar comentários a todos os contos portugueses desta antologia.)
Embora eu prefira muito mais o título “Dentro da Noute” (assim mesmo, arcaico e tudo), o melhor motivo para mudar o título deste “A Dança dos Ossos” é que um dos contos foi substituído: em vez de “A Confissão de Lúcio”, no original digital, “A Estranha Morte do Prof. Antena”, do mesmo autor Mário de Sá Carneiro (o que faz sentido, uma vez que  “A Confissão de Lúcio” talvez fosse muito extensa para a edição em papel).
“A Dança dos Ossos” está disponível no website da colecção Livro B. Transcrevo de lá o texto introdutório:

As origens da literatura popular luso-brasileira com temáticas de sempre: crime, sobrenatural, romance.

A génese do movimento gótico teve lugar na Alemanha no século XVIII (a balada"Lenore" de Gothfried August Burger é considerada a obra iniciadora do género). Como nunca antes, numa espécie de onda imparável, a moda espalhou-se pela Europa e pelo mundo ocidental em geral. As razões conjugavam-se para justificar esse sucesso: o livro impresso vulgarizava-se e tornava-se acessível em termos de preço; com mais acesso a fontes de escrita e a projectos pioneiros de ensino, uma grande parte da população começou a aceder com maior ou menor facilidade a uma educação básica que antes era simplesmente inexistente; os escritores encontravam, pela primeira vez, um mercado propriamente dito adequando, pela primeira vez na história, a sua produção a uma procura crescente. 

Dessa forma encontra-se no gótico literário a génese da literatura policial, fantástica, da ficção científica, da literatura de acção ou, até, da dita literatura romântica.

No mundo lusófono, traduções de Ann Radcliffe, Fréderic Soulié e muitos dos primeiros best-sellers do gótico chegaram já no século XIX e o movimento, por cá, mesclou-se, de alguma forma, com o ultra-romantismo

Nesta antologia, preparada por Ricardo Lourenço, encontramos uma amostra choruda dos grandes expoentes do género no universo luso-brasileiro, catalogando uma panóplia de temáticas que vieram a marcr toda a literatura popular dos séculos seguintes e que ainda hoje mantém a sua actualidade bem fresca.

Contos e Novelas Portugueses
1. «O Defunto», de Eça de Queirós
2. «A Dama Pé-de-Cabra», de Alexandre Herculano
3. «A Caveira», de Camilo Castelo Branco
4. «A Torre Derrocada», de Alberto Osório de Vasconcelos
5. «O Mistério da Árvore», de Raul Brandão
6. «O Corvo», de Fialho de Almeida
7. «A Feiticeira», de Ana de Castro Osório
8. «A Morta», de Florbela Espanca
9. «Os Canibais», de Álvaro do Carvalhal
10. «Uma Récita do Roberto do Diabo», de Júlio César Machado
11. «O Cadáver», de Beldemónio
12. «Sede de Sangue», de Manuel Teixeira Gomes
13. «A Estranha Morte do Prof. Antena», de Mário de Sá-Carneiro

Contos e Novelas Brasileiros
1. «Noite na Taverna», de Álvares de Azevedo
2. «A Dança dos Ossos», de Bernardo Guimarães
3. «Os Porcos», de Júlia Lopes de Almeida
4. «Acauã», de Inglês de Sousa
5. «Violação», de Rodolfo Teófilo
6. «Maibi», de Alberto Rangel
7. «Assombramento», de Afonso Arinos
8. «11 e 20», de Medeiros e Albuquerque
9. «Demônios», de Aluísio Azevedo
10. «O Defunto», de Tomás Lopes
11. «A Causa Secreta», de Machado de Assis
12. «O Bebê de Tarlatana Rosa», de João do Rio
13. «Confirmação», de Gonzaga Duque
14. «Os Olhos que Comiam Carne», de Humberto de Campos

Recomendo a antologia a toda a gente que gosta de literatura gótica (e de literatura portuguesa), especialmente àqueles que ainda não tiveram muito contacto com ela. Aos outros, esta antologia vai com certeza despertar memórias e recordar o motivo pelo qual já temos os nossos autores preferidos.
E aproveito para dar os parabéns ao Ricardo Lourenço pela iniciativa. Desejo muita sorte para esta antologia, e cá fico à espera de mais iniciativas deste tipo, ou de outro.

O Livro B
Saúdo a iniciativa de trazer de volta a colecção Livro B. Estes livrinhos, de tamanho muito pequeno e capa negra (e às vezes páginas azuis de papel muito fino e letra muito pequena), são em grande parte responsáveis pela minha educação literária. Por serem pequenos, eram também baratos. Noutros tempos, nunca ia à Feira do Livro sem trazer uma carrada deles, o que me deu a conhecer autores que de outra forma me teriam passado ao lado. De alguns gostei, com outros fiquei decepcionada, mas o importante é que graças à colecção fui exposta a muitos tipos de escritores e diferentes géneros, encaminhando os meus gostos literários na direcção em que acabariam por solidificar mais tarde.
Por esta educação literária, indescritivelmente superior à que tive na escola, estou muito grata ao Livro B e à sua colecção original. Foi aqui que li “Do Assassínio como uma das Belas-artes” de Thomas de Quincey; “Paraísos Artificiais” de Charles Baudelaire; “Frankenstein” de Mary Shelley; “As Filhas do Fogo” de Gérard de Nerval; “Os Demónios de Randolph Carter” de H. P. Lovecraft; “O Cocheiro da Morte” de Selma Lagerlöf (um dos meus preferidos e um livro que me marcou muito); “O Altar dos Mortos” de Henry James; “O Castelo de Otranto” de Horace Walpole (considerado a primeira obra de literatura gótica); “Os Cisnes Selvagens e Outros Contos” de Hans Christian Andersen, e isto só para recordar os favoritos. Muitos outros li também e, embora não sendo preferidos, deram-me a conhecer contos de autores que me levaram mais tarde a procurar as suas obras mais importantes, como “A Mulher Pobre” de Léon Bloy ou “Carmilla” de Joseph Sheridan Le Fanu. Este sim, é um plano de leitura cinco estrelas.
Vou continuar a ser uma leitora desta nova colecção do Livro B, mas tenho uma crítica a fazer. Estamos na era digital e estas novas edições não incluem o ebook. É pena, para quem como eu desistiu do papel (muitos motivos, desde os ecológicos à falta de espaço e à facilidade de transporte em dispositivos digitais). Já é altura de as editoras portuguesas (não só esta como todas) acompanharem o espírito dos tempos e perceberem que o ebook veio para ficar e muitos leitores já não querem o papel. Ignorar este facto é perderem leitores pagantes, para seu prejuízo. E nosso, também.


domingo, 10 de maio de 2020

La guerre des trônes, la véritable histoire de l'Europe / A verdadeira guerra dos tronos


Como o nome indica, este documentário aproveita o sucesso da série para nos apresentar a História da França à moda da “Guerra dos Tronos”: batalhas sangrentas, envenenamentos, traições e facadas nas costas, sexo escandaloso. E muita, muita ambição.
De forma modesta e engraçada, até o genérico final tenta “imitar” o da “Guerra dos Tronos”, mas com castelos a sério. Achei giro, mas também podiam ter feito uma brincadeira com os brasões das principais famílias: o Leão, a Flor-de-Lis, as Rosas…
Porque, de certa forma, o documentário acerta em cheio. É esta História, a História real (e não apenas a História medieval), que inspira os escritores de Fantasia. Com mais ou menos dragões, com mais ou menos magia, vai-se a ver e tudo começa aqui, nos livros de História, mais ou menos transformada de acordo com a imaginação do autor. Porque a História é interessante, mas há sempre maneira de a reinventar ainda mais interessante.
O documentário conta o enredo muito depressa em quatro episódios, desde a Guerra dos Cem Anos (que afinal duraram mais tempo: 1337-1453) até Francisco I de França (1494-1547), e eu fiquei com uma grande vontade de ver aquilo tudo numa série propriamente dita, com os personagens bem desenvolvidos e os acontecimentos bem mostrados. É claro que já foram feitas adaptações cinematográficas e televisivas deste ou daquele personagem e/ou acontecimento histórico, mas assim, numa extensão de tempo tão longa e com um enredo que se vai entrelaçando de personagem em personagem, do princípio ao fim, desta maneira nunca vi. E gostava muito de ver.
Depois de andar por aí na net a pesquisar este documentário descobri que deve ter tido sucesso, porque fizeram mais temporadas. Por este motivo não sei se esta crítica vai ser justa, por isso ressalvo que a seguir me refiro à primeira temporada. A série focou-se demasiado na História de França para se poder chamar “História da Europa”. A não ser que voltem atrás, agora nas temporadas seguintes, porque nem sequer mencionaram alguns dos episódios mais sumarentos da História: os Bórgias, os Médicis, o fanático Savonarola, e o meu querido Maquiavel. Como é que é possível fazer uma História da Europa à moda da “Guerra dos Tronos” e não falar de Maquiavel? Parafraseando: “Mais vale ser temido do que amado, porque os homens traem quem amam, mas obedecem a quem temem”. Até a Daenerys Targarien sabe disto e nunca leu “O Príncipe”.
(E, já agora, podiam também falar daquele paisinho da ponta da Europa que teve um império mas perdeu-o por causa de um rei adolescente que quis ir caçar mouros. Foi um massacre, maior do que a Batalha dos Bastardos.)
Gostei muito deste documentário e queria ver mais. Boa ideia terem feito mais temporadas.
“A Verdadeira guerra dos tronos” passou na RTP2.

RTP2, repete lá isto mais vezes e, já agora, passa as novas temporadas!

domingo, 3 de maio de 2020

Deepwater Horizon / Horizonte Profundo - Desastre no Golfo (2016)


 

Exactamente como o título indica, este filme é a dramatização do maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos. Em Abril de 2010, a plataforma de exploração petrolífera Deepwater explodiu, matando 11 pessoas e derramando crude no Golfo Do México. De acordo com o filme, o acidente teve por causa a ganância da BP (a quem pertencia a plataforma), que, perante o atraso nos prazos, se recusou a realizar todos os testes necessários para garantir a segurança da operação.
O filme faz tudo o que precisa de fazer para nos explicar o que está a acontecer, até para quem (como eu) nunca viu uma plataforma petrolífera na vida. Percebi sempre o que se estava a passar, os riscos que se estavam a avolumar e os aspectos técnicos da explosão.
As personagens são bem desenvolvidas o suficiente para nos importarmos com elas, embora neste tipo de filmes não seja costume aprofundá-las muito porque se tratam de pessoas reais, vivas ou mortas, de quem não se pode revelar ou fantasiar demasiado.
“Deepwater Horizon” é um filme catástrofe explicativo, eficiente e direito ao assunto, que nos ajuda a perceber o desastre. Como disse, um filme que faz tudo o que devia fazer.

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