domingo, 17 de novembro de 2024

The Bell Jar, de Sylvia Plath

Uma personagem de uma série de televisão descreveu este livro como “uma viagem ao abismo”. Confesso que fiquei surpreendida porque não sabia que Sylvia Plath tivesse escrito um romance (sempre a conheci como poetisa) mas o tema interessou-me imediatamente. Com efeito, “The Bell Jar” é o único romance de Sylvia Plath, publicado originalmente sob o pseudónimo Victoria Lucas, em 1963, tendo em conta que é uma obra autobiográfica com personagens ficcionais.
A história passa-se em 1953. Esther Greenwood, uma aluna excepcional de 19 anos consegue um estágio numa revista de moda, junto com algumas colegas. Esther vem de uma família pobre, e sempre se empenhou com afinco para conseguir prémios e bolsas para financiar os estudos, mas subitamente percebe que não sabe que carreira escolher ou mesmo se prefere casar e ter filhos. Esther é daquelas pessoas que fingem sempre que está tudo bem e não desabafam com ninguém, e do seu relato na primeira pessoa nota-se perfeitamente uma baixa auto-estima.
Na verdade, o que Esther quer ser é poetisa e escritora, e depois do estágio inscreve-se num curso de escrita onde não é aceite. Esta foi a gota de água que provocou o que nós chamaríamos hoje um esgotamento nervoso: Esther mete-se na cama embora alegue que não consegue dormir, deixa de comer, deixa de tomar banho. Estes são sintomas de depressão profunda à mistura com a ansiedade perante o futuro que Esther não consegue enfrentar.
A mãe leva-a ao psiquiatra que, logo de rajada, prescreve choques eléctricos. Esther recusa voltar ao médico, mas começa obsessivamente a planear o suicídio que quase consegue executar com comprimidos. Descoberta a tempo, é internada num hospital psiquiátrico (à altura chamado manicómio/hospício) onde é “tratada” com mais choques eléctricos e insulina (!), a par com alguma psicoterapia. Por esta altura penso que o problema de Esther já não é simplesmente depressão, especialmente quando ela começa a pensar que os médicos “estão todos feitos uns com os outros”. Isto parece-me mais esquizofrenia paranóica. Esther sente-se isolada do mundo, como que dentro de uma redoma de vidro (the bell jar) que não a deixa respirar, e mesmo depois de ter alta do hospital receia que a redoma volte a asfixiá-la no futuro.
O que mais me impressionou nisto tudo (talvez da minha experiência pessoal) foi a falta da raiva que Esther nunca chega a expressar. Isto, confesso, chocou-me. Nada como uns pontapés nas mesas e cadeiras para curar a depressão. Mas Esther deixa-se levar passivamente, quando não em lágrimas. “Electrochoques? Está bem.”, “Sou maluquinha? Está bem.”, “Merecia estar num hospício de maior segurança? Está bem.”
É claro que isto é nos anos 50 em que o lugar de uma mulher era muito diferente. A grande conquista de Esther, à altura, é começar a usar contraceptivos para não ficar grávida e dependente de um homem.
“The Bell Jar” tem sido visto ao longo das décadas como um precursor da literatura feminista e, sinceramente, não sei o que dizer quanto a isto. O feminismo nos anos 60, 70, 80, já não tem nada a ver com o feminismo dos nossos dias. Acredito que este livro, na altura da publicação, tenha sido uma pedrada no charco. Esther fala de dificuldades económicas, ambições, sexo, contracepção, depressão, suicídio, e do seu enorme desejo de ser uma mulher independente que faz o que quer.
O estilo de escrita é muito desequilibrado, na minha opinião. Por um lado, como poetisa que é, Plath é capaz de nos deslumbrar com imagens inesperadas, mas o tom geral da narração é a de alguém que está a escrever um post à pressa no Facebook (ou num diário secreto), sem se importar muito com a linguagem. Talvez seja esta informalidade que ainda capture o interesse de geração após geração, apesar do tema sombrio.
Gostaria que o livro me tivesse tocado mais, mas, muito honestamente, para mim só funcionou como documento histórico dos tratamentos brutais a que submetiam os pacientes psiquiátricos.


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