quinta-feira, 30 de setembro de 2004

Porto de abrigo

Post:
Se o ambiente é simpático, as pessoas têm tendência a evitar-me.
Mas quando o ambiente é agressivo, é em mim que procuram abrigo.
Interessante. Muito interessante.

Comentário:
Deve ser interessante deve. As pessoas confiam em ti em situações agressivas. Devias estar orgulhosa.
Hugo

Resposta:
Não. Não gosto de ser "porto de abrigo". Por isso, finjo que sim, que dou abrigo, mas é falso. Não merecem outra coisa.

E o meu porto de abrigo? Nunca encontrei ninguém que me servisse de porto de abrigo.
Possíveis explicações:
1) Sou forte. Não preciso de porto de abrigo.
2) Sou forte. Preciso de porto de abrigo mas não encontro ninguém mais forte do que eu que o possa fornecer.
3) As pessoas não percebem que eu também preciso de um porto de abrigo.

Não, houve uma altura na minha vida em que eu dava claramente a entender que precisava de um porto de abrigo. Mas nessa altura toda a gente desapareceu. Pouco depois, fui eu que deixei de atender o telefone.
(Vampiros! Cambada de vampiros!)
Não quero ser porto de abrigo. Não sou assim tão santa.
Quero ser porto de chegada.

"Podes vir bater à minha porta
Mas não passes com ela na minha rua"

É melhor também não bater à porta. Geralmente estou a dormir e fico muito irritada quando me acordam.

Reincarnação

Se o que a teoria diz é verdade, e quando morremos passamos para uma dimensão em que continuamos a viver em espírito até à nossa próxima encarnação, e não esquecemos a nossa vida e personalidade anterior até que ocorra essa reencarnação, e só quando voltamos a reencarnar é que esquecemos a nível do consciente tudo o que vivemos e fomos na vida anterior, então... só morremos verdadeiramente no momento em que nascemos de novo.
Aquilo a que chamamos "a minha pessoa" só morre quando renasce.
Logo, a "morte" é o próprio renascimento.
Interessante, não é?

quarta-feira, 29 de setembro de 2004

*~*~*Claim Your Wings - Pics and Long Answers*~*~*


phoenix


You are a PHOENIX in your soul and your wings make a statement. Huge and born of flame, they burn with light and power and rebirth. Ashes fall from your wingtips. You are an amazingly strong person. You survive, even flourish in adversity and hardship. A firm believer in the phrase, 'Whatever doesn't kill you only makes you stronger', you rarely fear failure. You know that any mistake you make will teach you more about yourself and allow you to 'rise from the ashes' as a still greater being. Because of this, you rarely make the same mistake twice, and are not among the most forgiving people.
You're extremely powerful and wise, and are capable of fierce pride, passion, and anger. Perhaps you're this way because you were forced to survive a rough childhood. Or maybe you just have a strong grasp on reality and know that life is tough and the world is cruel, and it takes strength and independence to survive it. And independence is your strongest point - you may care for others, and even depend on them... but when it comes right down to it, the only one you need is yourself.
Thus you trust your own intuition, and rely on a mind almost as brilliant as the fire of your wings to guide you. You are eternal and because you have a strong sense of who and what you are, no one can control your heart or mind, or even really influence your thinking. A symbol of rebirth and renewal, you tend to be a very spiritual person with a serious mind - never acting immature and harboring a superior disgust of those who do. Likewise, humanity's stupidity and tendency to want others to solve their problems for them frustrates you endlessly. Though you can be stubborn, outspoken, and haughty, I admire you greatly.

Image Source: stp.ling.uu.se/ ~klasp/Boris.html


*~*~*Claim Your Wings - Pics and Long Answers*~*~*
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Devo confessar que estou impressionada pelas alusões à minha infância difícil e ao meu carácter em geral. Só tenho dúvidas quanto à resistência desta fénix em especial. Sinto que já queimou todas as vidas que tinha para queimar.
Ou, em bom português, já tou queimada!

What's your Inner European?


You are French


What's your Inner European?
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(Não havia português. Não é de estranhar. Ninguém nos conhece.)

segunda-feira, 27 de setembro de 2004

Observações

Se o ambiente é simpático, as pessoas têm tendência a evitar-me.
Mas quando o ambiente é agressivo, é em mim que procuram abrigo.
Interessante. Muito interessante.

domingo, 26 de setembro de 2004

Já vi Portugal mais longe disto

Roubado ao Palavrar.


Pátria Que Me Pariu

Uma prostituta chamada Brasil se esqueceu de tomar a pílula e a barriga cresceu
Um bebê não estava nos planos dessa pobre meretriz de dezessete anos
Um aborto era uma fortuna e ela sem dinheiro
Teve de tentar fazer um aborto caseiro
Tomou remédio, tomou cachaça, tomou purgante
Mas a gravidez era cada vez mais flagrante
Aquele filho era pior que uma lumbriga
Ela pediu prum mendigo esmurrar sua barriga
E a cada chute que levava o moleque revidava lá de dentro
Aprendeu a ser um feto violento
Um feto forte, escapou da morte
Não se sabe se foi muito azar ou muita sorte
Mas nove meses depois foi encontrado, com fome e com frio, abandonado num terreno baldio
Pátria que me pariu!
Quem foi a pátria que me pariu?!
A criança é a cara dos pais mas não tem pai nem mãe
Então qual é a cara da criança?
A cara do perdão ou da vingança?
Será a cara do desespero ou da esperança?
Num futuro melhor, um emprego, um lar ...
Sinal vermelho, não dá tempo pra sonhar
Vendendo bala, chiclete ...
"Num fecha o vidro que eu num sou pivete
Eu num vou virar ladrão se você me der um leite, um pão,
um video-game e uma televisão
Uma chuteira e uma camisa do mengão
Pra eu jogar na seleção, que nem o Ronaldinho
Vou pra copa. Vou pra Europa..."
- Coitadinho! Acorda, moleque!
Cê num tem futuro! Seu time não tem nada a perder
E o jogo é duro!
Você num tem defesa, então ataca!
Pra num sair de maca
Chega de bancar o babaca
"Eu num agüento mais dar murro em ponta de faca
E tudo o que eu tenho é uma faca na mão
Agora eu quero o queijo.
Cadê? Tô cansado de apanhar, Ta na hora de bater!"
Pátria que me pariu!
Quem foi a pátria que me pariu?!
Mostra a tua cara moleque! Devia tá na escola
Mas tá cheirando cola, fumando um beck, vendendo brizola e crack
Nunca joga bola mas tá sempre no ataque
Pistola na mão, moleque sangue-bom
É melhor correr porque lá vem o camburão
É matar ou morrer!
São quatro contra um (- Eu me rendo!!)
Bum! Clá-clá! Bum! Bum! Bum!
Boi, boi, boi da cara preta
Pega essa criança com um tiro de escopeta
Calibre doze, na cara do Brasil
Idade: catorze; Estado civil: morto
Demorou, mas a sua pátria mãe gentil conseguiu realizar o aborto.

(Gabriel o Pensador, do álbum Quebra Cabeça)


Mortality

By William Knox

Oh! why should the spirit of mortal be proud?
Like a swift-fleeting meteor, a fast-flying cloud
A flash of the lightning, a break of the wave
He passeth from life to his rest in the grave.

The leaves of the oak and the willow shall fade,
Be scattered around, and together be laid;
And the young and the old, and the low and the high,
Shall moulder to dust, and together shall lie.

The infant a mother attended and loved;
The mother that infant's affection who proved;
The husband, that mother and infant who blest,--
Each, all, are away to their dwellings of rest.

The maid on whose cheek, on whose brow, in whose eye,
Shone beauty and pleasure, -- her triumphs are by;
And the memory of those who loved her and praised,
Are alike from the minds of the living erased.

The hand of the king that the sceptre hath borne,
The brow of the priest that the mitre hath worn,
The eye of the sage, and the heart of the brave,
Are hidden and lost in the depths of the grave.

The peasant, whose lot was to sow and to reap,
The herdsman, who climbed with his goats up the steep,
The beggar, who wandered in search of his bread,
Have faded away like the grass that we tread.

The saint, who enjoyed the communion of Heaven,
The sinner, who dared to remain unforgiven,
The wise and the foolish, the guilty and just,
Have quietly mingled their bones in the dust.

So the multitude goes -- like the flower or the weed
That withers away to let others succeed;
So the multitude comes -- even those we behold,
To repeat every tale that has often been told.

For we are the same our fathers have been;
We see the same sights our fathers have seen;
We drink the same stream, we view the same sun,
And run the same course our fathers have run.

The thoughts we are thinking, our fathers would think;
From the death we are shrinking, our fathers would shrink;
To the life we are clinging, they also would cling; --
But it speeds from us all like a bird on the wing.

They loved -- but the story we cannot unfold;
They scorned -- but the heart of the haughty is cold;
They grieved -- but no wail from their slumber will come;
They joyed -- but the tongue of their gladness is dumb.

They died -- ay, they died; -- we things that are now,
That walk on the turf that lies over their brow,
And make in their dwellings a transient abode;
Meet the things that they met on their pilgrimage road.

Yea! hope and despondency, pleasure and pain,
Are mingled together in sunshine and rain;
And the smile and the tear, the song and the dirge,
Still follow each other, like surge upon surge.

'Tis the wink of an eye -- 'tis the draught of a breath--
From the blossom of health to the paleness of death,
From the gilded saloon to the bier and the shroud:--
Oh! why should the spirit of mortal be proud?


Passear por sites internacionais dá os seus frutos.

sábado, 25 de setembro de 2004

Piada bissexual

NUM POSTO DE IMIGRAÇÃO

- Sexo?

- 3 vezes por semana

- Não é isso... masculino ou feminino?

- Ah! Tanto faz.

Para variar, não sou a Papisa...

Do TheOldMan saem testes interessantes:


The Moon Card
You are the Moon card. Entering the Moon we enter
the intuitive and psychic realms. This is the
stuff dreams are made on. And like dreams the
imagery we find here may inspire us or torment
us. Understanding the moon requires looking
within. Our own bodily rhythms are echoed in
this luminary that circles the earth every
month and reflects the sun in its progress.
Listening to those rhythms may produce visions
and lead you towards insight. The Moon is a
force that has legends attached to it. It
carries with it both romance and insanity.
Moonlight reveals itself as an illusion and it
is only those willing to work with the force of
dreams that are able to withstand this
reflective light. Image from: Stevee Postman.
http://www.stevee.com/


Which Tarot Card Are You?
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Em busca do herói perdido...

Se isto não é obsessão, não sei o que será. Mas tenho obsessões piores por isso não faz mal.


Do you really know the real Vampire Lestat?
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http://movies.yahoo.com/shop?d=hc&id=1800024499&cf=pg&photoid=247187&intl=us

Wow! You are a Vampire Lestat Genius!! What do you do when you read the novel, take notes? Keep on learning more about Lestat!! May the Vampire Lestat be with you!



Who Are You? Lestat, Marius, Louis, or Armand (with pictures) Find Out Now
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http://www.theatredesvampires.net/html/lestat.html

You are the Vampire LESTAT. What ever you do you want everyone to know it, no matter how bad it is. You love the spotlight and the attention of others. YOU LOVE TO LIVE IN THE LIGHT!!!



Which Anne Rice vampire is your ideal companion? (With pictures)
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Lestat

Lestat de Lioncourt is your ideal companion, lucky you! But he's amazing and he knows it so make sure you worship him to keep him happy and whatever you do don't desert him, he always feels alone so show him that he isn't.

Pensamento do dia III

Hoje acordei com um pensamento tenebroso. "Não te levantes. Não te levantes. Enquanto dormes, nenhum mal te pode acontecer".

E depois, mais tarde, pensei, "O dia de hoje foi melhor do que o de ontem, e se calhar o dia de amanhã vai ser melhor do que o de hoje".

Mas continuo a pensar que era melhor não me levantar. Nunca mais.

Pensamento do dia II

"An open mind is a ladder to the stars."

Anónimo

Pensamento do dia I

Em certa ocasião em que o padre Nicamor levou para junto do castanheiro um tabuleiro e uma caixa de pedras para o convidar a jogar às damas, José Arcadio Buendía não aceitou porque, segundo disse, nunca conseguiu compreender o sentido de uma contenda entre dois adversários que estivessem de acordo quanto aos princípios.


in "Cem Anos de Solidão", Gabriel García Márquez

"Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez

Tenho um problema com autores sul-americanos. (Neste caso, colombiano, mas anda lá perto.) Parece que alinham todos pelo mesmo diapasão. Histórias intermináveis de famílias intermináveis, com os seus momentos de sexo (geralmente só contam os que metem virgens, putas e homossexuais) e política, e política e sexo. Aconteceu-me o mesmo com a insuportável Isabel Allende, de quem consegui concluir "Eva Luna" porque na altura ainda perdia tempo com livros "aconselháveis". E há mais exemplos mas os nomes, felizmente, já se varreram da memória. Os autores brasileiros, então, superam-se, no mau sentido. Não tenho paciência. As histórias podem ser muito interessantes lá na terra deles, tal como "Adeus Princesa" é cá na nossa terra, mas a mim não dizem nada. É uma pena.
Com este "Cem Anos de Solidão", consegui ler metade do livro num só dia porque o homem escreve bem e a história lê-se bem. Lê-se bem, mas não interessa a ponta de um corno. As 3 mil personagens entram e saem com uma rapidez vertiginosa. Para quem gosta de ler sagas de 11 livros dedicadas a meia dúzia de personagens... Está-se mesmo a ver o desastre. O facto de todas estas personagens galopantes terem nomes parecidos não ajuda mesmo nada. Pobres crianças que vão ter de estudar isto na escola. Antes o Eça!
E como eles, os autores sul-americanos, gostam de descrever mortes esquisitas e cadáveres em decomposição, meu Deus! Que fixação mais mórbida! E mal feita, e copiada, porque o mestre dos cadáveres é Adgar Allan Poe. Porque esse sim, sabia invocar a Morte.
Ao fim de metade do livro, saltei para o último capítulo e não notei a diferença. O que é que isso diz da história? Do famoso "enredo"? Onde estão as personagens fascinantes?... Ah, é verdade, as primeiras cem morreram logo a abrir. O livro também podia ter ficado por aí.

Ok, menos um.
Ora bem, procurar o tal "Vittorio"...

Artigo sobre o gótico na revista "Boa Estrela" de Setembro

Já aqui tinha dito que é uma excelente revista. O artigo sobre o gótico não deixou de me surpreender pela positiva. É uma descrição sucinta mas acertou na "mouche".

sábado, 18 de setembro de 2004

Blood Canticle - ou, Adieu mon ami

De Anne Rice.

Não sei como começar. Começar a relatar o fim? Não é uma antítese?...
Foram oito meses da minha vida em que me entreguei desalmadamente a estes personagens. Subitamente, tornaram-se vivos para mim. Existem e amam e sofrem e estão perto. Sim, é possível que uma personagem ganhe vida. Agora, separar-me deles exige um luto especial. Ou talvez não tão especial. Simplesmente um luto. Primeiro as lágrimas, como deve ser. Só mais tarde a gratidão de os ter tido na minha vida e todos os momentos que partilhámos. Sim, um luto.
Eh bien. Não há nada mais a fazer.
(“Eh bien” é uma expressão com que Lestat me contagiou irremediavelmente. Significa uma mistura de “o que não tem remédio remediado está” e “a vida continua”.)

Por onde começar, então? Pelo princípio, obviamente. Vou contar a história. Aviso já que vou revelar o final mas só porque, excepcionalmente, desta vez o importante não é a chegada mas o caminho. E o caminho terão que ser vocês a ler. De outra forma, também não percebem o final.

A história
“Blood Canticle” é a continuação de “Blackwood Farm”. Mona Mayfair, namorada do recém criado vampiro Quinn Blackwood, está a morrer de morte natural. Lestat intervém e transforma Mona para as Trevas. Mas Mona guarda segredos. Foi mãe de uma mulher Talto. Os Taltos são criaturas não humanas, imortais, que vivem secretamente no mundo dos seres humanos. (Eu não li a série “Mayfair Witches” mas desconfio que a história dos Taltos pode ser encontrada por lá. E digo mais. Se o “ambiente” das Mayfair Witches é sequer semelhante ao de Blackwood Farm e Blood Canticle, não estou interessada em ler.) A acção passa-se toda em poucos dias. Mona procura a filha com a ajuda de Quinn e Lestat. Mona encontra a filha. Entretanto, Lestat apaixona-se perdidamente pela prima de Mona, Rowan, e, pior, é correspondido. Um velho antepassado da família dos Mayfair, um fantasma, claro está, começa a perseguir Lestat para que este se afaste da família. Sem sucesso. No final, é o próprio Lestat que, surpreendentemente, consegue superar o seu próprio egoísmo e não transformar Rowan numa vampira para poder ficar com ela para sempre. Muito ao contrário do que acontece em “The Tale of the Body Thief”, em que Lestat transforma David Talbot contra a sua própria vontade, exactamente por egoísmo.
Temos, portanto, uma evolução espiritual, como o próprio Lestat admite no final.
Ah, e por falar em final, Lestat acaba sozinho. A história não é exactamente uma telenovela brasileira.
Esta é a história da redenção de Lestat, que agora sonha em ser um santo. Exactamente, um santo. E que nutre uma devoção implacável pelo recém canonizado Santo Juan Diego, vidente da Virgem de Guadalupe (México), o equivalente à nossa querida Jacinta, vidente de Fátima (sem querer faltar ao respeito a ninguém, muito menos à Nossa Senhora de Fátima que afastou das nossas águas o crude do Prestige, Deus me perdoe pela blasfémia).
Um vampiro católico, que assina a revista “Catholicism Today”, e lê todos os artigos. (Ai Jesus!... Perdoa-lhes porque não sabem o que fazem...)
Eu sempre disse que Lestat é um maníaco-depressivo. Os delírios místicos só vêm ajudar à festa. (Remember Joana D’Arc?) Com que então um santo, só porque sente remorsos quando mata meia dúzia de criminosos sem ser para os comer? Que monstro seria se não os sentisse... Pobre Lestat. Camisa de forças, já.
Mas, verdade seja dita, Lestat leva muito a sério a sua santa “missão”. Enviar almas penadas para o outro mundo, por exemplo. E não falo em mandar gente para o outro mundo. Lestat de facto exorciza fantasmas com sucesso. O que é uma prova de fé, não é? A sua fé é real.
Mas como lhe diz o fantasma, espectro dos arrogantes em geral e dos místicos em particular: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Tudo o que fazes é vaidade, e para tua própria soberba e glória! Tu pensas que os anjos não sabem o que fazes e para quem o fazes!”
O mais frustrante da história é que os sonhos de Lestat - ou viagens astrais - sugeridos durante o sono de meses em que o vampiro ficou mergulhado depois do seu encontro com Memnoch, o Diabo, não são revelados. Em Blackwood Farm, Lestat deixa escapar que foi transportado por anjos. Em Blood Canticle, Lestat recusa-se a falar no assunto quando lhe perguntam o que viu exactamente.
Quem gostou de Memnoch, principalmente, não pode deixar de questionar que mais Lestat terá visto. Mas não há resposta.
Anne Rice com falta de inspiração?

A grande paródia
Vou confessar-vos uma coisa. Raios me partam se este livro foi escrito pela própria Anne Rice! O mais provável é ter delineado a história por alto e posto alguém a escrever em seu nome.
Nota-se no estilo. Ou melhor, na falta dele. Sim, há passagens e frases em que se nota o dedo de Anne Rice. Sem dúvida. Mas tudo o resto?... Não.
Este não é um livro que eu aconselho, excepto aos verdadeiros fans de Lestat. O que eu aconselho é que, numa visita a uma livraria à vossa escolha, abram o livro e leiam o primeiro capítulo. Jesus, até mete o Papa João Paulo II! Leiam mas preparem-se para conter as gargalhadas (afinal, a malta da livraria pode não gostar). Porque é de ir às lágrimas. Sim, é um bom livro para quem gosta de comédia.
Como naquela cena em que vão bater à porta do vampiro Lestat, no seu apartamento em New Orleans, sim o célebre apartamento em que este viveu 62 anos com Louis e Claudia durante o século XIX, e é um motorista de Blackwood Farm à procura de Quinn (o patrão), que diz ter sido informado pelos Mayfairs que podia encontrá-lo ali. E diz Lestat: “Não sei porque é que não ponho um anúncio luminoso à porta”. Conseguem imaginar, em néon azul, a piscar: “LESTAT DE LIONCOURT, VAMPIRO”? Ou “SÃO LESTAT MORA AQUI”? Ou “SÃO LESTAT, VAMPIRO, EXORCISTA”?
Ou o tal primeiro capítulo de que falei atrás, em que Lestat se mostra como o verdadeiro American Vampire (semelhanças com American Psycho não são coincidências), the Rockstar, o Lestat do século XXI que usa expressões como “Yeah baby” e “pa-lease”.
Aliás, parece-me que todo o livro está escrito em jeito de paródia. Vampiros que mais parecem gangsters da Máfia. Exactamente, da Máfia.
Penso que Anne Rice queria de facto dar um fim ao vampiro Lestat, e às Vampire Chronicles, e já agora às Mayfair Witches, e juntou tudo e se pôs a gozar com os personagens que criou. Teria sido mais digno matar o vampiro Lestat no World Trade Center, a 11 de Semtembro de 2001. Assim, chorava-se mais e melhor.
Há em Blood Canticle todo um ritmo diferente. Nem se justificaria o contrário. As histórias anteriores cobrem séculos e séculos. Todo o encanto do passado, os vestidos de boneca de Claudia, a Renascença de Marius, o chapéu alto de Louis, os fraques oitocentistas do jovem Lestat, tudo isso se esfumou. É um mundo de computadores e telecomandos e telemóveis. É o nosso mundo. Exactamente. Vampiros a viver no nosso mundo. Vampiros que se alimentam de barões da droga e proxenetas de prostitutas de Leste. É preciso ter isto em mente ao pegar em Blood Canticle. Monsieur Lestat de Lioncourt é agora Lestat, a estrela pop. Ou se gosta, ou se odeia.
Os livros que eu aconselho: “Entrevista com o Vampiro”, “O Vampiro Lestat”, “The Tale of the Body Thief”, “Memnoch the Devil”, “O Vampiro Armand”, “Merrick”, “Blood and Gold” (excelentemente escrito). Eu não fiz a crítica a “Pandora” (porque já li há muito tempo e nem sequer tenho o livro, foi emprestado), mas também não é de desprezar.
De igual modo, em conversa com outro fan por aí na World Wide Web, foi-me dito que “Vittorio” é ainda melhor que “O Vampiro Armand”. Estava a falar com um especialista, o que me leva a desejar muito adicionar “Vittorio” à lista de compras. Já agora, não quero desprezar “The Queen of the Damned” por causa do único capítulo que se lhe aproveita, a história de amor doentio entre Armand e Daniel. Se puderem saltar tudo, saltem. Mas esse capítulo é lindo, acreditem.
Eh bien. Está tudo.
O que se segue é privado. Fechem os olhos.



Adieu, mon ami

... mas uma terrível Contrição apoderou-se de mim, uma profunda consciencialização que todos os meus poderes eram poderes tenebrosos e todos os meus talentos maléficos, e nada podia vir de mim senão o Mal, fizesse eu o que fizesse.

“O Jardim Selvagem”, murmurei. (...) É apenas uma frase que eu costumava usar para a Terra”, disse eu, “nos velhos tempos em que não acreditava em nada, em que acreditava que as únicas leis eram as leis da estética. Mas eu era jovem e novo no Sangue e estúpido, à espera de mais milagres. Antes de saber que nós sabemos mais de nada, e nada mais. Às vezes penso na frase de novo quando a noite está como esta, tão acidentalmente bonita.”

Lestat, havia tanta coisa que eu te queria dizer. Tanta coisa que eu te podia ensinar. Tenho acompanhado a tua vida com apreensão e alguma satisfação pela tua evolução. A verdade é que te julgo um bocado estúpido, não nego. Para arrogante, arrogante e meio. Mas como é que te demorou 200 anos a acreditar no transcendente?!
Talvez esteja a ser demasiado exigente contigo. Não sei. Sou apenas humana e tão ávida como tu. E tão arrogante como tu. Penso que foi isso que me atraiu em ti, essa espampanante arrogância, essa tua falta de vergonha de assumir perante o mundo que és um convencido de primeira. Porque não há nada pior do que um convencido que não se assume. (Há muitos.)
Mas eu sei que és capaz de reconhecer que estás errado se apenas to mostrarem. E eu tinha tanto para te mostrar. Para começar, que para nos tornarmos pessoas melhores é preciso aceitar o sofrimento. A dor é apenas o prelúdio da felicidade. A morte é apenas uma passagem. A beleza não está no mundo mas nos nossos olhos. Muitos olham e não vêem. Não tenhas medo de deixar a Terra. Olha mais para cima. Não tenhas medo dos anjos. Não tenhas medo da morte.
Mas, alas, desapareceste. Desfiz-me em lágrimas ao fechar o último livro, porque é o último livro. Sei que te vou esquecer. Nunca te vou esquecer mas vou irremediavelmente esquecer-te. Como eu gostava que ficasses para sempre.
O que tu me ensinaste ainda não sei. O teu percurso é rico em experiências e a tua vida é única. E agora acabou.
Temos um ritual de família quando morre alguém. Tomamos uns comprimidos e vamos dormir. Quando acordamos a dor está lá à mesma, mas já não é tão grande. E todos os dias vai sendo menor. Foi o que fiz hoje. Adormeci em lágrimas.
Mon ami, como gostei da tua companhia! Vou ter tantas saudades, acredita!
Como se faz o luto por alguém que nunca morre? Como se agradece a quem nunca foi? Em que sepultura se deixam as minhas flores para ti?
Je t’aime toujours. Ficamos assim. D’accord?
Ah, et merci. Beaucoup.

PS: Talvez um dia te volte a escrever. Quem sabe?... E porque raio não? Afinal, continuas aí, algures, no mesmo sítio onde sempre estiveste.




Eh bien. Arrumar os livros. Isto lembra-me que tenho de me desfazer de alguns. Estão a ocupar espaço e não preciso deles para nada. Porque, primeiro, não vou ter filhos a quem os deixar e, segundo, nunca leio o mesmo livro duas vezes.

Requiem pelas Vampire Chronicles

Para vos facilitar a vida (e a minha), aqui ficam os links para todos os artigos do blog antigo onde eu fiz críticas aos livros, comentários e confissões sobre as Vampire Chronicles, por ordem cronológica.
Foram oito meses da minha vida dedicados a uma agradável obsessão. Chegou a altura de fazer o luto.

Apanhada nas malhas do vampiro...
Fangs
Body and soul?
Os vampiros também não prestam
A minha última paixão
Quem não gosta de um cão?
“Entrevista com o vampiro”
Louis, o gótico
Comentários vampíricos
Comentários góticos
“O Vampiro Lestat” - o livro
Armand, a hárpia
“Queen of the Damned”
Comentários: filmes e livros e livrarias
Memnoch the Devil - o livro
“O vampiro Armand” - o livro
Anne Rice é uma ganda tia
Anne Rice é uma ganda tia II
Pensamento do dia
“Merrick”
“Blood and Gold” - a história de Marius
“You could call me a Goth, I think”
“Blackwood Farm”, Anne Rice

sexta-feira, 17 de setembro de 2004

Grupo Gotika Blog no MSN

Seguindo a sugestão da Yuna - que por acaso acaba de anunciar o fim do seu blog - decidi criar um grupo no MSN onde também podemos conversar em chat (tempo real) e que talvez seja mais user friendly para as pessoas que não sabem ou não podem usar o IRC.

O endereço do grupo é:
http://groups.msn.com/GotikaBlog

O grupo é privado: "Particular - Ninguém pode exibir este grupo sem antes se inscrever e ser aprovado pelo gerente." Sendo o "gerente" a minha pessoa. (É português do Brasil, amigos.)

Para fazerem parte do grupo precisam de estar registados no MSN ou ter uma conta de correio no Hotmail (que é o mais comum).
Depois vão a http://groups.msn.com/GotikaBlog e inscrevam-se.

Além do chat, o grupo também permite um fórum de discussão e partilha de documentos, entre outras funcionalidades que não sei até que ponto interessam.
E pronto. Agora deixem lá de dizer que eu sou misteriosa.
Eu, misteriosa? Eu, que agendo conversas a hora marcada?
Por falar nisso, não sei quando será a próxima, nem onde. Se houver muita participação no grupo podemos experimentar por lá.

Fico à vossa espera.



Edição: Ah, sim! Há uma opção de eu vos convidar a todos por mail mas não me obriguem a fazê-lo. Tenho dois livros para acabar de ler este fim de semana! Não é brincadeira!

quinta-feira, 16 de setembro de 2004

Literatura

Eu gosto de falar dos livros que leio e contar a história "por alto". O suficiente para interessar ou desinteressar o possível leitor. Os livros estão muito caros e a vida não está para investir em cultura. (Investir? Investimento implica retorno. Investir na cultura é um mau investimento. As pessoas até levam a mal quando alguém tem uma cultura geral que ultrapasse as equipas da Super Liga. Mas isso é material para outro post depressivo).
É por isso que vou reproduzir este mail que me mandaram. Muitos já devem ter lido, mas é sempre bom recordar.
(Entretanto, finalmente decidi ler o último livro das Vampire Chronicles, "Blood Canticle". Estou quase a terminar. Andei a adiar durante meses. Está a custar-me chegar ao fim, dizer adeus ao vampiro Lestat e à sua vida turbulenta. Sinto-me de luto. Um luto cada vez mais carregado à medida que viro mais uma página. Eh bien. C'est la vie.)
Voltemos ao humor:

«Para quem tem pouco tempo para ler, para quê perder tempo a ler milhares de páginas!!!
Aqui vão os resumos:

-Leao Tolstoi -"GUERRA E PAZ" ( 1800 páginas )
resumo:
Um rapaz não quer ir à guerra e por isso Napoleão invade Moscovo.
A rapariga casa-se com outro.
FIM

>-Luis de Camões - "LUSÍADAS" ( várias edições )
resumo:
Um poeta com insónias decide chatear o Rei e contar-lhe uma história de marinheiros que, depois de alguns problemas (logo resolvidos por uma deusa porreiraça), tem o justo prémio numa ilha cheia de gajas boas.
FIM

-Gustave Flaubert -"MADAME BOVARY" ( 378 páginas )
resumo:
Uma dona de casa encorna o marido com
o padeiro
o leiteiro
o carteiro
o homem do talho
o merceeiro
e um vizinho cheio de massa.
Envenena-se e morre.
FIM

-William Shakespeare -"HAMLET"
resumo:
Um príncipe com insónias passeia pelas muralhas do castelo, quando o fantasma do pai lhe diz que foi morto pelo tio que dorme com a mãe, cujo homem de confiança é o pai da namorada que entretanto se suicida ao saber que o principe matou o seu pai para se vingar do tio que tinha matado o pai do seu namorado e dormia com a mãe. O príncipe mata o tio que dorme com a mãe, depois de falar com uma caveira e morre, assassinado pelo irmão da namorada, a mesma que era doida e que se tinha suicidado.
FIM»

domingo, 12 de setembro de 2004

Pensamento do dia

Tenho sempre boa sorte quando a sorte depende de mim. O pior é quando não depende.




(Este é da minha autoria e foi inventado mesmo agora, em resposta a um mail de um leitor deste blog.)

sexta-feira, 10 de setembro de 2004

Rapidinha

Obrigada todos os que deixaram comentários de boas vindas.
Eu estou atarefada com um computador novo - yesss!!! - e trabalho atrasado.
Só queria, muito rapidamente, agradecer e deixar duas informações:
O blog Gotika (no Sapo) vai lá ficar para arquivo.
A montagem que serve de cabeçalho a este blog foi feita por mim a partir da gravura de Dürer, Melencolia I, que também pode ser vista aqui. (Vou ter de pôr esta informação permanentemente aqui no blog, mas já não vai ser hoje...)

sexta-feira, 3 de setembro de 2004

Um novo começo

Não muito diferente do anterior...





"Flower Cats", Louis Wain
dezembro 23, 2003