janeiro 23, 2004
Vampiras sexuais?
Confesso que me divirto muito a pesquisar as buscas que trazem as pessoas aqui, ao blog. Há inúmeras buscas por "Gotika". Penso que procuram o filme com o mesmo nome. Confesso que ainda não vi mais do que o trailer.
A procura por "pentagrama" ainda percebo.
Mas hoje descobri uma procura por "vampiras sexuais" no Yahoo Brasil.
Ou seja, se eu escrever aqui SEXO, SEXO, SEXO, SEXO, SEXO, SEXO vem cá tudo parar?
:>
Publicado por _gotika_ em 10:59 AM | Comentários: (7)
Eis as fontes (inquinadas)...
... onde os góticos vão beber inspiração
Uma entrada do
Inteiramente Eu suscitou-me comentar e pedir pormenores. Entretanto, a conversa interbloguística e privada alertou-me para explicar um pouco das fontes de inspiração góticas. Às vezes esqueço-me que estou a falar com não-góticos. Desculpem lá. Façam o mesmo esforço que me obrigam a fazer a mim. É justo.
Mas como geralmente não têm informação disponível que vos permita trabalhar para a “tradução”, porque não conhecem a linguagem, e como hoje “estou que nem posso” para trabalhar, cá vai mais uma incursão pelas tortuosas motivações da malta gótica e escritores que para ela produzem música, literatura e atrelados afins.
Dizia o
Inteiramente Eu a propósito da sua visita a Hamburgo: “Hamburgo tem grande fama pela sua noite... no entanto fiquei desiludido... é uma rua cheia de discotecas, com um mini bairro da luz vermelha, mas tudo tão degradante que até me meteu impressão... nunca tinha visto nada assim, nunca tinha visto tanta degradação humana junta... Vi uma vez miséria humana, pobreza em África, mas isso são outros contos...”
E acrescentou depois: “A degradação de que eu falo é a do ser humano... Imaginemos a noite Lisboeta, com betos, góticos, tios, tias, radicais e toda a variedade que há... Tirando alguns "balázios" aqui e ali, algumas cenas de pancadaria, etc. até é uma noite bastante calma... a noite em Hamburgo, ou pelo menos no bairro de St. Pauli é de certo modo mais violenta... não em termos de violência física, mas sim em violência psicológica... Vou tentar descrever, vai ser difícil, mas vou tentar... O bairro de St. Pauli é um bairro como qualquer outro, residencial, com as suas zonas de comércio... à noite, há uma rua que está cheia de bares e discotecas de uma ponta à outra... Quando passei nessa rua a unica coisa que me veio à mente foi uma cena tirada daqueles filmes onde mostram o pior lado da noite, onde há putas em cada esquina, creeedooo esta palavra não me soa nada bem, mas por outro lado prostituta apesar de ser o termo portugues correcto também não soa bem... adiante... toxicodependentes agachados em cantos escuros... porteiros com promessas de mulheres à porta de cada discoteca... no fundo aquilo que vi não foi uma noite normal, foi sim uma noite do sub-mundo... cada discoteca era também um bar de alterne, mas nada de coisas tipo "passarele" ou "elefante branco" era tudo do mais "rasco" possível... Este era o tipo de degradação que eu via... foi uma visão que de certa forma me tocou, me impressionou...”
O que o
Inteiramente Eu descreve é o ambiente perfeito para um gótico se inspirar. É daquelas coisas que nos fazem salivar, abanar o rabinho, arregalar os olhos, correr para lá. Com as descrições que tenho de Hamburgo e de St. Pauli em particular, eu é que ficaria “desiludida” se lá fosse e não visse degradação nenhuma. Por falar em St. Pauli, São Paulo, Cais do Sodré... Aqui em Lisboa o Cais do Sodré já não é a mesma coisa. Posso andar por lá à vontade que ninguém se mete comigo. A degradação mudou-se toda para o Intendente. Onde só passo de autocarro. E já chega.
O gótico não é mau. Não gosta da degradação humana. Aliás, o gótico é um moralista de primeira. Tanto é moralista que virou as costas ao mundo degradado, com quem se desiludiu de forma irremediável, e procura inspiração no lado negro da vida exactamente para o denunciar.
Aquilo que faz a maioria das pessoas olhar para o lado, é isso que o gótico quer ver, é isso que o inspira a criar. O que não é novo. Descende dos românticos e realistas do século XIX, por exemplo, Victor Hugo. Todos esses romances cheios de miséria, doença, prostituição, traição, exploração, perversidade, ganância, corrupção, têm uma continuação à altura nas nossas músiquinhas preferidas. Tenho até dificuldade em escolher um exemplo para vos mostrar. Ele há tantos e sobre temas tão vastos! Seria talvez mais fácil escolher um exemplo de excepção à regra, uma daquelas músicas góticas mais levezinhas de que toda a gente facilmente gosta!...
Aqui fica um exemplo entre tantos, o gótico puro e duro dos Sisters of Mercy do princípio (mas não lhes digam que lhes chamei góticos):
Love for the party love for the nation
Love for the fix for the fabrication
Love for the corpse for the corporation
Love for the death and for the defecation
Romance and assassination
Give me the love for the genocide
Give me love
Fix (The Sisters of Mercy)
O compositor gótico é uma espécie de jornalista da música. Gosta de relatar, de expor (mas com poesia, obviamente) sem ser interventivo. Não é panfletário como os U2 (“Sunday Bloody Sunday”, por exemplo). É mais geral e mais subtil. É literariamente cínico. Não acredita na mudança mas não concorda com o estado de coisas. Descreve-o, em palavras nada meiguinhas, e expressa com ironia mais ou menos camuflada a sua opinião sobre o facto descrito. Geralmente o facto é mau (daí a comparação ao jornalismo) e a opinião é arrasadora. As intenções são mais éticas do que políticas. Sem dúvida, moralizantes.
Mas não é música para as pessoas que gostam de enfiar a cabeça na areia e fingir que isto “it’s a wonderful world”, porque não é. A não ser que enfiem a cabeça na areia e finjam que enquanto tudo estiver bem no vosso cantinho tudo está bem em todo o lado. Como gótica empedernida, não posso sentir outra coisa do que o mais profundo desprezo por essa perspectiva de vida. Também não acredito na mudança, mas exijo pelo menos a indignação. No mínimo.
Procurando inspiração no lado negro da vida, chega-se portanto ao lado mais negro da existência que é o próprio fim, a morte. O gótico não desvia o olhar, também, da morte. Ela existe. É uma questão de ser lúcido.
E a morte, como sabem, é o tema inspirador do gótico por excelência. Perante a inevitabilidade da morte, contra quem é que o gótico se revolta? Bem, pode sempre dizer mal de Deus. Ou pode entregar-se ao inevitável e criar metáforas sobre seres imortais que vivem nas trevas e se alimentam da humanidade. Metáforas há muitas.
Lembro-me do conto de Dickens, o célebre “Christmas Carrol”, em que o velho avarento Scrooge é visitado pelos fantasmas que o alertam para a mudança que tem de se efectuar na sua vida. Lembro-me até dos autos de Gil Vicente em que intervêm anjos e demónios em luta pelas almas perdidas da humanidade. Como vêem, nada disto é invenção gótica. Trata-se de uma forma de existencialismo poético. Perante a inevitabilidade da morte, cria-se por aí fora, aproveita-se ou recria-se a mitologia, sem necessariamente acreditar em mitos. Nem é o facto de acreditar que está em questão. A fé é uma questão religiosa, não gótica. O que é gótico é criar arte a partir do horrível. A beleza da paz dos ciprestes no cemitério... A dignidade de um condenado a caminho do cadafalso... A espectacularidade empolgante do cogumelo da bomba atómica... As esculturas humanas das vítimas de Pompeia... (estes últimos exemplos são meus) A beleza do horrível ou, se preferirem, a beleza que existe no horrível.
Para quem estudou o Romantismo, nada disto é novo. Lembro-me de um poema de Bocage em que este “alegremente” invoca a noite, mochos e fantasmas...
Ó retrato da morte! Ó Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti somente os diga
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel que a delirar me obriga.
E vós, ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.
Isto é do mesmo Bocage que todos conhecem por outras razões menos nobres. Mas quando o virginiano dá para o obscuro chega a ser teatral e excessivo...
A partir da morte vem toda a obsessão com fantasmagorias várias e sobrenaturais. À procura de uma alternativa, talvez?... À procura de uma prova de imortalidade?... Onde tudo vale, desde Deus e deuses a vampiros?
O que me leva à inevitável associação gótico/cristianismo. É difícil encontrar uma religião em que o gótico pudesse encontrar maior fonte de inspiração. Não é por acaso que a maioria das bandas góticas da velha guarda foram buscar nomes de simbologia judaico-cristã: Sisters of Mercy, Fields of the Nephilim, Christian Death...
A história do cristianismo: um homem bom, que prega coisas boas e não faz mal a ninguém, é traído, maltratado e crucificado qual criminoso (Jesus). Esta é a primeira barbaridade. Como se não bastasse, mais tarde os seus carrascos (o Império Romano) pegam nos seus ensinamentos para fins políticos e convertem toda a gente à força. Segunda barbaridade e afronta aos ensinamentos que pregam. A Igreja Católica, devidamente institucionalizada, e a Igreja Protestante que lhe seguiu os vícios, tornaram-se os maiores símbolos do anti-Cristo que puderam jamais existir. Todas as igrejas (não apenas a Católica, ao contrário que é propagandeado por uma certa desinformação anglo-saxónica) fomentaram e consentiram processos fraudulentos e desumanos que levaram supostos hereges à fogueira pelo simples facto de serem acusados de falta de fé. Suprema barbaridade. Suprema ironia de “diz o roto ao nu”. Como se tudo isto não bastasse, e apesar de tudo isto estar longe na História, os supostos cristãos continuam a defender uma moral anacrónica, a inibir a liberdade de expressão e a ditar as regras das vidas dos outros em vez de respeitarem o livre arbítrio defendido por Cristo que nunca impôs a sua doutrina a ninguém.*
Os góticos, que se pelam por denunciar a hipocrisia e a corrupção, e especialmente porque devia ser a religião a dar o exemplo, dificilmente inventariam um alvo melhor onde cascar do que a religião organizada. Por essa razão, também Marilyn Manson foi adoptado pelo movimento. Não por ser o anti-Cristo mas por denunciar o anti-Cristo.
E pronto, mais uns apontamentos prontos para o
livrinho...
* Sobre a religião organizada, em particular as igrejas de inspiração cristã, sinto-me na obrigação de esclarecer a minha opinião pessoal. Que ao longo da História fizeram tudo para merecer o maior desprezo possível, disso não há dúvida nenhuma. É surpreendente que ainda tenham fiéis. Mas há que fazer justiça. A partir dos meados do século XX, a(s) Igreja(s), particularmente a católica, fizeram um tremendo esforço para voltar às origens do cristianismo. Fora algumas posições anacrónicas (como a questão do preservativo, por exemplo), começaram a tomar em conta o livre arbítrio e a honestidade (coisa que não devia acontecer desde o tempo de São Tomé, o apóstolo céptico, há quase 2000 anos). As altas autoridades da Igreja Católica (Papa João Paulo II excluído mas perdoado devido à idade avançadíssima e ao estado de saúde) são actualmente mais liberais do que os fiéis que vão à missa, e só não avançam para reformas mais estruturais para não chocarem as sensibilidades retrógradas das próprias personalidades que forjaram no princípio do século. Conclusão: é preciso morrer muita gente antes que isto ande para a frente. Começando pelo Papa. Tenho dito.
Publicado por _gotika_ em 06:50 AM | Comentários: (2)
"Somebody's cat"
Somebody's cat went missing last night,
Somebody's cat had a terrible fright,
Somebody's cat was very brave,
So many kind people his life tried to save.
No-one's name hung from his collar last night,
Just a strip of tape for reflecting the light,
But a small strip of tape can in no way compete,
With so many cars and a busy town street.
It's such a dangerous world outside for cats,
With fast cars and dogs and with poisoned rats,
Someone, somewhere by a window will wait,
Thinks: "He'll be home soon, though it's now late.
"Just a number to call could have meant instead
Of kind strangers she could have held his head,
I wonder if she's sorry she let her cat roam,
When he could have been so safe in her home?
The morning sun would have warmed his soft fur,
As he sat on her lap to wash and to purr.
Somebody's cat gave death quite a fight,
When somebody's cat died late last night.
C. H. Campagna
Publicado por _gotika_ em 02:48 AM | Comentários: (0)
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Inteiramente Eu já não existe.