sexta-feira, 31 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 26, 2004

É um génio ou não é um génio?!

René Magritte. The Companions of Fear. 1942.
Reparem como as corujas estão plantadas ao chão.





Mais obras de Magritte.

Publicado por _gotika_ em 09:09 AM | Comentários: (9)

terça-feira, 28 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 25, 2004

A educação musical de um jovem gótico

Vocês não imaginam o que eu tive de ouvir nos anos 80! Principalmente a quantidade de punk que me passou pelos ouvidos até ter de dizer "basta, odeio isto!". Mas... a formação de base é a formação de base!
Naquele tempo só tínhamos o Blitz. E os programas do António Sérgio. E uma rádio que dava pelo nome de Correio da Manhã Rádio, 104.7.
Agora a música nova chega-me através da internet, e não vem de cá. Agora dou-me ao luxo de escolher a rádio, já não é a rádio que me escolhe a mim por falta de opções.
Mas foram bons professores, aqueles.
Já ouviram falar de Kraftwerk? Deviam. De Sex Pistols e Clash? Obrigatório.
Custa-me um bocado ouvir putos dizer bem dos Moonspell, que são o máximo, e nunca ouviram Fields of the Nephilim. Ou melhor, ouviram, mas se calhar não sabem o que estão a ouvir e que os Fields of the Nephilim vieram primeiro. (Sem desmerecimento dos Moonspell!)
Deixo-vos a minha lista pessoal, que é incompleta, porque é pessoal. Aquilo que deviam mesmo ouvir.

All About Eve "All About Eve", "Scarlet And Other Stories" (banda muito chegada aos Mission, gótico neo-hippie)

Bauhaus (tudo, mas podem começar por) "Press the eject and give me the tape" (álbum ao vivo)

Christian Death "Only Theatre of Pain", "Sex, drugs & Jesus Christ", "The Scriptures"

(The) Cult (incluindo Southern Death Cult e Death Cult, nomes anteriores a The Cult) "God's Zoo", "Dreamtime", "Love"

Cure - ok, eu não gosto, mas é obrigatório

Cocteau Twins - idem

Dead Can Dance - tudo, mesmo tudo

Faith No More - as velharias

Fields of the Nephilim "Dawnrazor", "Elizium"´, "Earth Inferno" (vale a pena)

Jesus & Mary Chain "Darklands" (introdução ao alternativo pop industrial)

Joy Division "Closer" (Joy Division é um "must")

Love and Rockets "Earth. Sun. Moon" (Love and Rockets é a banda que se formou depois dos Bauhaus, sem o vocalista Peter Murphy)

(The) Mission "Gods Own Medicine", "Children"

Nick Cave & The Bad Seeds (incluindo a banda de Nick Cave, Birthday Party) - não gosto de Birthday Party mas é bom ouvir para perceber o que se fazia naquele tempo

Peter Murphy (ex-vocalista dos Bauhaus) "Love Hysteria"

Red Lorry Yellow Lorry - se encontrarem à venda o "Generation - the best of", já vão com muita sorte

Siouxie & The Banshees "Hyæna", "Through the Looking Glass"

(The) Sisters of Mercy "First and Last and Always", "Floodland", "Vision Thing" (estes senhores são para ouvir mesmo sob pena de total ignorância musical; são uma espécie de Camões do gótico)

Qualquer destas bandas dirá nos seus sites que não é uma banda gótica. Ignorem. É normal. Algumas até não são. Mas contribuiram. The damage is done.
Isto foi apenas uma amostra. Para ser exaustiva devia ir buscar um daqueles velhos flyers que se mandavam pelo correio com o catálogo das K7s para gravar... Ok, esqueçam esta última parte. Não é do vosso tempo.
Espero ter sido útil.

Publicado por _gotika_ em 07:28 AM | Comentários: (50)


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Comentário:
Imagino que os 50 comentários tenham sido críticas por me ter esquecido de tudo o que não incluí.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 19, 2004

Pensamento do (outro) dia

"O sábio teme o céu sereno; em compensação, quando vem a tempestade ele caminha sobre as ondas e desafia o vento".

Este estava num comentário do Tapor num porco, mais precisamente aqui.

Já há muito tempo que não escrevo aqui nada sobre a minha vida. Já me acusaram de não fornecer material voyerístico. Acontece que eu tenho as minhas obsessões, e disperso-me, e abstraio-me, e só acabo por voltar ao que realmente interessa.
É curioso, e por isso pus ao blog o título que pus, a única referência estável, e diria mesmo perpétua, na minha vida, é o movimento gótico. Dizem os americanos "home is where your heart is". O lar é onde está o coração. O meu está mesmo por lá.

Quando se tem uma situação de tirania e medo na própria casa, uma pessoa aprende cedo a abstrair-se. Alguns fogem para tão longe que nunca mais regressam. Eu tenho a sorte, ou não, de ainda estar lúcida. Às vezes também me questiono sobre a minha sanidade mas acabo por descobrir que ainda não foi desta.
Contudo, agora acredito que já não me safo. Podemos, como o sábio, desafiar o vento quando vem a tempestade, mas partindo do princípio que ela também se dissipa. Ninguém sobrevive a uma tempestade permanente. Não existem tempestades permanentes. Quando o temporal é muito grande as pessoas aleijam-se. Ficam marcadas. Não são as mesmas.
Aborrece-me um bocado não ter as oportunidades que os outros têm. Aborrece-me e aborreço-me. A minha perda é a vossa perda.
Mas já não tenho inveja. Observo-vos, com perplexidade, a queixar-se que está mau tempo em Agosto, que chove quando estão de férias. A tragédia, o horror, o drama! A chuva em Agosto!
Até já perguntei a Deus porque é que isto está a acontecer. Não a chuva, estou-me nas tintas para a chuva, mas isto tudo. Já Lhe disse que faça o favor de explicar porque não estou a ver o que Ele quer agora. Geralmente Ele quer qualquer coisa, isso é certo, mas não estou exactamente a ver o quê.
Sei que desde a morte anunciada do meu gato me tenho afastado até dos animais, como se tal coisa pudesse acontecer! Inconcebível!
Mas quando se aprende na infância a capacidade da total abstracção, ganha-se um poder imenso que é tão maravilhoso como destrutivo. Fugir do mundo é, também, sair do mundo. Não há um sem o outro.
Sair do mundo é bom para o espírito mas é mau para a vida prática.
E no entanto, é preciso força para enfrentar a tempestade. A abstracção é uma forma de força, de poder.
Um dia, a tempestade há-de acabar-se. Ou acabo eu antes. Seja como for, tudo muda, nada dura para sempre. Ainda estou para ver o que é que Ele quer com isto tudo.

Outro pensamento para o dia: "The darkest hour always comes before dawn".
A hora mais escura é a que precede a madrugada.

Publicado por _gotika_ em 10:37 AM | Comentários: (5)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 12, 2004

Death and the Maiden

Raramente escrevo, mas no outro dia a musa sussurrou-me, ao ouvido, isto:

Death and the Maiden

"Good day to you, Madam, how have you been?
Long time no see you around here.
Have a sit on my bed and tell me the news,
Who's gonna be today, if I may ask.
Oh, I promise you, Madam,
I'll be your easiest task!"

"You think it's funny, little girl, but you wouldn't laugh,
if only you fathom the news I have for you!"

"News, what news would that possible be?
Oh, tell me, tell me, one day you'll come for me?!...
...
Oh, don't give me silence, Madam, it doesn't become you!
I've seen you quite frequently if you want to know
There's always weeping and crying wherever you go.
But I don't blame you, Madam, you only do what you're told.
...
I beg you, don't start crying on me!
Are those real tears in your eyes that I see?!"

"Tears they are, yes, for the news I bring you
isn't pleasant to hear"

"Tell me what you will, I know this is a dream.
I'm used to nightmares, if that's what you mean."

"Remember my affliction; do not to forget what you've seen.
Once I was alive and I dreamt of it too.
A man in tears sat on my bed.
Been in it for centuries, he said.
But now that he had found me he was happy to be leaving.
'After all, how many years can you stand of that weeping?'
Guess now who replaced him when it was time that he left?
Repent, please repent, stop dreaming of Death!
...
(I see you've stopped laughing, that's a good sign.)"

"I'm so sorry for you. I had no idea!
Were you forced to this, could you have said no?"

"Tell me yourself next time we meet.
There's someone I must take, (someone in this very street).
Think about it, little girl, you still have time,
If you want to be Me or you'd want to be mine."

"That's blackmail, you know?
And yet you've come here to make me feel sorry for you?!..."

"Someone must have mercy on me too!
...
(I've been here too long. I really must go.)
When your turn comes to replace me don't be a fool to say no."



Ah! E agora atrevam-se a tentar publicar isto em vosso nome. Go ahead, punk, make my day.

Publicado por _gotika_ em 04:24 AM | Comentários: (13)


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Comentário:
Fui eu que escrevi isto?! Fui mesmo eu que escrevi isto!!!
O inglês parece tão bom que até para mim é difícil acreditar. Parece mesmo que isto me foi sussurado ao ouvido... por alguém.
Mas há um pormenor, e deve haver mais. Não é "sit in my bed" mas "sit on my bed". Acho que se não fosse por isto não acreditava que era meu, mas é.
Ouvi falar de casos em que o escritor se diz inspirado por espíritos...

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 02, 2004

Um filme: “Náufrago”

Há uns tempos, deixei de ir ao cinema. Numa realidade de escolhas não se pode ter tudo.
De vez em quando a televisão traz-me alguns “vintes”. Os outros terão de ficar para uma outra vida.
Não vou falar da história de sobrevivência. Só por isso o filme merecia 20. Mas essa história é velha e já foi contada e recontada. O que me surpreendeu foi o discurso de Tom Hanks, quase no final, quando se fala do suicídio como única forma de controlar o destino. Se puderem ver de novo, prestem atenção. Eu chorei desalmadamente. E eu não choro a ver filmes. (Eu não choro, ponto final. Muito menos admito, mas que raio, isto é um blog!)

Não é o meu tipo de filme, mas é um 20.

Publicado por _gotika_ em 02:28 AM | Comentários: (47)

domingo, 12 de maio de 2013

Gotika: arquivos Agosto 2004

agosto 01, 2004

“Blackwood Farm”, Anne Rice

A preguiça, ou dispersão, ou obsessões de outras naturezas, fazem com que tenha tido o prazer de uma crítica para escrever, e não o fazer... durante semanas. Ah, valente!

“Blackwood Farm” não é, na minha opinião, um bom exemplo das Vampire Chronicles. Primeiro que tudo, os personagens são novos. É a história de um jovem vampiro, jovem em idade (22 aninhos...) e vampiricidade (1 ano e meio) que ainda mora com a família e passou os últimos anos da sua vida mortal em terríveis lutas de consciência à volta da descoberta da sua sexualidade e bissexualidade.
É a parte “humana” desta história - e é a maior parte da história - as paixões, a família, até os testamentos e os funerais, que me tiram a pica toda.
Eu gosto de fantasia. Para realidade já basta a minha. E pronto, que dizer?... Vampiros por vampiros, prefiro os que sugam sangue.
Mas a parte de "sexo com fantasmas" é um espanto. Aquelas surpresas que não se sabe de onde vêm e que se encontram no momento menos esperado... A abordagem Riceana à sexualidade.
Querem saber? Leiam o livro. Isto é um blog decente.

Pensamentos

“But you love books, then,” Aunt Queen was saying. I had to listen.
“Oh, yes,” Lestat said. “Sometimes they’re the only thing that keeps me alive.”
“What a thing to say at your age,” she laughed.
“No, but one can feel desperate at any age, don’t you think? The young are eternally desperate,” he said frankly. “And books, they offer one hope - that a whole universe might open up from between the covers, and falling into that universe, one is saved.”

Lestat acrescenta que se cada um de nós mergulhasse na outra pessoa como num livro, e a “lesse”, como a vida seria bem mais interessante.
Lembra-me aquele outro pensamento: “Fazem-se mais amigos em dois meses mostrando interesse nos outros do que em dois anos tentando que os outros se interessem por nós”.

“’Oh my precocious one,’ she said. ‘You never fail to charm me. Bisexual is it, how Byronic and charming. Doesn’t that double one’s chances for love? I’m so delighted.’

O preconceito do costume. Com que então, é ponto assente que os bissexuais têm mais hipóteses de encontrar o amor porque tudo o que vem à rede é peixe?
Era tão bom, não era?
As pessoas que não sabem do que estão a falar deviam estar caladinhas.

Missão cumprida. Venha o último, “Blood Canticle”. Já comecei a ler mas como as coisas andam vou precisar de uma forte dose de obsessão compulsiva para terminar. Enfim, ela virá.

Publicado por _gotika_ em 06:40 PM | Comentários: (8)

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Gotika: arquivos Julho 2004

julho 09, 2004

O seu tamanho, por favor?




Hoje já estou a escrever demais mas esta não posso deixar de partilhar.
Fui a um velório. Desses velórios, à tradicional portuguesa, com as velhinhas a dizer "não somos nada na vida" e "já não sofre, coitadinha", que se arrasta pela noite dentro...
Bem, o essencial é que estava ali a fazer cara de enterro quando reparei que o caixão da defunta era mais pequeno do que o habitual. Comentei com os presentes que o caixão era pequeno. Disseram-me que a defunta era pequena e estava magrinha. Perguntei se havia vários tamanhos de caixões, e não é que há mesmo?!...
E eu a pensar que com a normalização da fruta e das embalagens da CEE, os caixões também eram normalizados...
Pois não são; há tamanhos. S, M, L, XL?...
E a cova, também é cavada à medida?
E o funeral, é pago ao quilo?

Publicado por _gotika_ em 12:36 AM | Comentários: (33)


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Comentário:
Este post tornou a ver a luz do dia porque a coisa me abalou. Será que os caixões já são "normalizados" ou ainda há tamanhos?

sábado, 4 de maio de 2013

Gotika: arquivos Julho 2004

julho 04, 2004

Egoísmo

Às vezes não me apetece mesmo nada partilhar porra nenhuma com ninguém.

E a preguiça? E será preguiça? Quando se vive muitos anos na depressão deixa de se dar importância aos pequenos sinais como não ter vontade de levantar da cama de manhã. À tarde. À noite. De não ter vontade de levantar, ponto final.
O desânimo, o não responder a anúncios por achar que não vale a pena, a desmotivação... Por fim, o desinteresse total.

Quero ir viver no mundo dos espíritos.

Publicado por _gotika_ em 06:39 PM | Comentários: (31)


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Comentário:
Este post é relevante porque na altura eu julgava que era depressão. Não era. Era desemprego.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Gotika: arquivos Junho 2004

junho 12, 2004

“Os Versículos Satânicos”, de Salman Rushdie

Sempre pensei, devido ao preconceito que vem associado a uma certa literatura, que este livro de Salman Rushdie - por causa do qual teve (e ainda tem?) a cabeça a prémio por ordem dos fanáticos muçulmanos do costume - fosse um daqueles manifestos trágicos e chorosos em que se relatam os horrores de um regime político.
Em boa hora, e casualmente, me chegou o livro às mãos. Foram muitas as gargalhadas que me proporcionou. Afinal, como se supõe num outro livro célebre, “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, o livro do riso é sempre o livro mais perigoso. Uma gargalhada é uma arma mais poderosa do que um rio de lágrimas. Os imãs muçulmanos devem concordar.
A sinopse na contracapa: “Antes de nascer o dia, numa manhã de Inverno, um avião Jumbo é assaltado e explode por cima do canal da Mancha. (...) Duas figuras caem na direcção do mar sem auxílio de pára-quedas”. E não só sobrevivem à explosão como sobrevivem à queda: “Um milagre, mas ambíguo, porque em breve se nota neles sinais de curiosas transformações”. De facto, enquanto um deles, de nome Gibreel (Gabriel) se começa a transformar num anjo aureolado, o outro, Saladin, e sem ter feito nada para o merecer, transforma-se num diabo de pés de cabra, corpo peludo, cornos na testa e rabinho a condizer com o conjunto.
“Porquê eu?”, perguntar-nos-íamos todos, pergunta-se ele. E como Gibreel o anjo o abandonou à sua sorte, a vingança vem sobre a forma de versículos e de ciúmes e de dar cabo da vida do outro. Sim, uma história de cama. Tudo isto bem envolvido em blasfémia que calha tanto às divindades indianas como às raízes da tradição judaico-cristã e da muçulmana. Quando dói, que doa a todos.
Este livro não é mais blasfemo do que “A Vida de Brian”, dos Monthy Pyhton, mas há sempre aquela gente que não tem sentido de humor.
Mas quem tem sentido de humor e não despreza o surrealismo de uma imaginação delirante, prepare-se para tudo e leia o livro.
É bom absorver a ideia refrescante de que o herói cornudo acusa o pai de “lampadismo mágico, de ser um abre-sesamista”.
Que o problema de Londres e dos ingleses é o clima e que o que é preciso é pôr outros pássaros em cima das árvores e outras árvores debaixo dos pássaros.
E depois querem matar o homem por causa disto? Há de facto quem não tenha nada que fazer.

Publicado por _gotika_ em 08:06 PM | Comentários: (20)