Sempre quis escrever uma história de Natal.
Isto pode surpreender os leitores que me têm acompanhado por aqui porque já não é a primeira vez que eu digo, e repito, ODEIO O NATAL. Odeio o Natal com uma paixão que nem o Mr Scrooge do Dickens conseguiria igualar!
Deve ser por isso, porque tudo o que se odeia com paixão é uma paixão também, que sempre quis escrever uma história de Natal.
Mas já lá vamos, porque entretanto lembrei-me de que me esqueci de vos contar, ou não encontrei uma boa oportunidade de o fazer antes, que tenho andado a escrever. Sim, todo este tempo em que tenho andado "desaparecida" aqui do blog, tenho andado a escrever. Histórias. Romances. Narrativa. Chegou a um ponto em que tive de arranjar um pseudónimo para a minha outra escrita, como poderão ver na capa que alguém sugeriu que eu fizesse para este conto de que vos vou falar.
E como não me apetece falar da minha escrita toda agora (isso será, talvez, ou talvez não, matéria para outro post), vamos lá ao conto.
Sempre quis escrever sobre o Natal. Escrever ficção sobre o Natal, para dessa forma "transformada", "segura", "distanciada", expressar a minha ambivalência sobre esta altura do ano que paira no horizonte imediato.
Porque é assim, e toda minha vida me custou a compreender, até ao dia em que se fez luz: odeio o Natal mas celebro o fim de ano, e agora sei porquê. Já não tento explicar, agora que sei porquê, mas consegui fazer melhor. Consegui criar a partir do que era para mim uma época do ano temível e temida. Não mudei de ideias, mas integrei-as.
Solstício é um conto em que personagens do meu universo celebram a noite mais longa do ano, esta noite que propositadamente escolhi para vos oferecer esta história.
Ainda pensei publicá-la aqui, capítulo a capítulo, mas não acho que este seja o lugar mais indicado para ela e criei-lhe outro lar. (E com fundo branco e letras pretas, para ajudar à leitura.)
Solstício pode ser lido, integralmente, aqui.
Quem preferir, e tiver conta, pode ler no Wattpad, uma plataforma que permite ler no telemóvel, também offline.
Deixo-vos com uma citação, melhor compreendida no contexto:
E Eric voltou a baixar os olhos, uma sombra de amarga inveja a endurecê-los. Era sempre assim, por aquela altura do ano. Todos tinham uma família, todos tinham quem os esperasse. Todos, excepto uma outra, a sua antiga serva, tão infeliz, a que só no seu abrigo encontrara o primeiro lar que tinha conhecido. Reena, pobre Reena, como estaria ela, tão longe? Sim, ela agora tinha uma família. Sim, ele agora tinha uma família. Por quanto tempo, não sabiam. Não era essa a família que lhes faltava, que sempre lhes faltaria. A primeira família. Aquela que nem sabiam o que era. Reena também não sabia, como ele não sabia. Mas dois órfãos não são dois irmãos.
in "Solstício", por d. d. maio
Dedico esta história a todos os que compreendem esta citação, a todos os que conhecem intimamente esta primeira família que lhes falta, pela sua ausência. Dois órfãos não são dois irmãos, mas não precisamos de andar sempre a fingir que somos como os outros.
Um bom Solstício para todos!