Um recente convite para falar da cultura gótica numa revista masculina (?!) online transportou-me por curiosos pensamentos. Curiosos pensamentos que me levaram a encontrar esta imagem do que chamaria "gótica à beira de um ataque de nervos", assim mesmo, à Almodovar. Porque gótica sofre! E sofre principalmente com a falta de jeito com que alguns similares do género oposto (e igual) tentam engatar.
Meninos (e meninas), que a minha experiência de velha gótica sirva para alguma coisa -- actualmente já não serve para mais nada senão para dar conselhos -- e tomem lá algumas dicas de como engatar "aquela" que vos prende o olhar... Aqui está, para principiantes, como engatar gajas góticas:
Primeiro que tudo, meus amigos, o visual. A beleza interior é muito linda, mas numa cena como a gótica o vosso visual diz tudo. Meus amigos, metam isto na cabeça, podem até ser feios que nem uns sapos, não fiquem naquela "não vale a pena vestir-me bem porque sou tão feio que nenhuma gaja boa vai olhar para mim". Errado! Há milhentos casos de feios, muito feios, até ao longo da História (olhem o Napoleão), que se tornam grandes conquistadores graças ao visual e à personalidade. Que isso não sirva (mais) de desculpa.
Tendo isto em mente, vamos lá a caprichar no visual e na auto-confiança.
Infelizmente para uns, e felizmente para outros, visual e auto-confiança não bastam. A personalidade conta, e ter alguma coisa na cabeça conta ainda mais, mas este artigo não trata de relações a longo prazo.
Quer-se aqui falar da aproximação, passo sem o qual, fatalmente, não se chega a lugar nenhum.
Perguntar-me-ão, logicamente, então como chegar até àquela inacessível desconhecida a quem tanto se deseja conhecer, sem o risco de levar uma tampa?
Muito simples. Antes de se porem a fazer conversa, olhem-na nos olhos. Bem nos olhos. Assim mesmo, sem hesitar. De longe, ninguém se aleija. O que esses olhos vos disserem será o caminho a seguir. Se a reacção dela for desviá-los com desinteresse, não vale a pena sequer aproximarem-se. É óbvio que não houve química. Quem mesmo assim decidir arriscar avançar, fá-lo-à por sua conta e risco.
Mas se houver um olhar de interesse, desviem então o vosso. Nenhuma mulher gosta de ser olhada com insistência, isso vos garanto.
Se o primeiro contacto visual for positivo, é altura de avançar para a fase seguinte.
Pois é, como é que eu a conheço?
É esse o benefício de pertencer a uma sub-cultura tão hermética a todos os demais. Enquanto no mundo lá fora (excomungado seja) é preciso andar às voltas e voltinhas a tentar descobrir amigos comuns que os apresentem, ou usar aquelas frases fatelas do "posso conhecer-te?" (aliás, frase proibida!!!), porque não ir directamente à fonte?
-- Alto! Muita atenção aqui nisto! Ir à fonte, sim, mas sem demonstrar muita sede!!! Agora podemos continuar. --
Há sempre uma altura em que a menina/senhora fica sozinha. Uma altura especialmente propícia é quando ela vai ao bar. O que dizer? Algo de absolutamente único e original. Algo que tenha a ver com interesses partilhados. (Porque vamos lá admitir, se não há interesses em comum, de que importa?) Podem, por exemplo, perguntar-lhe que música era aquela que ela estava a dançar, porque gostaram e não sabem ao certo o nome da banda. (Mesmo que saibam, se a coisa correr bem ela até perdoa mais tarde.) Ou falem do símbolo que ela ostenta no anel. Mas por amor de Deus, falem do que sabem! Só uma perguntinha "esse não é o símbolo de...?" não ofende ninguém.
Em derradeiro caso, quando não sabem mesmo nada, por patetice que eu pessoalmente possa achar, podem sempre recorrer a outro célebre recurso que é apelar ao oposto: "Desculpa, estive a observar-te e não reconheço o teu estilo. O estilo é giro. Muito original." E depois dos elogios, que caem sempre bem, atirem a bomba: "Onde se compram calças dessas?". Qualquer mulher vos dirá onde comprou, quanto custou, e onde se arranja mais barato.
Se fordes inteligentes, já percebestes onde acabastes de chegar, ò cavaleiros. Estais neste momento em plena conversa com a eleita! É agora! É o tudo ou nada! Ela responde, e tira-vos a radiografia, e é aqui que nada pode falhar. Este é o momento dela, em que vos escolhe ou rejeita, por muito tímida ou faladora que se venha a revelar. Ela é que guia. Ela é que manda. Atenção a todos os movimentos, a todos os olhares. Estais sob julgamento. Estais, possivelmente, também a ser cheirados. Lembrai-vos bem disto.
Se a partir daí se inicia uma breve conversa e ela sorri e se despede, não é de perder a esperança. Se estiver interessada, ela volta mais tarde. Quão mais tarde não se sabe. Quem manda é ela. Se não voltar, não insistam também.
Se pelo contrário, ela é do tipo falador, e se detém, enquanto as cervejas que devia levar para os amigos arrefecem...
jackpot! Contacto!
Agora não estraguem.
Lembrem-se de que há uma romântica dentro dela. Não pode ser de outra maneira. E uma romântica gosta de romantismo. De um cavalheiro à moda antiga. Se a ocasião se proporcionar, paguem uma bebida. Acendam-lhe o cigarro antes que ela puxe do isqueiro. Ofereçam-se para tomar conta do casaco. Uma dama merece um cavaleiro à altura. Qualquer romântica sonha com um príncipe encantado. Afinal, só um príncipe encantado desperta a bela adormecida.
A partir daqui, meus bravos, estais por vossa conta. O gelo quebrou-se, olhais para o outro lado do espelho. O que lá virdes, já não me diz respeito.
E que haja amor! :)