domingo, 9 de julho de 2023

Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul de Bordéus (2011)

Aqui há uns tempos houve um programa de televisão que promoveu a eleição do maior português de Portugal. O voto era por chamada telefónica de valor acrescentado, o que significa que quem vota mais vezes (e tem posses para o fazer) consegue ganhar.
Quem se lembra deste episódio infeliz recordará que acabou num empate entre António Salazar e Álvaro Cunhal. (Tipo os comentários do Observador…)
Eu votei neste homem, Aristides de Sousa Mendes, sem dúvida o maior português do século XX. Como cônsul de Bordéus durante a Segunda Guerra Mundial, Sousa Mendes emitiu 30 mil vistos de passagem para Portugal contra as ordens do regime, salvando, inclusive, 10 mil judeus. Por isso é hoje reconhecido pela comunidade judaica como um Justo Entre as Nações (gentios que arriscaram suas vidas durante o Holocausto para salvar vidas de judeus do extermínio pelo nazismo), o que não é para todos.
Esta é a história de como Sousa Mendes ignorou as directivas de Salazar, obedecendo antes à sua consciência extremamente católica (ironicamente). Uma das cenas mais tensas do filme é quando o cônsul recebe um telegrama directamente do Professor Salazar, e mesmo assim persiste em passar vistos a eito, até não poder mais, inclusive numa mesa de café, já os alemães invadiam a França. Com isto, Sousa Mendes salvou 30 mil vidas.
É claro que desconheço os pormenores da intimidade do cônsul (interpretado por Vítor Norte), mas o filme dá a entender que numa primeira fase Sousa Mendes acreditava que Salazar ia “compreender”. O que lhe aconteceu foi acabar a vida na miséria.
O filme é maioritariamente contado através da perspectiva de um miúdo judeu que sobreviveu graças a Sousa Mendes. É interessante, mas roubou-nos muito do que aconteceu depois ao cônsul caído em desgraça.
Ficou na ruína e na miséria… e depois? Aristides de Sousa Mendes tinha 14 filhos, era rico. O que significa a ruína para um homem destes? Vou fazer o papel de advogado do Diabo e vou ser muito directa. Ser generoso, quando se é rico, quando nunca se passou privações na vida nem se sabe o que isso é, quando sempre se teve mansão onde morar e criados a servir, não é a mesma generosidade (nem a mesma miséria) de quem nasceu pobre e tem de fazer das tripas coração para sobreviver. Não estou de modo algum a diminuir o heroísmo de Sousa Mendes, mas o que significou a ruína para ele, exactamente, e para os filhos dele? Foram impedidos de estudar por falta de posses? Acabaram como carpinteiros, cerzideiras, mecânicos, cozinheiras? Passaram fome? Faltou-lhes roupa para vestir? Passaram frio de inverno? Esta foi a parte do filme que eu queria ter visto e que não foi abordada. Bastavam uns 10 minutos no fim, até menos. Uma reflexão do protagonista sobre o que fez e o que perdeu também seria interessante.
Este ainda não foi o filme sobre Aristides de Sousa Mendes que eu queria ter visto, mas é melhor do que nada.

14 em 20

 

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