Uma série semelhante a “The X-Files”, “Sobrenatural” e “Fringe” só podia correr bem, não? Não. Foi um desastre. Nota-se que é um desastre quando de temporada para temporada os protagonistas vão desaparecendo (fugindo a sete pés). Nota-se quando o primeiro genérico era tão semelhante ao de “X-Files” que na segunda temporada tiveram de mudá-lo para uma cantiga horrorosa que podia ter ido à Eurovisão. Por alguma razão alguém acreditou na primeira e segunda temporadas de 13 episódios e encomendou uma terceira, com 20. A quarta temporada já volta a ter apenas 13 e já são demais.
A única coisa boa desta série é mesmo a protagonista, Amanda Tapping, que alguns leitores reconhecerão como o anjo Naomi de “Sobrenatural” (sim, aquela que torturou Castiel e acabou a mandar no Céu na falta de “pessoal”) ou num papel ainda mais insignificante nas duas primeiras temporadas de “Travelers”. (Grande despromoção, há que dizê-lo, que a actriz até nem merecia.)
Amanda Tapping faz o papel de Helen Magnus, uma benfeitora que cria um santuário para todos os seres anómalos (e não “anormais”, como as legendas começaram a chamá-los) que existem escondidos no mundo. Helen Magnus é uma mistura de “caçadora” e cientista. Mas ela própria tem um segredo, a sua longevidade. Porventura o mais interessante da série toda é que Helen Magnus e um grupo de amigos cientistas, no século XIX, descobriram os últimos vestígios de Sangue Puro de vampiro, raça já extinta, que em tempos escravizou a humanidade. Este Sangue Puro causa efeitos diferentes em cada um dos cientistas que se submeteram à experiência. (Porque é que os efeitos são diferentes? É melhor não fazer perguntas difíceis.)
Nem vou criticar que esta série meta Jack the Ripper, Dr. Jekyll e Mr. Hyde, Nicola Tesla, Sherlock Holmes (ou melhor, o discreto Watson) e o Homem Invisível. (Sim, leram bem, o Homem Invisível.) Tinha tudo para ser uma grande série. Excepto enredo.
A cada episódio eu tinha a sensação de já ter visto aquela história noutro lado. Algumas histórias eram o filme “Aliens” ou “The Thing”, outras os “X-Files”, outras talvez histórias de ficção científica que eu não vi nem quero ver. Há um episódio, por exemplo, todo “inspirado” em “Queen of the Damned”, e a gente já sabe que a
Akasha não era exactamente boa pessoa. Acho que de todos os enredos pilhados aqui e ali este é o que eu menos consigo perdoar.
O mais ridículo mesmo (lá está a mania com o Júlio Verne) foi a Terra Oca, onde existe uma civilização muito mais avançada do que a nossa e completamente secreta. Mas isto não fica por aqui. Se pensam que é o núcleo da Terra que provoca terramotos e maremotos, desenganem-se. O que existe no fundo do mar é uma gigantesca aranha, meio-animal meio-entidade cósmica (até lhe chamam Kali, a deusa indiana) que de vez em quando acorda e faz das suas.
Por esta altura eu já não sabia se havia de rir ou chorar.
É verdade que a série é “antiga” (2008), mas para todos os efeitos é uma série americana (e não daquelas séries europeias escritas em cima do joelho de episódio para episódio), e já não se esperava algo tão mauzinho em 2008.
Às vezes vejo séries por serem más, muito más, para não perder a perspectiva do que é realmente muito mau. É o caso de “Santuário”. Mas quem quiser entretenimento sem ter de pensar muito (ou nada) com Fantasia Urbana, ficção científica duvidosa, uma aranha gigante, e uma história de vampiros mal desenvolvida, faça favor. Ah, também há um lobisomem, uma sereia e um Abominável Homem das Neves. Não falta aqui nada. Até tem coisas a mais.