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terça-feira, 20 de maio de 2025

Megalodon: The Frenzy / Megalodonte: O Tormento (2023)

Quando se vê um filme chamado “Megalodonte: O Tormento”, o título não engana: vai ser um tormento. No meu caso foi mesmo uma tortura, porque demorei umas 4 ou 5 vezes até conseguir vê-lo até ao fim e só por uma questão de curiosidade mórbida em perceber até que ponto a qualidade podia descer. Este é, a todos os níveis, um dos piores filmes a que já assisti na vida: tão mau, mas tão mau, que merece que se escreva sobre ele.
Para “publicitar” este filme e outros do género, o SyFy tinha um anúncio hilariante que seguia mais ou menos assim: “Gostas dos melhores, dos maiores, dos mais épicos, dos mais espectaculares filmes de Hollywood? Não estavam disponíveis. Isto é o que sobrou.” Adorei a honestidade. Pelo menos o Syfy não quer vender gato por lebre, diz logo que os filmes não valem um chavo.
O “enredo” é mais ou menos este: ao mesmo tempo que um megalodonte (tubarão extinto que pode chegar aos 60 metros) anda a atacar o navio militar King (não há contexto anterior), uma instalação científica que pretende aproveitar a energia de vulcões submarinos, o Cratus, começa igualmente a ser abalroada por um megalodonte que mais tarde se descobre ser uma fêmea grávida. À medida que os cientistas se apercebem, pelas notícias, que andam uns cinco megalodontes à solta a causar carnificina, decidem prender a fêmea nas instalações submarinas e pedir ajuda ao King, que já está em más condições com falta de pessoal e sem munições. Por este motivo, o King recorre ao navio militar mais próximo, o Fragasso, que se dirige também em auxílio do Cratus.
Entretanto, a megalodonte presa no Cratus começa a ficar muito irritada e a atirar-se contra as instalações, ameaçando destruí-las, o que pode causar um tsunami no Havai porque (acho eu) isso rebentaria a ligação do Cratus ao vulcão. Deste modo, os cientistas decidem antes atrair os megalodontes à Cratus e fazer explodir as instalações, fugindo no submersível. Juro que os cientistas explicaram todas estas reviravoltas de planos umas 4 ou 5 vezes e mesmo assim não consegui acompanhar o que raio é que iam fazer.
Este é mais um filme feito com 10 euros e roupa emprestada. As actuações são piores do que más, do piorio mesmo. O comandante do King tem mais pinta de realizador de cinema do que de alguém que alguma vez tenha pertencido ao exército. Se quiser ser mazinha diria que o comandante do navio é o realizador do filme, a cientista é a mulher dele, a cientista-estagiária é a filha dos dois, e os muitos figurantes são colegas da faculdade que esta convenceu a aparecer no filme de graça, muitos deles com o sorriso estampado no rosto de quem diz “olá mãe, estou num filme” apesar de naquele momento correrem o risco de ser comidos por tubarões de 60 metros. É ver para crer. Logo na primeira cena estão uns marines deitados no chão a fingir que estão mortos e, palavra de honra, percebe-se logo que estão vivinhos da silva. Pelo menos espalhavam uns baldes de ketchup a fazer de sangue para mais realismo, mas nem isso. “Megalodon: The Frenzy” deve ser daqueles que andam a competir pelo título de Pior Filme de Sempre para destronar “Plan 9 From Outer Space”. Por falar nisso, os efeitos especiais são verdadeiramente… especiais. Tão especiais que parecem desenhos animados.
Há uma cena paradigmática de má representação, quando a cientista-chefe, num submersível, é perseguida pelo primeiro megalodonte que aparece no filme, e que conseguiria engolir o submersível e tudo. Quando ela se apercebe de que não consegue acelerar mais pede ajuda à central de comando: “O que é que eu faço?”, pergunta, como se nem fosse nada com ela. Sei lá filha, que tal gritar histericamente, desatar a transpirar, entrar em pânico como qualquer ser humano prestes a ser comido vivo?
Mas no meio desta desgraça toda encontrei dois actores que sabem o que é representar num filme. Sem ironia, são eles os ilustres desconhecidos:
Jeffery Daniels, como cientista Kurt Holt, que se manteve sempre no papel com toda a seriedade enquanto a cientista-chefe ia debitando barbaridades atrás de barbaridades sem tirar os olhos do monitor (se calhar estava a ler as deixas porque não teve tempo de as decorar);
Jordan Hubbard, como Kacey Keele, capitão do Fragasso, a única tentativa de inserir algum drama nisto tudo uma vez que Keele já não era o comandante do navio mas na ausência deste toma a responsabilidade de salvar os civis. Quando o actor olhava para a água fazia-nos acreditar que estava mesmo a ver os megalodontes.
Nesta tragédia de filme, ambos os actores podiam ter-se abandalhado, mas não, continuaram a representar estóica e profissionalmente como se estivessem a concorrer para os Óscares.
UMA GRANDE SALVA DE PALMAS PARA ELES!
“Megalodon: The Frenzy” podia ter recorrido ao humor (como a série de “Sharknados”) mas insistiu em levar-se muito a sério. Eis um filme que devia ser visto em todos os cursos de futuros profissionais de cinema como exemplo do que não fazer num filme.
Novamente sem ironia, salvam-se umas imagens subaquáticas de um recife que não têm nada a ver com o filme (que se passa nas profundezas): alguinhas, peixinhos coloridos, muito bonito.

5 em 20 (pelos peixinhos)

 

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