terça-feira, 8 de julho de 2025

Exorcist II: The Heretic / Exorcista II: O Herege (1977)

Encontrei este filme num canal de cinema e fiquei em choque. Não me lembrava mesmo nada de o ver, o que só pode querer dizer uma de duas coisas: ou tinha perdido a sequela de “O Exorcista” com Linda Blair e Richard Burton, ou vi e é uma porcaria. Infelizmente, é a segunda opção.
Começa com o padre Lamont (Burton), um exorcista, a ser incumbido da investigação da morte do padre Merrin, que morreu durante o exorcismo de Regan MacNeil. As autoridades da igreja estão motivadas a dizer que Merrin morreu porque era um herege, que se lançou voluntariamente para as mãos de um demónio, se ninguém limpar o seu nome.
Regan é agora uma adolescente feliz e normal (e uma Linda Blair muito mais crescida e rechonchuda) que alega não se lembrar de nada do que se passou na altura, embora a mãe a obrigue a fazer psicoterapia. É exactamente nesta psicoterapia que Lamont e Regan decidem ser submetidos a hipnose, o momento mais aterrador do filme porque eu já não suportava aqueles holofotes a apagar e a acender e acho que se me forçassem a olhar para eles também começava a ver demónios. Mas avancemos. 

  

Sim, esta cena aconteceu. Não me perguntem, eu também não sei o que se passa aqui.

Nesta hipnose, Lamont desconfia que Regan já não está possuída mas que ainda tem uma ligação inconsciente com Pazuzu. Através desta ligação, Lamont descobre que Merrin exorcizou um outro jovem, Kokumo, em África. O que é que Kokumo tem em comum com Regan? Ambos aparentam ter poderes de cura. Assim, foram possuídos porque são “do Bem” e Pazuzu fez deles um alvo. Lamont vai para África à procura de Kokumo e comete a tremenda estupidez de dizer aos nativos que ouviu falar dele através de Pazuzu. Quase é apedrejado e tem de fugir. Por alguma razão, Lamont decide então invocar Pazuzu para encontrar Kokumo, agora um cientista que estuda pragas de gafanhotos, um símbolo de Pazuzu que, ficamos a saber, é um Espírito do Ar.
Depois disto tudo, Lamont regressa à América e decide levar Regan à casa onde o exorcismo se passou. Lá, Pazuzu aparece na cama em forma de Regan, tentando Lamont sexualmente, e a certa altura temos uma cena em que Burton está a beijar a falsa Regan enquanto a verdadeira Regan olha com repulsa. E não é preciso contar mais nada porque já é suficientemente mau.
“Exorcist II: The Heretic” é um filme confuso e rebuscado que só foi feito para lucrar com o original e, digo eu, explorar a natureza sensual de uma Linda Blair adulta e bem desenhada (daí o beijo, e os vestidos de Blair a mostrar-lhe perfeitamente as formas, etc). Em suma, este filme é um verdadeiro horror no pior sentido. Sim, acho que afinal até o vi, mas recalquei a memória traumatizante para não manchar “O Exorcista” no meu inconsciente. Ainda por cima é um filme chato em que não acontece nada apesar das voltas todas que dá. As únicas cenas que nos conseguem assustar foram “fabricadas” a partir do original, e a única parte que nos impressiona é o regresso à casa, porque é lá que está o que nos aterrorizou e o filme sabe disso e quer explorar-nos também. Não há nada que aconteça aqui que tenha pés e cabeça. Porque é que Regan aceitaria voltar à casa depois de se lembrar de tudo? Como é que Lamont, um exorcista, se põe a invocar o demónio que matou o homem cujo nome quer limpar (tornando-o no verdadeiro “herege” da história)? Porque é que Pazuzu se manifestou em forma de Regan em vez de possuir a Regan de carne e osso que estava ali mesmo ao lado? Porque nem Pazuzu quer ter nada a ver com este enredo.
O pecado mortal do filme, no entanto, o que o tornou blasfemo para mim, foi ter tentado explicar que Regan foi possuída por ser tão boazinha. Ora, o que torna o “O Exorcista” um filme aterrador é que não há razão. Um demónio consegue apossar-se de uma criança porque pode, ponto final. A ser levado a sério, este filme destruiria tudo o que o original representou. Por esta razão, declaro que “Exorcist II: The Heretic” é uma heresia que nunca devia ter visto a luz do dia.
A única virtude desta monstruosidade foi ter fornecido informação sobre a natureza de Pazuzu, que acabou por ser melhor aproveitada em filmes posteriores. As cenas em África têm uma beleza e uma atmosfera inquietante, concedo-lhe esse mérito. Tirando isso, se não viram, ou esqueceram, também não vale a pena ir ver excepto por uma questão de arqueologia cinematográfica.
Falando em arqueologia, se calhar o filme até merece ser visto só por causa da moda dos anos 70. Os vestidos de Regan parecem camisas de dormir e a certa altura ela usa um macacão de calções em cetim brilhante que parece um pijama. Tendo em conta o contexto, eu acreditei mesmo que a miúda tinha saído para a rua de pijama porque estava perturbada, mas não, é mesmo a moda da época. Apavorante.

10 em 20 (para ser boazinha como Regan)

 

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