1917, França, linha da frente da Primeira Guerra Mundial. Na sequência de uma retirada dos alemães, os jovens cabos Blake e Schofield são incumbidos da difícil missão de avisar um batalhão britânico que pretende avançar e atacar de que a retirada é uma armadilha que resultará num massacre de 1600 mil homens, um deles o irmão mais velho de Blake. O cabo Blake terá sido escolhido exactamente por este motivo e não podia estar mais motivado, mas o seu companheiro, Schofield, tem sérias dúvidas quanto à missão que os obrigará a atravessar a terra-de-ninguém entre os dois exércitos, e isto durante o dia para chegarem a tempo. (As semelhanças deste enredo com "Saving Private Ryan" são óbvias, mas terminam por aqui.)
Do que li, o que mais impressionou os críticos foi a maneira como o filme foi filmado, aparentemente num único take (não foi, mas parece) que segue os dois protagonistas e nos dá a sensação de os acompanhar desde as trincheiras aos campos bombardeados onde os corpos se amontoam, em crateras de lama, comidos pelos ratos e os corvos.
"1917" é um drama de guerra, mas o que me impressionou mais, pessoalmente, é que é filmado como se fosse um filme de terror. Por exemplo, quando eles entram nas trincheiras alemãs abandonadas mas ainda encontram brasas acesas, ou quando chegam a uma quinta deserta e descobrem um balde de leite acabado de ordenhar, como se toda a gente tivesse fugido à pressa, deixando para trás até os víveres mais preciosos. Todo este cenário de "abandono à pressa" é típico de filmes de terror em que um grupo inimigo foge de algo ainda pior que aguarda os protagonistas mais à frente (por exemplo, "Predador"). Houve momentos em que não me admiraria, sinceramente, que acontecesse algo de sobrenatural ou que aparecesse um monstro alienígena que tivesse afugentado os alemães. Noutra cena, num aldeia bombardeada e em chamas, um soldado alemão aparece de uma nuvem de fumo, mas, palavra de honra, parecia antes um Freddy Krueger a perseguir o protagonista que teve de fugir a correr pelas ruas desertas (por esta altura ele já estava desarmado), ou, noutra cena em que Schofield cai ao rio e tem de nadar e subir por cima de cadáveres inchados entre ele e uma represa, não me espantaria nada que estes fossem zombies. Duvido muito que fosse essa a intenção do realizador, mas foi o que o filme me sugeriu: um filme de guerra filmado como se fosse um filme de terror, e de igual modo arrepiante.
Mas perguntar-me-ão: um filme de guerra, por si só, não retrata o terror? Sim, a guerra é o pior terror que as pessoas inventaram para fazer mal umas às outras, mas não falo das metralhadoras, das granadas, das trincheiras enlameadas, da fome, das doenças, dos milhões de mortos. Isso são terrores naturais. A sensação que tive ao ver "1917" foi a de que, a qualquer momento, o género ia transformar-se de drama de guerra em puro terror, e se calhar foi por isso que gostei tanto, e que também fiquei um bocadinho desiludida por ser só guerra.
Mas tenho a certeza de que isto só sou eu, consumidora massiva de filmes de terror que de vez em quando vê uns dramas de guerra como este, um filme realista que nos mostra os vários cenários da Primeira Guerra Mundial como eles eram, mas com um misto de horror e beleza cinematográfica impossível de descrever, e que, apesar da cinematografia deslumbrante, cria uma tensão em crescendo que nos inquieta e que vai ser difícil de esquecer.
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