domingo, 31 de março de 2013

Acabar com a vergonha de uma vez por todas!

Hoje é dia de Páscoa. Para quem não sabe (e muitos não fazem ideia), a Páscoa é o dia mais importante do cristianismo (e não o Natal, como muitos erradamente julgam, que não passa da festa pagã do solstício de Inverno, irrelevante para o cristianismo).
O domingo de Páscoa é o dia em que Jesus ressuscitou dos mortos, o dia da esperança, o dia em que Jesus venceu a morte e provou aos crentes que a vida nesta terra é apenas uma passagem. Os bens materiais corrompem-se e desaparecem, mas o espírito é imortal.

Neste dia de Páscoa, quero deixar uma mensagem de esperança.

A notícia sobre a vaga de suicídios "envergonhados" não me sai da cabeça. Este é um problema sociológico, não patológico, que requer uma cura social e não psiquiátrica. As pessoas não estão deprimidas, as pessoas estão desesperadas. Depois de pensar muito nisto, acho que um bom começo era mudar a mentalidade da "pobreza envergonhada" que é, ela sim, uma vergonha da mentalidade deste país. Desesperadas, isoladas na sua vergonha, as pessoas começam a entrar numa espiral de pensamentos depressivos. Não querem falar da sua pobreza, preferem gastar dinheiro em roupa na loja do chinês para "fazer figura" quando, se calhar, têm a luz cortada em casa. Porque também faz parte da mentalidade portuguesa "fazer figura". Sempre foi assim, e é uma mentalidade transversal desde os mais pobres aos mais ricos. Parar de "fazer figura", assumir a pobreza, não ter vergonha de ser pobre, especialmente neste tempos em que as pessoas são pobres por factores externos que não conseguem mudar [sim, eu sei que são pobres porque o país não as deixa evoluir] é um grande passo de orgulho e auto-estima.
Os portugueses precisam de auto-estima. Mesmo rotos e pobres e de luz cortada, devem erguer a cabeça e dizer, como eu vou dizer aqui: só tomo dois banhos por semana porque não há dinheiro para as contas da luz; não ligo o aquecedor quando está frio pela mesma razão (o frio que eu passei este ano, e ainda há quem se admire porque odeio o Inverno, é porque passo frio, pronto!); tenho os pijamas todos rotos porque não quis gastar dinheiro em novos. Preferi gastar o meu pequeno orçamente nas coisas que me cultivam, nas coisas que me inspiram. Livros, concertos, internet, televisão. (E não esqueçamos que através da internet se obtêm muitas destas coisas que lá estão à nossa espera, tesouros para a alma, não roupa e "fazer "figura" para os vizinhos que se calhar têm a luz cortada também.)

Era bom que estas pessoas nesta situação, e noutras piores, parassem de ter vergonha de falar na pobreza em que vivem. Era bom que se juntassem, numa terapia colectiva, era bom que levantassem a cabeça e se enchessem de orgulho e não se deixassem enganar de que são uns falhados (bem sei que deu muito jeito a muita gente convencê-los disto mesmo, de que são uns falhados, de que a culpa é toda deles, de que viveram acima das suas possibilidades, de que não tiveram mérito para isto ou para aquilo - MENTIRAS!!!)
Era bom que se juntassem, com orgulho, e comparassem histórias e expusessem estas mentiras. Que recuperassem a auto-estima que, uma vez perdida, os atira para debaixo de metros e os faz saltar de pontes.

Se esta crise pode servir para que algo evolua, que se comece por algum lado, que se expulse a "pobreza envergonhada", que se nos repugnemos todos de andar no rebanho a "fazer figura". Uma auto-estima por dia vale mais do que todos os antidepressivos.

Porque a vida terrena é efémera. Podem não acreditar na Ressurreição, mas pensem nisto: quando morrerem, quantos bens vão levar convosco para debaixo da terra?

A VIDA É MUITO CURTA PARA VIVER DE CABEÇA BAIXA E ENVERGONHADA COM MEDO DO QUE OS OUTROS PENSAM.


Aleluia!





sábado, 30 de março de 2013

Gotika: arquivos Abril 2004

abril 26, 2004

“O Vampiro Armand” - o livro

Pois é. O rapazinho foi violado.

Até que ponto o abuso sexual na infância ou na adolescência pode justificar o (mau) comportamento da vítima depois de adulta?
Por exemplo, até que ponto pesa na defesa de um pedófilo o facto de ele próprio ter sido vítima de abuso?
Sei que estou a afastar-me do “caso Armand” propriamente dito, mas dentro em breve esta temática estará a ferver na comunicação social cá da terra.

A leitura da autobiografia de Armand não me fez mudar de ideias em relação à personagem. De origem russa, Armand era em vida um talentoso pintor de ícones religiosos cuja ambição se resumia a ser admitido no mosteiro para o qual trabalhava. Durante uma viagem que teve de fazer por imposição do pai, é raptado e acaba por ser vendido como escravo sexual a um bordel da Veneza renascentista. Teria uns 14, 15 anos e uma beleza invulgar que o levava a ser confundido com uma rapariga. Inconformado com o seu destino, recusa-se a colaborar com os seus novos donos e entra no que hoje chamamos greve de fome.
Por alguma razão que o livro não explica muito bem, chama a atenção de Marius, um vampiro muito antigo que, assumindo plenamente a sua vida de homem da Renascença, se dedicava à pintura, à leitura e às artes em geral. É Marius que o resgata e o leva para o seu palácio onde criava e educava outros aprendizes a quem estava destinada uma vida de fausto e importância.
No entanto, Armand é especial. Torna-se amante de Marius e apercebe-se facilmente que o seu amo possuía poderes inexplicáveis que não tencionava partilhar. De facto, Marius foi coerente e recusou sempre transformar Armand num vampiro até ao momento em que o jovem é ferido de morte numa briga. É assim que Armand se torna num ser das trevas.
Mas Armand nunca apreciou a educação que recebia. Não via o interesse da filosofia e da história, era um aluno tão preguiçoso antes como depois de perder a mortalidade. E a chama da fé, que antes lhe dera uma razão para viver, estava também extinta debaixo do sofrimento.
Mesmo assim, esses dias em Veneza são tempos de felicidade. Até à noite em que o palácio de Marius é destruído por uma seita de vampiros que se acreditam servos do diabo ao serviço do plano divino. Tinham por missão, com que justificavam a sua existência no mundo, aplicar na terra os castigos infernais, para glória de deus. Viviam nas sombras, debaixo dos cemitérios em terreno “impuro”, vestidos de trapos e cobertos de sujidade, obedecendo a regras muito específicas sobre as vítimas que podiam fazer (por exemplo, não atacar quem usasse um crucifixo) e a criação de novos vampiros. Aos olhos da seita, Marius era um herege, um fora-da-lei, que merecia a destruição por se atrever a viver no meio da Humanidade. Por pouco não conseguiram o seu intento (Marius é bastante mutilado mas sobrevive). Os aprendizes são assassinados. Apenas Armand é poupado, sob pena de se converter às regras da seita. Pensando que o seu amo estava morto, Armand acaba por ir viver em Paris, como líder do coven do Cemitério dos Inocentes, durante uma longa noite de três séculos. A sua personalidade torna-se cada vez mais fria à medida que se entrega à amargura da sua existência.
Quando Lestat, outro “herege”, chega a Paris na sua exuberante inocência - porque Lestat não conhece as regras - provoca escândalo entre a seita e Armand faz o que pode para o eliminar. Mas não é bem sucedido. Pelo contrário, é Lestat quem consegue subverter as mentes dos vampiros da seita e dispersar os seus membros pelo novo mundo das Luzes.
É a partir daqui que se forma o célebre Teatro dos Vampiros, em que Armand, o mais velho, assume também uma liderança hesitante. O seu coração já não conhecia o amor, nem pelos outros nem por ele próprio.
No fim do livro, Armand tenta aproximar-se de Deus mas volta a não ser bem sucedido. Os amigos questionam-se e questionam-no. Duvidam da sua fé. Não faz sentido. O próprio não consegue explicar a sua ânsia, a sua necessidade do divino. E desta vez é uma Sede que Armand não consegue extinguir, provavelmente porque não sabe onde ir beber.

O “dossier Cláudia”
Conheci uma pessoa que dizia que não há uma verdade mas várias verdades. Cada um tem a sua verdade.
Tretas. A verdade é só uma. As mentiras é que podem ser muitas.
Afinal, quem é que matou a vampira Cláudia? Louis acusa Lestat. Lestat diz “Não fui eu, foi Armand”. O que diz Armand? “Não fui eu, foram os meus seguidores, esses malandros”. Uma vez que esses seguidores já foram, muito convenientemente, reduzidos a cinzas pelo fogo da vingança de Louis, já não podem dizer nada em sua defesa. Arquiva-se a investigação por falta de provas? Não me parece.
Louis estava fechado no calabouço. Não podia ser o autor do crime. Lestat remete a culpa para Armand e Armand nunca a devolve. Chega até a confessar a Louis que de facto, sim, tinha sido ele a ordenar a morte de Cláudia.
Penso que as contradições são suficientes para decretar a prisão preventiva e deitar fora a chave. Não contente com isso, na sua autobiografia Armand aparece com uma história ainda mais estapafúrdia. Que sim, que tinha tentado ajudar Cláudia. A pedido desta, que ambicionava acima de tudo ter o corpo da mulher que jamais tinha sido, tentou proceder a uma operação cirúrgica de transplante da cabeça de Cláudia para o corpo de uma vampira adulta. O resultado foi previsivelmente desastroso e mantido em segredo até este momento em que Armand descreve como, enfiado no seu laboratório qual Frankenstein, se pôs a brincar aos médicos:

Ah, que grande desastre, a mulher monstruosa com cabeça de criança, incapaz de falar, dançando num círculo frenético, o sangue a golfar da sua boca a estremecer, os olhos revirados, os braços a bater como ossos partidos de asas invisíveis.

Como se não bastasse ter sido assada ao sol...
Aliás, Anne Rice já havia avisado, n’”A Rainha dos Vampiros”, que Armand se dedicava a experiências que envolviam ratos e microondas. Um doce de pessoa.
Quer-me parecer que só em “Merrick”, livro em que o fantasma de Cláudia é invocado, é que vamos saber ao certo, pela própria, quem é que raio matou a vampira Cláudia. De outro modo, ficamos como em relação a Laura Palmer, outro dos grandes mistérios da ficção do século XX.

Optimismo evanescente
A escrita de Anne Rice começa a pintar um quadro cada vez mais pessimista ao longo dos anos 90. Recorde-se que nos anos 80 se vivia uma onda de optimismo e esperança, talvez mesmo de euforia, hipoteticamente comparável à dos anos 60 - mas não sei, não sou desse tempo. O mundo assistia, maravilhado, à queda do muro de Berlin, à extinção da URSS e ao fim da guerra fria. Parecia ter saído de cima das nossas cabeças a ameaça constante da aniquilação nuclear. Deu-se início a programas de desarmamento multilateral. Parecia que o mundo só podia caminhar na boa direcção, que todos os medos do século XX estavam definitivamente enterrados e que a Humanidade ia entrar no terceiro milénio num clima de paz e harmonia.
A ilusão durou pouco, apenas o tempo de as novas potências militares medirem forças. Logo no princípio dos anos 90 se percebeu que os problemas a leste tinham acabado de começar e no Iraque ninguém via o barril de pólvora que ia dar resultados ainda mais tarde. A crise económica fez-se sentir, os mercados ficaram deprimidos, a exploração aumentou e a qualidade de vida degradou-se. Esperava-se uma nova vaga cíclica de optimismo na alvorada desta década de 2000 mas os atentados de 11 de Setembro atiraram o mundo para as brumas de um novo e desconhecido negrume na figura da ameaça terrorista. O mundo retrocedeu em vez de avançar. Só o futuro dirá o quanto.
É interessante como em 1988, nas palavras do vampiro Marius a Akasha, Rainha dos Vampiros, este defende veementemente a sua inabalável confiança na evolução da Humanidade como um todo. Em 1998, o mesmo Marius está convencido que esta mesma confiança não passava de mais uma ilusão, de uma fé tão irracional como qualquer religião:

Armand, eu disse essas coisas porque tinha de me agarrar a essa verdade. Eram um credo, o credo do racional, o credo do ateu, o credo do lógico, o credo do sofisticado senador romano que tem de fechar os olhos à realidade nauseabunda do mundo à sua volta porque se fosse a admitir o que via na maldade dos seus irmãos e irmãs, enlouqueceria.
(...)
Mas eu estava enganado no meu optimismo, estava a ser ignorante, tão ignorante quanto acusava os outros de serem, e recusava-me a ver os verdadeiros horrores que me rodeavam, o pior deste século, este século de racionalidade, que foi o pior que alguma vez existiu no mundo.


Marius, o grande humanista, torna-se mais pessimista que eu. (Desconfio do homem mas acredito na Humanidade.)
Estou ansiosa por ler a escrita de Anne Rice depois do 11 de Setembro de 2001, e sinto que ficarei decepcionada se, das duas uma, o pessimismo não se tornar em desespero ou, pelo contrário, a necessidade de refúgio na consolação divina não se tornar omnipresente. Ficarei decepcionada se a escrita for igual. Mas será que o pode ser?

Pensamentos
A escrita pela mão de Armand (embora tecnicamente a autobiografia tenha sido ditada ao vampiro David) é bastante diferente do discurso a que Lestat nos habituou. Muito mais seco e objectivo, resume alguns pensamentos dignos de reflexão nas seguintes palavras:

Os vampiros não querem verdadeiramente companhia. Querem o amor de outros imortais, sim, sempre, e precisam dele, e precisam dos profundos laços de lealdade que inevitavelmente crescem entre aqueles que se recusam a tornar-se inimigos. Mas não desejam companhia.

Faz-me pensar até que ponto os seres humanos não deviam copiar-lhes o exemplo a fim de darem o verdadeiro valor às pessoas que os rodeiam. Não pela companhia, que qualquer um pode fazer a qualquer outro, mas pela especial amizade, quando existe, que é tão rara de encontrar.

Publicado por _gotika_ em 11:04 PM | Comentários: (7)



abril 28, 2004

Anne Rice é uma ganda tia

Vem isto a propósito do comentário de Goldmundo:

Há qualquer coisa de narcisico no amor dos vampiros que me não deixa admirá-lo muito (talvez mais no Lestat: tão cedo não esquecerei a cena em que ele, aterrorizado pelo primeiro encontro com Memnoch, encontra os seus pares para pensar, antes de mais, em como eles estavam elegantes...).

Hehehe!
Não sei se a culpa será tanto de Lestat como da sua autora. É verdade que esta é a mais vaidosa de todas as personagens das vampire chronicles mas Anne Rice insiste em descrever as roupagens das criaturas até à mais nauseabunda exaustão. Confesso que desatino com isso, até porque é nada mais nada menos que o reflexo de uma certa literatura americana à Jackie Collins, em que todos são ricos, todos são bonitos, todos se vestem “muito bem” (por “muito bem” entenda-se roupas caras de lojas para a classe alta-alta).
Da mesma forma, são descritos todos os pormenores das belas mansões, castelos, palácios, cruzeiros, hotéis, e respectivos quadros, obras de arte, candeeiros, carpetes (quase sempre persas), mobiliário antigo ou moderno, e uma carrada de outras futilidades que não têm nenhum interesse excepto o comercial.
Acontece que na sociedade americana vende-se melhor a “literatura” que descreve a vida dos ricos. É um pouco como as telenovelas brasileiras (e infelizmente também as portuguesas) que vão enchendo os olhos do povão com um estilo de vida que parece tão ficcional como a própria existência do vampiro Lestat. E devia ser, devia ser ficcional. Num mundo onde morre tanta gente de fome é um crime dar 40 contos por uma camisa como eu vi nas Amoreiras já há uns 15 anos. Bem, devem ser camisas para vampiros.
Acontece que Anne Rice é uma grande espertalhona, uma espécie de Paula Bobone da literatura de terror, e recorde-se que a senhora até já escreveu literatura erótica sob o pseudónimo de A. N. Roquelaure. É uma senhora que se sabe vender. E se o povão prefere ler histórias sobre vampiros ricos, não os façamos pobres!
Deste modo, acontecem descrições como a clássico episódio em que Lestat acorda, levanta-se do seu caixão forrado a cetim (caixão, no século XX?...), veste ao espelho um fato de cor x ou y e coloca uma gravata a combinar. Ora, coloca uma gravata para quê?! Acaso trabalha num banco? É daquelas coisas que não cabem na cabeça de ninguém. Do ponto de vista pura e simplesmente literário, a dor ainda é maior. Lestat é um artista. Se vestisse plumas e lantejoulas e uma peruca ruiva era mais normal que o fato e gravata. Já ao vampiro David, que viveu toda a sua existência no século XX e sempre se vestiu assim, compreende-se a predilecção por fatos tradicionais.
Louis acaba por ser a única personagem que faz sentido por não ligar ao luxo e Armand também não faz grande questão, embora Anne Rice o ponha a descrever as botas e o casaco de veludo e a camisa de renda. Mas nem Louis nem Armand são os heróis. O herói, de facto, veste-se nas lojas mais caras de Nova Iorque.
E o novo-riquismo destes livros? Aqui, todas as pulseiras e anéis são de ouro e as pedras são mesmo preciosas. São diamantes, esmeraldas, rubis... Bem, uma bimbalhice de bradar aos céus. Era mesmo preciso pôr estes vampiros a usar carradas de anéis de ouro como as varinas e os patos-bravos da construção civil? Não percebo que necessidade têm os americanos em particular de imaginar estilos de vida tão falhos de criatividade.
E sim, aborrece-me este chafurdar num luxo bacoco que tem tanta importância para um vampiro como para uma mosca pousar em merda servida em bandeja de prata.
Questiono-me se Anne Rice será uma “tia” em versão americana ou se só o faz por uma questão de lucro. Ainda havia mais por onde sugar. Por exemplo, arranjar patrocínios para as personagens: “Armand é vestido por Hugo Boss”; “O vampiro Lestat tem o patrocínio do seguro DentAll - a saúde dos seus dentes”; “Maharet (que usa olhos falsos) tem o patrocínio das Multiópticas”; “Chicco veste a vampira Cláudia - Chicco, onde há um bebé”.
É por isso que me escandaliza que a literatura tenha de absorver estes insultos... Mas é como digo, a senhora sabe vender-se.

Publicado por _gotika_ em 06:57 PM | Comentários: (8)


quinta-feira, 28 de março de 2013

Novo endereço de email: blog.gotika@gmail.com

Chamo a atenção a todos os habituais contactos dos blogs Gotika e Pórtico que o meu email de contacto passa a ser:

blog.gotika@gmail.com

O antigo, no Hotmail, continua activo (pelo menos enquanto não se perder também o acesso à conta...), mas impossível de usar!

Aqui fica o desabafo/informação:
Quem tem contas no Hotmail (especialmente as mais recentes) deve saber do que falo. A Microsoft tomou conta do Hotmail (e outros providers) e quis à força transformá-lo em Outlook.com. Foi o desastre! O texto das respostas e forwards fica truncado, não se consegue fazer attachments (o ícone está lá mas não funciona!), muitas pessoas viram-se gregas para aceder às contas (aqui há uns tempos, afectou-me a mim), os contactos estão escondidos... Um desastre! Completamente impossível de usar.
Como diria um dos muitos utilizadores irados no fórum de (não)apoio: "don't fix what is not broken!"
Apesar das milhares (milhões?) de reclamações, a Microsoft, com a teimosia que lhe conhecemos, insiste, e nem se dá ao trabalho de repor o email antigo enquanto corrige os bugs no novo. Ou terá perdido o código fonte do Hotmail? Ha!
Teimosia ou incompetência, força assim milhares de utilizadores, se não milhões, a mudarem-se para outras paragens. E não é por embirrância. Se o novo Outlook funcionasse, tudo bem. Mas não funciona mesmo.
A mim aborrece-me particularmente porque o Hotmail sempre foi o meu sistema de email preferido e é com tristeza que me vejo forçada a utilizar outro.

As minhas desculpas pelo incómodo aos contactos habituais que me escrevem. (Garanto, todavia, o vosso incómodo não se compara ao trabalho mastodôntico que vou ter a mudar o meu email em tudo o que é sítio!)
Obrigada.




terça-feira, 26 de março de 2013

Gotika: arquivos Abril 2004

abril 19, 2004

Um filme: “Os Dias do Fim” (End of Days), de 1999 + “Aracnofobia”



Já aqui falei deste filme, especialmente por comparação com os efeitos especiais de ”Stigmata”. Sim, “Stigmata” é posterior (2001) e alimentou-se bem das explosões em 3D, das igrejas a arder, da cenografia católica e até de um bocadinho do argumento de “Os Dias do Fim”. Gosto destes filmes que tratam do diabólico porque todos os filmes sobre o Diabo acabam por ser filmes sobre Deus, sobre a Fé.
“Os Dias do Fim” explora bem toda uma mitologia cinematográfica que terá um dos seus esplendores em “Rosemary’s Baby” de Roman Polansky (aliás, repare-se na semelhança do argumento: a jovem inocente que é escolhida por uma seita de adoradores do Diabo para ser a mãe do filho de Satanás) outro em “The Omen” - penso que traduzido para português como “O Anticristo” - em 1976 (que revelava já o nascimento e crescimento de um rapazinho diabólico chamado Damien e as sequelas em que Damien, filho do Diabo, o Anticristo, tenta levar o mundo à destruição através da fundação de um partido político-religioso que faria o nazismo parecer inocente) e, claro, os três episódios de “O Exorcista”.
“The End of Days” é mais uma continuação de toda essa cinematografia pré-apocalíptica que vai beber às fontes da Revelação onde a Bíblia a deixou. É claro que é um filme do seu tempo - mais acção do que pensamento - e bastante adaptado ao herói Arnold Schwarzenegger. Desta vez, não tão poderoso como é costume apresentá-lo, Schwarzenegger é um ex-polícia que trabalha em segurança privada depois do assassinato da mulher e filha, um homem amargurado, alcoólico e suicida. Envolvido na investigação do desaparecimento de um banqueiro de Wall Street, chega até Christine, a jovem inocente escolhida para gerar o filho do Diabo. Esta tentativa diabólica de fazer um filho humano repetir-se-ia todos os anos acabados em 999 (o inverso de 666). Logo, 1999 era o ano em que mais uma vez pairava sobre as nossas cabeças a ameaça do fim do mundo. O Diabo é muito bem interpretado por Gabriel Byrne - como eu já não via desde Robert de Niro a comer o ovo perante um perplexo Mickey Rourke em “Angel Heart”: “O ovo é o símbolo da alma” (olha o que eu faço às almas...)
Na sua simplicidade de fast food, a cena da tentação de Jericho (Schwarzenegger) está mesmo assim muito bem conseguida. Nada como o terror do “Exorcista I” e “Exorcista III”, mas um Diabo de fato e sobretudo de marca, um smoking cigarette man à “Ficheiros Secretos”, oferecendo, enfim, “Diga-me o que quer e eu dou-lhe”. A tentação na sua essência mais pura, como foi apresentada a Cristo no Deserto. Por um preço, mais ou menos alto, mas por isso é que a tentação se chama tentação.
Aliás, muito longe disto tudo mas tão bom que se torna incontornável, fica aqui também a referência à “Última Tentação de Cristo”, de Scorcese.
De volta aos “Dias do Fim”, é interessante como o ambiente em torno de Christine é luxuosamente opressivo, recordando novamente “Rosemary’s Baby”, e como todos os que a rodeiam se revelam adoradores do Diabo. Até os polícias. E naquela mobilização de adoradores satânicos, cheira-nos ao “Príncipe das Trevas”, de Carpenter.
Um argumento tão bem construído a partir destas referências de sucesso não podia ser completamente mau, mas também não podia ser completamente bom. Desmontando as peças do puzzle, apetece pedir a alguém na RTP que volta a passar os filmes que citei - e eu sei que eles os têm! - como “The Omen” e “Rosemary’s Baby”, sim, principalmente os mais antigos. Porque não pela madrugada dentro? Sempre era uma alternativa às “Vidas Reais” da TVI.
Isto agora não tem nada a ver com o filme mas se eu vi os clássicos dos anos 40 e 50, por exemplo, com o Fred Astaire e a Ginger Rogers, foi porque os passaram há muitos anos, era eu miúda, durante as férias do Natal e da Páscoa, à tarde. Nem toda a gente tem cabo. *suspiro* Isso sim, era serviço público, divulgar o cinema com um sentido de História. (Fui uma criança privilegiada, já percebi.)
De regresso aos “Dias do Fim”, afinal nem Schwarzenegger derrota o Diabo impunemente... O sacrifício repete-se.
E o fim foi roubado ao “Exorcista I”. Só para que conste. Mas, enfim, filmes destes servem para entreter... quando se acabar a leitura de Anne Rice.

Atenção: sortudos que têm o canal Premium, vai passar “A Rainha dos Malditos” na terça feira, dia 20, às 20 horas. Agora não digam que não avisei. Ando a ver se cravo a alguém que me grave o filme, finalmente, porque EU mereço! (Não duvidam que mereça, pois não?)


E já agora, comenta-se também o “Aracnofobia”

Hoje estava previsto na TVI passar o filme “A Praia”, ao qual eu também tenho feito alusões contínuas sem ainda ter escrito uma análise mais aprofundada, mas em vez disso estão a dar - neste preciso momento e pela milionésima vez - o “Aracnofobia”.
Bem, tendo visto a coisa umas 10 vezes, posso passar sem a décima primeira para vos contar a história. Então é assim: primeiro aparecem muitas aranhas, depois aparecem ainda mais aranhas, e muitas muitas muitas mais aranhas e ainda mais aranhas. O Jeff Daniels é um ganda pão. Gostava de ser o aranhão que lhe trepa pelas pernas acima.
Está feita a crítica.

Publicado por _gotika_ em 02:30 AM | Comentários: (6)


abril 25, 2004

Novo coven

Os góticos de Lisboa podem estar contentes.
Depois de uns meses ao abandono das ruas dispersas, já temos um espaço novo, diferente de tudo o que tivemos até aqui mas talvez o melhor até agora.
Não vou dizer qual o estilo da arquitectura do sítio para não sair asneira, mas é de facto a arquitectura original. Parece feito de propósito.
Obviamente não vou revelar o nome ou morada do local. Já aqui disse que não gosto de ver curiosos no meu espaço. As roupas, o (mau) comportamento, a maneira de dançar... São incomodativos. Não quero de modo algum que o gótico fique "na moda".

Aos frequentadores do sítio quero deixar uma mensagem que, afinal, pode ser estendida a toda a gente: Nunca dêem o que têm como garantido. Aproveitem-no como se fosse o último dia. Dêem valor ao que têm enquanto o têm porque nunca se sabe quando o vamos perder.
Carpe diem. E acima de tudo, a noite.

Sobre a palavra "coven": Ainda não me consegui lembrar do sinónimo em português para "coven", termo que expressa a ideia de "companhia" e é habitualmente aplicada aos grupos de praticantes de qualquer tipo de religião oculta.

Publicado por _gotika_ em 08:33 PM | Comentários: (15)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Gotika: arquivos Abril 2004

abril 18, 2004


Podes ser um gótico se...

E para acabar com as dúvidas - como se!... - do mesmo A Goth in the Night, uma listinha que me faz corar.
(Acto de contrição: as piadas em que enfio a carapuça estão a bold para que se possam rir de mim à vontade)


You might be a Goth if...

You pay 12 bucks for cigarettes that match your outfit
You wear sunglasses in a department store at night
You won't get in a fight because it might smudge your make up
You wake up still drunk at 3 in the afternoon with anonymous black lipstick on your face
People can't tell whether you're searching for a missing contact or dancing
The only day you feel normal is Halloween
You don't know if the person you're sleeping with is guy or girl 'til you get to third base
You don't care
The shade of powder you wear is called "Sheet Of Paper"
You were rooting for the vampires in "From Dusk Til Dawn", "Lost Boys", etc.
The Count was your favorite Sesame Street character as a child
You watch Sesame Street as an adult just to see The Count
You wear long, velvet or leather coats in the middle of summer
You think dead flowers are prettier than live ones
You think anything dead is pretty
You refer to your age in mortal years
You give yourself the honorary title of Lord or Lady
You dressed as The Crow for Halloween one year
You have dressed as The Crow for Halloween the past few years
You"ve been dressing like the Crow since Halloween two years ago
The club you frequent has concocted an original drink called "The Vampire's Kiss"
You buy $15 fishnets and rip them on purpose
You think blood is "pretty"
Your combat boots cost more than it takes to feed a third world child for two years
You've willingly undergone cosmetic dental surgery
You own 16 or more Sisters of Mercy c.d.'s
Friday the Thirteenth is your lucky day
You can't decide whether Morticia Addams or Lily Munster is prettier
You decide Wednesday blows them both away
You could easily blow $500 in a Halloween store
You could spend $500 just on make up
You could spend $500 just on make up... in a halloween store
You were disappointed to find out that "American Gothic" is a portrait of two farmers
You claim the Columbine kids are friends/relatives of yours
You own a hearse
You own a hearse and don't work in a funeral parlor
You keep a coffin in the back as "decoration"
You keep a coffin in the back as a bed
You think of the hearse as the "family car"
You think heresy is a religion
You claim heresy as YOUR religion
You own a rosary that you wear
You own many rosaries that you wear
You own a glow-in-the-dark rosary that alternates between your neck and the rearview mirror in your hearse
You fashion your eyeliner after a culture that's been dead over 2000 years
You wish to name your first born Lestat
You plan to name your first born after ANY Anne Rice character
You didn't know they were characters
You think bats are "cute"
You argue on whether Poppy Z. Brite or Anne Rice has the more realistic view on vampires
You can debate both sides of that argument
You've participated in one of those "Do you think Tom Cruise was good as Lestat?" conversations
You've started one of those conversations
You and your friends enjoy congregating in a local graveyard
No one you know is buried there
You and your friends take lengthy drives to visit non-local graveyards
You take pictures of the gravestones while reciting Oscar Wylde or singing "Cemetry Gates" by The Smiths
You know the words to "Cemetry Gates" by The Smiths
You know who The Smiths are
Your favorite poem is "The Raven" by Edgar Allen Poe
Your favorite poem is "Metamorphosis of a Vampire" by Charles Baudelaire
You spell Vampire either Vampyre or Vamphyre
Your boyfriend complains that his ribs just don't stick out the way they used to
Your girlfriend complains that you look better in her black velvet skirt than she does
You refer to others as "The Normals" or even "the Norms"
You refer to your leather-clad brethren as "Those Industrialites" or "Industrial-heads"
You can reminisce through all 4 names the Saphir had and all 6 reopenings the Sphinx had
You can't even tell whether you're looking for a missing contact or dancing
You are happy when no one has ever heard of your favorite band
When someone else "discovers" your favorite band, you find another favorite band
Christians accost you with pamphlets on the street frequently
Jehovah's Witnesses accost you with pamphlets on the street frequently
You accost Christians with pamphlets on the street
Satanists just look at you and smile
You laugh hysterically during those Church Of Latter-Day Saints commercials
You call for the free Bible anyway
You take great pleasure in vandalizing said Bible after waiting impatiently by your mailbox for 4-6 weeks
You stop vandalizing the Bible momentarily to look up Psalm 69
In your honest opinion, the image of Jesus ruins the beauty and natural fluidity of the cross
You've been with your significant other for over a year and still wonder what they look like without make up
You and your boyfriend fight over make up
You decide to get matching his/hers make up caddies to separate your make up
You smudge your lipstick on purpose to look like Robert Smith
You eat those limited edition pop-tarts just because they have bats on them
You save them because Hey!...they're limited edition
You call them goth-tarts
You know what Renfield's Disease is
You have Renfield's Disease
You have taken anything on this list personally
You were offended

Se a carapuça também vos serviu, bem vindos à negritude da escuridão da noite eternamente sombria.

Publicado por _gotika_ em 06:56 AM | Comentários: (7)


Será que sou gótico/a e não sei?...

Tenho recebido alguns mails relativos ao movimento gótico que se podem separar em duas grandes categorias:
- os das pessoas que não têm a certeza se são góticas
- os das pessoas que acham que têm uma mente gótica mas não sabem o que fazer “agora”

Para os primeiros não tenho resposta. Se os próprios não sabem, quem saberá?

Já para os segundos... Bem, um dia destes prometo contar a minha própria experiência com o movimento e como fui “atraída” para os antros góticos como uma traça para a luz - salvo seja! É uma história bonita e hoje não estou com inspiração para a contar como deve ser.
Quando somos muito novos, é preciso vencer o isolamento, sair da concha e procurar as pessoas que têm a ver connosco. Sim, eu sei que é difícil. Já lá estive, remember?
Se são tão novos que ainda não têm idade para frequentar lugares nocturnos, não os frequentem. A sério. Acreditem quando vos digo que, se tiverem sorte e companhia à altura, têm todo o tempo do mundo para viver o que tiverem que viver. (Além disso, era só o que faltava estar aqui a desviar criancinhas, livra!)
Ouçam música. Procurem música. Conheçam a música antiga e a nova. Conselho pessoal: podem não ter conversa sobre mais nada mas assegurem-se de que sabem falar de música!
Procurem cultura. Leiam livros. Conheçam autores. Comprem livros, emprestem e peçam-nos emprestados. Pesquisem as referências que encontrem na música. Debatam essas ideias com os outros.
Procurem outros. Nunca deixem de procurar outros. Nunca acreditem que as nossas almas gémeas moram na porta ao lado. Não moram!
Quando tiverem a sorte de encontrar uma alma gémea, não descurem essa amizade. É rara e valiosa.

Agora vou falar para os meninos crescidos, aqueles que já podem sair à noite sozinhos. ;)
Como encontrar lugares frequentados por góticos? Ora, por amor de Deus, é óbvio!
Não gosto de divulgar nomes de locais porque detesto curiosos a meter o nariz onde não pertencem - já aqui o disse - mas é tão simples!
Sigam a malta vestida de preto. Resulta em qualquer parte do mundo.

Depois... Depois é uma questão de sentir. Afinal, o que é que une todas estas pessoas tão diferentes senão uma forma de sentir - de sentir a vida, a morte, a arte e a beleza - uma forma de sentir que muitas vezes é a única coisa que temos em comum?

Entretanto, não resisto sem vos aconselhar a visita a um site fabuloso feito por uma rapariga que por acaso é americana - o que no movimento gótico não quer dizer nada - e tem um enorme sentido de humor, chamado A Goth in the Night (Uma Gótica na Noite). Aqui ela goza com todos os clichés e estereótipos associados ao movimento gótico e conta algumas histórias verdadeiras que de facto me fizeram rir às gargalhadas. A inteligência também é sabermos rir de nós próprios. No movimento gótico, a auto-crítica é feroz e o sarcasmo é o pão nosso de cada dia. Temos prazer em gozar com a nossa própria goticice? Talvez. É muito provável. E também faz parte do todo.
Por isso vou transcrever algumas máximas da I’m so Goth list, principalmente aquelas que têm mais a ver com a realidade portuguesa. Não vou traduzir porque perde metade da piada.
Agora é uma questão de distinguir a verdade da mentira. Porque, afinal, não há fumo sem fogo...
(As minhas preferidas estão a bold. Divirtam-se.)


I'm so goth, whenever I walk into a room, all the lights go out.
I'm so goth, in preschool, the only crayon I used was black.
I'm so goth I use black cotton balls.
I'm so goth my diapers were pvc.
I'm so goth I wear pvc pajamas.
I'm so goth I know what pvc stands for.
I'm so goth my black is blacker than your black. I call it "black black."
I'm so goth people touch me and they BECOME goth. They say, "Oh no, now I'm goth!"
I'm so goth I don't paint my nails black--I bash them with a hammer.
I'm so goth I wear sunglasses when I open the refrigerator.
I'm so goth, whenever I knock on somebody's door they give me candy.
I'm so goth I died and didn't notice.
I'm so goth, I'm not only "goth," but also "gothe" "goff" "gawth" "gauwth" "gothic" "gothik" "gothique" and "gawfickk" and soon I hope to be "gauewthickueu."
I'm so goth I write everything on black paper with a black pen in the dark and can never read what the hell I've written!
I'm so goth, when I stop pouting, people ask, "What are YOU so happy about?"
I'm so goth I offered to sell my soul to the devil and he wouldn't take it!
I'm so goth, when I was born, the doctor asked me, "What's with the shades?"
I'm so goth, when I go outside, the sun sets.

goth #1: I'm so goth the smile muscles in my face have atrophied.
goth #2: I'm so goth the smile muscles in my face never GREW.
goth #3: What's a smile?

I'm so goth I say things like "eternally yours in darkness" and "love and darkness" and "may the eternal darkness of the abyss enrapture and enshroud you in its infernal sickly sweet embrace."
I'm so goth I don't use fabric softener, because I like pain.
I'm so goth I'm shocked by heterosexuality.
I'm so goth I set off airport metal detectors from ten feet away with all my jewelry.
I'm so goth I have rigor mortis whenever I'm with my girlfriend.
I'm so goth I killed myself . . . twice.

goth #1: I'm so goth a little rain cloud follows me wherever I go and rains on me.
goth #2: I'm so goth I AM the rain cloud.

I'm so goth I got a tattoo of celtic knotwork starting at the top of my head, winding all the way down my body, and trailing five feet behind me on the floor.
I'm so goth it takes me an hour and a half to get dressed.
I'm so goth it takes me longer to get UNdressed.
I'm so goth I'm dead.
I'm so goth I think electrical tape is a fashion accessory.
I'm so goth I carry black food dye around in case I have to eat anything that's not black.
I'm so goth I look like Michael Jackson.
I'm so goth, in preschool, all my drawings were titled, "DEATH."
I'm so goth, in high school, all my papers were titled, "DEATH."
I'm so goth, as soon as I was born I put eyeliner on. And I put on too much.
I'm so goth I think Jesus might have been a vampire.
I'm so goth I wore corsets in preschool.

goth #1: I'm so goth I wonder if my dog's collar would look better on me.
goth #2: I'm so goth I KNOW my dog's collar looks better on me.
goth #3: I'm so goth I stole my dog's collar.

I'm so goth I ate a Happy Meal . . . because I like to live dangerous.
I'm so goth little kids are mesmerized by my appearance.
I'm so goth parents leg their kids when they see them mesmerized by my appearance.
I'me soe gothe ie thinke puttinge e'se one thee endse ofe mye wordse ise medaevale ande deepe.
I'm so goth I've been banned.
I'm so goth I don't take my medications, so I can be more goth.
I'm so goth I make flowers wilt.
I'm so goth I like them better that way.
I'm so goth, when I was born the doctor slapped me and I didn't cry.
I'm so goth, when I smile people ask me what's wrong.
I'm so goth little old ladies in walkers cross the street to insult me.
I'm so goth I keep getting hit on by necrophiliacs!
I'm so goth I practice my blank stare in the mirror.
I'm so goth I tried to be a hippie once and hugged a tree--and it died.
I'm so goth I pierced both my nipples--does that shock you?--then I went to the genetic engineering lab and had my genetic structure altered to grow another nipple, then I had THAT one pierced.
I'm so goth that whenever I walk into a room, you hear "Toccata and fugue in D minor."
I'm so goth I have actually seriously uttered the phrase, "the darkest dark of the dark darkness."
I'm so goth I listen to The Sisters of Mercy and Bauhaus simultaneously at midnight in a graveyard sitting in a pentagram surrounded by candles . . . and oh, there's a full moon . . . and then I die. And then I come back to life. And then I die again . . . tragically.

goth #1: I'm so goth, when I'm sleeping people come and check my pulse.
goth #2: I'm so goth I don't have a pulse.

I'm so goth the people at the suicide hotline have asked me to stop calling.
I'm so goth tan lines are a sin.
I'm so goth I was adopted by the Addams family.
I'm so goth people keep asking me if I feel okay.
I'm so goth the dark is scared of ME.
I'm so goth I'm catholic.
I'm so goth nuns and priests resent me because I look cooler in black than them.
I'm so goth I know how to spell Siouxsie & The Banshees correctly.
I'm so goth I . . . wear . . . my . . . sunnnnnglasses at night (sung with a Corey Hart pout).
I'm so goth the various and sundry layers of my Gothness are profoundly horrified of each other.
I'm so goth I became a fisherman, just so I could use fishnets.
I'm so goth, my dog goes "bauhaus, bauhaus!"
I'm so goth I sleep UNDER my bed.
I'm so goth, Robert Smith asked ME for my autograph.
I'm so goth I spend every waking moment, every breath, in contemplation of Goth. The totality of my being is at one with the essence of Goth.

goth #1: I'm so goth I changed my name to Mystryss Darque Wintyr Nyght Rayn Ravyn.
goth #2: I'm so goth I don't have a name. I'm just "goth."

I'm so goth all I do is sit around and talk about how goth I am.
I'm so goth I always use the word "goth" instead of "got."
I'm so goth every sentence I say has the word "goth" in it.
I'm so goth I'm the only person who understands what goth REALLY is, and I'm not telling you!

Publicado por _gotika_ em 06:22 AM | Comentários: (5)


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Comentário:
Link para A Goth in the Night já não existe.
Se não percebes pelo menos 60% destas piadas, mesmo tendo em conta as diferenças culturais, não és gótico. És um poseur.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Gotika: arquivos Abril 2004

abril 09, 2004

Vistam preto!

Por estranho que pareça, a prosa seguinte é uma canção em spoken word chamada "Free to Wear Black", dos Node Out.
Está escrita de forma que parece a primeira aula de uma disciplina, neste caso na Universidade do Gótico. Exactamente, conselhos para góticos recém chegados. Não pude deixar de sorrir a cada passagem. Somos uma nação. Aqui ou nos Estados Unidos, o movimento existe como se houvesse um líder... Mas não há. Nem sequer há livros ou organização. Não somos telepatas. E no entanto...
Esta é só para góticos:

Ladies and Gentlemen of the class of '02, wear black.
If I could offer you only one tip for the future, wearing black would be it.
The long-term benefits of wearing black have been proven by Goths, death rockers, and other kinds of freaks, whereas the rest of my advice has no basis more reliable than my own meandering experience. I will dispense this advice now.
Enjoy the power and beauty of your corset. Oh, never mind. You will not understand the power and beauty of your corset until someone sees how fat you are without it. But trust me, in 20 years, you'll look back at photos of yourself and recall in a way you can't grasp now what a marvelous piece of clothing a corset is, and how fabulous you really looked. You are now fatter than you imagined.
Don't worry about if you’re Gother than me. Or worry, but know that worrying is as affective as trying to apply your foundation after your eyeliner has set. And you STILL won’t be Gother than me. The real troubles in your life are apt to be things that never crossed your worried mind. The kind that close most of the stores just before you wake up.
Do one thing every day that scares normal people.
Sing This Corrosion to them…
Don't be reckless with other peoples' cloves; don't put up with people who are reckless with yours. Floss after every pack.
Don't waste your time on jealousy. Sometimes you're sub, sometimes you're dom. The whip is long and in the end, you’re only whipping yourself.
Remember compliments about your makeup. Avenge the insults.
If you succeed in doing this, people will be afraid of you... and justibiably so. Keep your old club flyers; throw away your old love letters.
Sleep… during the day.
Don't feel guilty if you think you’ll be less Goth as you get older. The most interesting Goths I know were ravers at 16 when they finally got some sense beat into them, some of the most interesting 40-year-olds I know are Gother than I am.
Get plenty of caffeine.
Be kind to brain cells, you'll miss them when they're gone.
Maybe you'll marry, maybe you’re bisexual.
Maybe you'll have children, maybe you’re smart.
Maybe you'll wear a suit and work for a bank at 25, maybe you'll dance at Slimelight on their 40th anniversary.
Whatever you do, don't congratulate yourself too much or berate yourself either. Your choices are half chance, so are everybody else's.
Enjoy your body. Better yet, enjoy someone else’s.
Use it every way you can, and don't be afraid of what other people think you’re doing. They’re just going to go home and spank their monkeys anyway.
Dance.
Even if you have nowhere to do it but that really crowded spot by the bar.
Read the lyrics even if they’re all in German.
Do not look at the pictures in Newgrave or Gothic Beauty. They will only make you feel ugly.
Get to know the DJ and the door guy.
You never know when this club will be gone but they’ll need a bartender at the new one.
Be nice to the Goths who have cars.
They are your best ride to shows and the people most likely to give you a ride home after.
Understand that clubs come and go. That’s it… clubs come and go…
Work hard to bridge the gaps in geography and lifestyle, for there are budding Goths in places like Kentucky that need guidance.
Go to Convergence once, but leave before it makes you hard.
Go to Projekt Fest once, but leave before it makes you soft.
Don’t be afraid to listen to music that came out after 1990.
Accept certain inalienable truths: drink prices will get higher, boots will get shorter, you too will get old and when you do, you'll fantasize that when you were young, drink prices were reasonable, 14-eyed Docs went to your knees, and people respected older Goths.
Respect older Goths.
Don't expect any band to put you on the guest list, but be grateful when they do.
Maybe you have a job, maybe you'll have a sugar daddy but you'll never know when either one will get sick of you.
Don't mess too much with your hair or by the time you're twenty, it will be hard to get a job.
Be careful who tells you what’s Goth and what’s not.
Advice is a form of nostalgia.
Dispensing it is a way of trying to pass on your own Gothness to another generation without actually having children.
But trust me on wearing black.

Free to Wear Black, Node Out
“Archpope of Chili Town”, 2002

Publicado por _gotika_ em 07:39 PM | Comentários: (11)


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Comentário:
Todos os góticos recém-nascidos deviam ler "Wear Black". É um manual. Mas nem todos vão passar no teste.

sábado, 16 de março de 2013

A zombificação

Segundo estudo europeu, Portugal é o terceiro país da Europa onde o suicídio mais cresceu nos últimos 15 anos. Estima-se que se suicidem, em Portugal, cinco pessoas por dia.

Oh, porquê, porque será?! O mistério, o mistério!

Espanta-me (nos dias que correm) que os senhores doutores psiquiatras continuem a apontar a depressão como razão para esta decisão definitiva, coisa simples que se cura, com comprimidos, vejam lá! "Está desempregado, não consegue arranjar uma entrevista, vai perder a casa, anda a mendigar na rua? Tome lá um comprimido para não pensar nisso!"
Não, não se cura com comprimidos, nem sequer com conversas, porque as pessoas não estão doentes, as pessoas estão desesperadas e não têm futuro! As pessoas estão a perder o emprego, as mães estão a pegar nos filhos ao colo e a saltar de pontes abaixo, as pessoas vêem-se na iminência de ter de sair da casa própria (porque o desemprego não lhes permite cumprir as prestações ao banco) ou arrendada (porque não suportam a renda), as pessoas chegam aos 35 anos e são consideradas velhas para trabalhar, as pessoas não têm filhos para que não passem fome, as pessoas resignaram-se a enterrar os sonhos, as pessoas já não têm motivo para viver.
E estas bestas continuam a chamar-lhes doentes, e querer medicá-los, e a torná-los nuns vegetais, a andar pela cidade sem abrigo e a comer da caridade da Santa Casa da Misericórdia e da Legião da Boa vontade? E não lhes passa pela cabeça que essas pessoas chamadas “doentes” prefiram morrer com orgulho e dignidade, nos seus próprios termos, porque não querem viver de caridadezinha?... O que as pessoas querem é direitos. Só a justiça, a igualdade, as perpectivas de futuro, curam esta "doença". Uma doença social, um cancro, uma vergonha.
Foram feitas umas acções de formação. Diziam os formandos: "quando alguém diz: 'eu quero matar-me' já não está muito bem. Precisa de um psiquiatra." Eu é que já não estou muito bem! Porque eu sei o que faz o psiquiatra. O psiquiatra passa um papel e transforma esse "doente" num vegetal ou semi-vegetal.
Não precisamos de mais zombies! A Fox já nos fornece walking deads que cheguem!
Mas interessa, ao poder estabelecido, que os desesperados andem medicados, zombificados, vegetalizados. Toma lá com comprimidos para não pensares quanto te fodem!
E pensar que estes charlatães, que não têm outro nome, sem pinga de vocação (os mais velhos foram para Medicina porque os papás quiseram, os mais novos porque não havia emprego em mais nada), não sabem sequer distinguir o que é psicológico do que é sociológico! Não custa assim tanto. Leiam os jornais, grandes bestas! Está lá tudo! E não é psicológico, é mesmo a sério!
E se estes doutores, que ganham BALÚRDIOS, forem de repente corridos pelos cortes no Ministério da Saúde, como eu vi alguns (muitos deles, psicólogos, remetidos ao call center, ou às lojas, ou à caixa de supermercado), e se se virem sem papás a quem pedir dinheiro, e sem conjugues, igualmente desempregados, que não garantam sustento, e se se virem numa situação de miséria em que têm de ir recorrer à caridade do Banco Alimentar ou da Santa Casa, ou mendigar na rua? Também ficam "deprimidos", "doentes", "neuróticos"? Ou não vos passa pela cabeça que vos possa tocar a vós, alimárias?
Por esta altura já deviam saber melhor, mas parece que a alguns só dói quando vos toca na pele. Oxalá toque, anormais! Para morderem a língua antes de ensinar aos ignaros que "a pessoa já não está muito bem" quando a pessoa já está muito mal!
Se não sabem o que estão a fazer, suicidem-se! Mas passem antes o papel, que a malta quer é droga. Porque é isso que vocês são: não passam de dealers autorizados.





quinta-feira, 14 de março de 2013

Gotika: arquivos Abril 2004

abril 08, 2004

Memnoch the Devil - o livro

De Anne Rice.

Foi difícil sair do estado de choque. Não é todos os dias que nos fazem pensar. “Memnoch the Devil” fez-me pensar porque o tema - agora tenho a certeza absoluta! - é de uma importância fundamental para a minha existência.
Contemplei o horror. Não o medo. Pior do que medo, o choque, depois o horror, e por fim a repugnância. Questionei, ah! pois questionei, porque não pude deixar de o fazer.
Há duas teorias que me arrepiam. Uma, a de que Deus não existe porque não há provas. Como se a electricidade não existisse antes de haver provas de que existia. Essa posição só revela a mesma atitude de avestruz da outra atitude que diz “Deus existe porque sim”.
E a verdade é que ninguém tem provas de que Deus existe e ninguém tem provas de que Deus não existe. Facto.
Logo, ateístas e fundamentalistas são avestruzes de cabeça enterrada na areia. COBARDES. Ambos têm medo de questionar, e se?... E se?... E eu questiono-me, todos os dias, questiono-me. Prefiro a horrível verdade à doce certeza.

Aqui há tempos, dizia-me o Mangas, do Tapor: “Deus tem mais em que pensar do que no teu gato”.
É interessante como as coisas vêm e vão.
E se for pior que isso? Muito pior que isso?

Afinal, o que diz Memnoch? Memnoch é o verdadeiro nome do Diabo, e é o Diabo que conta a história. E nesta história, o Diabo é o bom da fita. Mas esse facto é irrelevante. A teoria é de Anne Rice ou, pelo menos, foi exposta por ela. É a teoria que me perturba.
E o que diz o livro de tão assustador? Diz isto:

1, Deus existe.
2, Deus não quer saber de nós para nada.

Vou contar, para que se perceba. Deus existe e criou a Matéria. Foi uma experiência. A Criação foi uma experiência. E a Terra transformou-se num bonito jardim, e Deus e os anjos observavam e gostavam do que viam. Dos vegetais a evolução passou aos animais, e a Natureza mostrou o seu ciclo de vida e morte, de presas e predadores, e de sofrimento. Mas de repente os seres viventes tinham rosto, como os Anjos (as criaturas foram criadas à imagem de Deus), e as criaturas morriam e os Anjos inquietavam-se. E Deus observava o resultado da experiência. Por fim, as criaturas evoluíram ao ponto que nós chamamos homo sapiens sapiens - nós - e as criaturas continuavam a sofrer e a morrer. E Deus observava o resultado da experiência.
Os Anjos começavam a ficar perturbados com o sofrimento que testemunhavam na Terra. Mas de repente aperceberam-se de algo pior. A matéria tinha gerado algo de invisível que era a alma. Os seres humanos tinham desenvolvido uma alma. E quando morriam na carne, essa alma recusava-se a morrer e ficava a pairar em torno da Terra. Algumas almas não sabiam que estavam mortas. Outras sabiam, e sofriam. Outras arranjavam maneira de voltar a comunicar com os vivos, através de seres humanos mais dotados para o espiritual, que falavam por elas.
Outras ainda, conseguiam voltar a nascer, matando o espírito da criança em quem reencarnavam - Alan Kardec deve estar a dar voltas no túmulo como eu estou a dar voltas à cabeça...
Outras almas pura e simplesmente se desvaneciam e desapareciam para sempre.
Foi Memnoch, o anjo que mais tarde se tornou o Diabo, quem chamou a atenção de Deus para o assunto, de que haviam almas a sofrer à volta da Terra. Resposta de Deus: “E porque é que eu me havia de importar com isso?” Para Deus, tudo o que evoluía da sua Criação fazia parte da Natureza. Até as almas. E a Natureza é cruel mas o importante é o efeito geral, a beleza de toda a Criação.
Na Terra, os seres humanos sentiam que havia um Deus, e adoravam-no. E pediam-lhe misericórdia através de sacrifícios. Sacrifícios de carneiros, sacrifícios de crianças... Sacrifícios para adorar a um Deus de quem não sabiam nada excepto que o sentiam. Sacrifícios para o apaziguar. E Deus observava os resultados da sua experiência.
Os Anjos observavam com horror o acumular das almas dos mortos em redor da Terra, almas perdidas, desesperadas, sem rumo. Mas a magnificência da Criação sobrepunha-se a tudo o resto. E continuavam a adorar o Criador de todas aquelas maravilhas.
Alguns anjos, contudo, vieram mais à Terra e aperceberam-se do sofrimento dos homens que morriam e não tinham nenhuma esperança excepto vaguear em torno da Terra, na escuridão, quando eles, os Anjos, tinham o Paraíso para onde voltar. E tiveram pena das almas. E puseram o caso perante Deus.
Deus tomou o pleito como um desafio, e chamou ao Anjo que tinha mais pena das almas o seu Acusador (Satanás), o próprio Memnoch. Mas autorizou-lhe que fosse buscar algumas almas desses mortos para o Céu. Mais uma experiência.
Memnoch encontrou almas tão dilaceradas pelo sofrimento que amaldiçoavam o dia em que tinham nascido. E algumas outras almas em pura contemplação e desespero. Mas quem é que ele escolheu para convencer Deus a levar as almas dos humanos para o Paraíso? As almas dos mortos que contemplavam a Criação com gratidão, sem pedir nada, sem questionar nada, simplesmente as almas que estavam felizes por terem o privilégio de ter vivido alguns anos na Terra e se darem por contentes.
Ou seja, as almas dóceis e gratas, as almas que não questionavam, as almas que aceitavam o estado de coisas e davam graças pela Criação. Essas almas foram admitidas no Paraíso.
Quem é Deus aqui? Um Ser arrogante, despótico, regalado com a contemplação da sua Obra como um desses pintores que se acha um génio e corre a pontapés quem o critica.
Mas, calma, há pior!... Depois de ter aberto as portas do Céu a essas primeiras almas, Deus aceitou o desafio do diabo (porque nessa altura já tinha expulso Memnoch do Céu porque “não confias em mim, meu anjo”) e veio à Terra feito homem, o Cristo.

(Belo tema pascal, não?)

Mas mesmo no seu martírio, Deus nunca esqueceu que era Deus. Deus nunca percebeu como o ser humano vive e morre sem esperança. Deus sabia que após a morte voltaria a ser o Todo-Poderoso.
Pior. Deus aproveitou toda a mitologia humana do deus que era morto e renascia na primavera para a incarnar Ele próprio. Tal como o babilónio Marduk, o egípcio Osiris e o romano Dionísio, Deus foi morto e ressuscitou. Deus alimentou-se dos mitos humanos para provar a sua teoria. E a Sua teoria é que o sofrimento é bonito como um pôr-do-sol e que o homem só chega a ele - só se aperfeiçoa - através do sofrimento. E pôs ali o exemplo, em Cristo.
Mas Memnoch contesta. E contesta porquê? Porque muitas das almas dilaceradas pelo sofrimento estão demasiado revoltadas no momento da morte para apreciarem a Criação Divina. E, o que é mais grave, este Deus não é justo. Entram no Paraíso aqueles que lhe derem graças pela sua magnífica Criação, independentemente das suas acções aqui na Terra.
O assassino e a vítima, o explorador e o escravo, entram aqueles que o bajularem e se curvarem diante dele.
Não há Justiça. Não há Justiça absolutamente nenhuma.


Descobri a minha natureza
Foi aqui que me passei. Foi aqui que o vampiro Lestat começou a enlouquecer. Porque ele próprio esperava o castigo. O vampiro Lestat era um descrente que no fim do livro continua a dizer que tudo o que viu foi uma ilusão, apesar de não ter a total certeza... Imaginem o que isto faz a um crente!
Não há Justiça? De repente isto atingiu-me como uma faca na barriga.
É uma possibilidade. E agora percebo que aquilo de que tenho fome e sede é de Justiça.

Voltemos ao livro. Anne Rice foi criada católica desde pequena. Como muitos intelectuais educados no Catolicismo - sei lá o que fazem às crianças na catequese! - algo ali correu mal.
Primeiro, Anne Rice, como um bom católico, não distingue Deus de Jesus Cristo. Anne Rice fala de ter imaginado, em pequena (pela voz de Lestat), serem-lhe cravados os pregos nas mãos e nos pés, como a Jesus. E isto bateu-me forte. Bateu-me forte porque tive uma amiga - ok, namoradita - que me disse, quando eu lhe perguntei porque é que ela acreditava em Deus, “Imaginas o que é pegarem num prego e espetarem-to nas mão direita, e depois na mão esquerda, e depois nos pés juntos, assim...?” - e fez a posição dos pés de Cristo na cruz. Lembro-me de ter ficado estupefacta. Não, nunca tinha pensado nisso. Ela fez-me pensar. E de repente, anos, mas muitos anos depois, volto a ler o mesmo no livro de uma americana muito mais velha do que a minha amiga.
Mas que raio? O que raio dizem às crianças na catequese?... Estou horrorizada! Mas evidentemente que essas pessoas só podem crescer a odiar Deus!
Porque raio a minha amiga e Anne Rice imaginaram que os pregos eram cravados nas mãos delas? Eu já imaginei muitas formas de morte, também, mas nunca a de Cristo!
E agora acredito - no sentido de concordar - que as crianças não devem ser carregadas com religião. Têm tempo de a descobrir por si se assim quiserem, depois de adultos. A religião é uma coisa de adultos. Jamais admitirei que impinjam religião às crianças, jamais!
Se bem que há crianças como eu que pedi aos meus pais para ter aulas de Moral e Religião na escola primária, porque EU queria. Assim é outra história. Deixaram-me tê-las, e ainda bem. Porque eu tinha curiosidade. Porque, como já devem ter percebido, o sobrenatural atrai-me como o íman atrai o ferro. Mas isso sou eu. Eu entro e saio da religião quando quero. Sempre foi assim. Cuidado com as vossas crianças. A religião não é para todos!

Por esta altura devem estar a pensar “mas no que raio é que esta gaja acredita?”...
E agora percebo que acredito em tudo. OK, é uma forma de falar. Quero com isto dizer que tenho a mente aberta. Admito todas as possibilidades. Admito que depois da morte possa não haver nada. Absolutamente NADA. Admito que depois da vida possa haver outra vida. Admito a hipótese neste livro, e daí o choque, a revolta, o murro na barriga que me pôs a ver estrelas.
Claro que tenho as minhas suspeitas. E digo “suspeitas” porque nesta matéria ninguém pode ter certezas. Escusam de vir para os comentários dizer que Deus não existe e que Deus existe porque perdem o vosso tempo.
NÃO HÁ PROVAS. Admitam e poupem-me aos argumentos batidos.
As minhas suspeitas estendem-se no sentido da teoria da reencarnação. Adorava dizer-vos porquê. Acontece que tem sido um acumular de leituras e experiências ao longo da vida - e nessa altura não tinha um blog, logo, não registei... :)
No entanto, sou Católica, baptizei-me depois de adulta, e não penso que a teoria da reencarnação colida de alguma forma com a doutrina católica. Quando dizem, no Credo, “acredito na ressurreição da carne”, o que é isso senão a reencarnação?... Quem é que ressuscita na carne? Quantos ressuscitados na carne já viram? Jesus? Mas Jesus é um caso especial. E mesmo assim, não sabemos se ressuscitou na carne, nem importa. De outra forma, estamos a falar de quê? Do Dia do Juízo Final? Quando todos os mortos se levantaram das campas? (Oh, o horror!)
Por acaso tenho muitas dúvidas aqui atravessadas quanto ao Dia do Juízo Final, o Armagedão e a Segunda Vinda de Cristo. Dúvidas que a Igreja Católica diz que são Mistérios. O que não me satisfaz. Porque eu questiono. Podem excomungar-me à vontade. Continuarei a questionar.
Isto interessa-me. Falem-me de modo racional. Continuam a falar-me em Mistérios e eu continuo a sorrir para mim mesma, pensando “Sabem tanto ou menos do que eu”. Acontece que eu quero mesmo saber. Toda a vida quis saber.
Mas a teoria da reencarnação, faz sentido. Faz mesmo TODO o sentido.
De resto, a religião em que se adora Deus, é irrelevante.
E é nisto que eu acredito - acreditar no sentido de “concordar”.


De volta ao livro
Posso dizer-vos que quando acabei de ler - e foi uma leitura frenética, obcecada (já deu para ver que eu sou de obsessões), ininterrupta, febril, até dolorosa - só pensava em tudo de contrário que tinha lido na Bíblia. Aliás, durante a leitura, por minutos parava, de olhar perdido na parede e alma violentada, e dizia a mim própria: “Não pode ser. Não é isto que diz a Bíblia.” E ao mesmo tempo, toda a minha inteligência me dizia que a Bíblia foi escrita por homens, homens supostamente sob inspiração divina, mas que nada me garantia que não fossem apenas homens alucinados a tentar acreditar num Deus Bom, no Deus em que eu acredito. E se fosse tudo imaginação? E se eu também imagino?
“Quem beber de Mim terá a Vida Eterna”. “Venham a mim os que têm sede de Justiça”.
O pior não é Deus não existir. O pior é Deus existir e não querer saber da sua Criação. Porque nós, humanos, amamos a nossa descendência, os nossos filhos. Não nos passa pela cabeça a ideia de um Deus que não ama os seus filhos. E no entanto... quem nos garante? Deus nem sequer é humano!
Aí está o horror, o grande horror! “Feitos à semelhança de Deus”, mas até que ponto? E se for, como diz o livro, “feitos à semelhança de Deus” no sentido antropomórfico, de ter cabeça, corpo e quatro membros? E de resto, mais nada?...
E se Deus for mais insensível do que eu? Do que nós?... E se Deus for um Deus como sugere o Mangas, que não só tem mais que fazer do que pensar no meu gato mas também em nós todos... E nós somos para ele como o meu gato é para a maioria das pessoas... É a Natureza.
Todos nós, abandonados, criados e abandonados pelo Criador.
Quem nos garante?... Nada nos garante. Facto.
Estou a disposta a lutar pelos factos. Não pelas quimeras, por isso nem tiro o cu do sofá, mas pelos factos.
E se a Criatura ultrapassou Deus em Ética? E se a Criatura tem mais Moral do que o Criador?


Anne Rice e o Deus Louco
Voltemos à “Rainha dos Malditos”. Como em qualquer saga, só se compreende o todo se se ler o princípio e o fim. E o meio.
Tal como já disse, é difícil perceber “A Rainha dos Malditos” sem ler os primeiros dois livros. Mas lendo este livro é ainda mais fácil.
Imaginem que são vampiros. Como tal, a vossa existência está dependente do primeiro vampiro. Se esse vampiro morrer, vocês morrem. Imaginam agora que esse primeiro vampiro quer destruir-vos. Têm duas escolhas: destrui-lo e morrer ou não o destruir e morrer também. Akasha, a Rainha dos Malditos, é uma criatura estúpida, que quer utilizar a mitologia humana para se fazer passar pela Rainha dos Céus, a Deusa pagã, a Maria cristã, para ser adorada, quando ela não passa de um assassina hipócrita que quer fazer crer que a sua violência é um meio de impor o Bem. Para isso, é preciso eliminar 99% dos seres humanos de sexo masculino para pôr termo à violência. Mas ela esquece-se de uma coisa: não há paz imposta pela guerra. Ela é uma espécie de George Bush e de Al-Quaeda ao mesmo tempo. A personificação de todos os pesadelos. Quem manda em nós é estúpido que nem uma porta.
Não há escolha. Há aceitação. Há uma deusa poderosa e destruidora à solta e apenas podem aceitar o vosso destino. É a vossa história de terror.

Com este Deus louco e insensível de Memnoch, Anne Rice coloca-nos a todos debaixo da mesma história de terror. E se?... Quem é que vai garantir que não?
Poupem-me, já vos disse, os comentários batidos. Não me torturem com os argumentos que já toda a gente ouviu.
E se Deus for um cientista genial mas avesso às críticas ao Seu trabalho? Deus nos livre! Deus nos livre de Deus! Porque nesse caso, como diz Lestat, “estamos entregues a seres loucos!”.
Lestat que acaba perdido de doido no fim do livro. Nem sequer é um crente. Mas é como vos digo. Se isto é inferno para os descrentes, é o rasgar ao meio do coração dos crentes.
Um Deus que não se importa? Que se importa menos com o sofrimento da sua Criação do que nós choramos pelos nosso filhos? Não é humano! Mas Deus não é humano. E tudo isto pode bem ser verdade. E tudo isto é demasiado horrendo para acreditar, e no entanto, antes a verdade que a doce ilusão.
Não gosto de ser surpreendida, muito menos gosto de ter surpresas desagradáveis. Deste modo, terei muito mais prazer em qualquer coisinha melhor do que eu imaginava. Mas jamais imaginei tamanho horror. E vai-me levar um tempo a lembrar porque tenho fé em Deus.
Hoje fui ao meu jardim ver o pôr-do-sol, contemplar a Criação, e acabei por rezar. Conhecem melhor sítio? Não pedi sinais. Tal como não corri para a Igreja, nem voltei a ler os evangelhos como me apeteceu. Como vos disse, foi tudo escrito por homens. Não é por aí que serei convencida. Nem foi isso que me convenceu. Vai demorar algum tempo a lembrar-me do que me fez ter fé.
Este livro abalou a minha fé. Este livro abalou-me.
Por isso, é certamente um bom livro. E viva o Jardim Selvagem de Lestat onde só a Beleza e a Arte são leis indiscutíveis. Se ao menos eu pudesse acreditar nisso... Mas eu quero Justiça. Tenho sede de Justiça. Se não acreditasse na Justiça, seria um monstro como Lestat é um monstro. É por isso que gosto tanto dele e me identifico tanto com o personagem? Pobre de mim!... É mesmo por isso! Sem fé, eu seria mais um monstro neste Jardim Selvagem.
Mas não me conformo. Não, não me conformo. Mesmo que nós seres humanos, por ironia do Destino que Anne Rice tenha exposto a Verdade sem querer, não passemos de fantasmas revoltados, estou disposta a lutar pela Justiça Aqui e Depois, e Sempre, não porque isso dê sentido à minha vida, mas porque é o correcto a fazer.
As leis éticas que me regem estão dentro de mim, não fora. Não em qualquer credo ou religião. Mas dentro de mim. Nasci para o Bem. Ponto final.


É verdade... No fim do livro, a nossa hárpiazinha, Armand, e apesar de saber tudo que aqui expus, Armand converte-se a Cristo. Era uma consciência demasiado pesada. Eram demasiados crimes e demasiado Mal para ele carregar - até ele! Fico feliz por ele ter admitido. Não fico feliz pela forma como se converteu. Como eu disse, eu nasci para o Bem. Acho que aprendi a amar um inimigo.
E não posso dizer mais nada sem revelar o fim do livro. Se fosse uma obra muito conhecida, poderia dizê-lo. Sendo assim, não faço aos outros o que não gostaria que me fizessem a mim.

Enfim, acho que já perceberam, é um livro que aconselho a ler.

Publicado por _gotika_ em 09:07 AM | Comentários: (11)


Comentários: filmes e livros e livrarias

Mas diz-me uma coisa em relação ao "Queen of The Damned": suponho que o argumento do filme tenha fugido imenso ao livro, verdade? (...)Enviado por jesusrocks em abril 7, 2004 02:33 PM

Não vi o filme. Pelo que vi do trailer, no site do filme (link no post anterior), e pelos comentários do produtor posso dizer que sim, que o filme é uma pálida imagem do livro. Mas compreendo que tenha que ser assim. “A Rainha dos Malditos” é um livro muito extenso, que explora a vida de muitos personagens em grandes espaços de tempo. Era preciso resumir. É claro que se cometeram erros imperdoáveis. Não havia necessidade de atribuir a criação do vampiro Lestat ao vampiro Marius. Quiseram cobrir também um pouco do livro “O Vampiro Lestat” e falharam. Ou melhor, atabalhoaram. E também não era necessário construir uma história de amor entre Jesse e Lestat quando a grande paixão de Lestat é por Louis... Ah, pois é!
Continuo a pensar que quem não leu os dois livros anteriores não percebe nada do que se passa na “Rainha dos Malditos”. As vampire chronicles são uma saga, como “As Brumas de Avalon”. Acho que isto diz tudo.
E eu tenho uma certa queda por sagas...

Geralmente não gosto das traduções (por exemplo a do "Dracula" de Bram Stoker não está nada bem conseguida) e encontrar livros na língua inglesa por aqui é complicado. Enviado por jesusrocks em abril 7, 2004 02:33 PM

Não sei onde moras mas em Lisboa tens a Livraria Buchholz e a Livraria Britânica. (Se alguém conhece sítios onde encontrar livros na língua original - de preferência baratos ou em segunda mão - faz favor de dizer nos comentários) Mesmo por causa disso, resolvi pedir um cartão de crédito (nunca na vida tinha tido necessidade dele) para encomendar compras do estrangeiro através da internet. Parece estranho mas acaba por sair mais barato, o que não deixa de ser sintomático...

Publicado por _gotika_ em 04:29 AM | Comentários: (3)

domingo, 10 de março de 2013

Gotika: arquivos Abril 2004

abril 07, 2004

“Queen of the Damned”

De Anne Rice.

É um livro pateta. Pensei-o da primeira vez que o li e confirmei-o da segunda.
Salva-se a história de Armand e Daniel. O resto é absolutamente demasiado confuso. Muitas personagens. Demasiadas personagens.
Nem vou comentar.

Cena do filme ”Queen of the Damned”: Lestat e Akasha, Rainha dos Malditos. (Nota: a cena não existe no livro)


Depois vem “The Tale of the Body Thief”. E depois vem o livro que acabei de ler, “Memnoch the Devil”. E esta não é uma história de vampiros. É uma história sobre Deus e o Diabo, a vida e a morte. A nossa vida e a nossa morte.
Há muito tempo que nada me atingia assim. Sinto-me fulminada. Perplexa em terror. Não tinha dito aqui algures que uma história de terror tem de ter uma base de verdade para ser verosímil?... Fiquei sem palavras. Dei hoje por mim a olhar no vácuo, absorvida pelo choque de questionar tudo aquilo em que acredito por causa de um livro, porque pode bem ser verdade, percebem?... Pode muito bem ser a verdade. Por mais horrenda que seja.
De modo que não faço a mínima ideia de quando e como vou conseguir comentar o conteúdo do livro, e contar a história, e debatê-la, e...
Talvez um copo faça desbloquear as lágrimas.

Por alguma razão, no fim do livro, Lestat está completamente louco. É caso para isso.

Publicado por _gotika_ em 01:54 AM | Comentários: (7)

quarta-feira, 6 de março de 2013

Gotika: arquivos Abril 2004

abril 02, 2004

O meu afilhado nasceu!

Não vou explicar a extensão deste “afilhadanço”, apenas que fui eu que dei a ideia e que fico contente por ver que ele escreve!
Ele escreve de uma maneira que é só dele e de mais ninguém e eu achei que não devia escrever para a gaveta, ou pior, não escrever sequer.
Hoje ele já tem tudo a funcionar, tudo certinho, faltam lá visitantes.
Por isso, se puderem, dêem um saltinho a esta Ribeira Negra.

Sou a madrinha. Babada!

Publicado por _gotika_ em 10:17 PM | Comentários: (7)


Armand, a hárpia

E pronto, vamos lá cascar outra vez no vampiro Armand.
(Ao mesmo tempo, aproveitando para cascar em todos os “vampiros Armands” que por aí há, e não são poucos! Por isso, se alguém estiver a ler e enfiar a carapuça...)

À segunda vez que Anne Rice (na figura de Lestat) associa a personagem de Armand a uma hárpia, confesso que me despertou a curiosidade e tive de ir pesquisar. Em toda a galeria de monstros da antiguidade não me lembrava exactamente do que era a hárpia.
E era então um monstro com tronco de mulher, asas, pés de abutre, longas garras e face pálida e esfomeada. Originalmente a hárpia era um símbolo da Justiça, uma criatura criada pelos deuses para atormentar os malfeitores, mas degenerou numa criatura maléfica por si só. Na “Odisseia” de Homero, as hárpias eram ventos que arrastavam os marinheiros para longe. Na Idade Média, a hárpia transformou-se no símbolo da ganância e do diabo, e a ideia prevaleceu. Na língua inglesa, significa uma pessoa vil, implacável e extorcionista. Enfim, só palavras meigas.
Cá está ela, a hárpia:



Por outro lado, a figura delicada de Armand lembra um anjo de Caravaggio. Aposto tudo que era neste que Anne Rice estava a pensar, e pelo que vi nos sites dedicados às vampire chronicles, não sou a única:

(São Mateus e o Anjo)

Temos então um lobo na pele de cordeiro, o que por si só é muitíssimo perigoso. Pela altura de “A Rainha dos Malditos”, Armand já tem um largo cadastro no sentido exacto da palavra.
É engraçado que uma vez li na Boa Estrela algo que me deixou os cabelos em pé e que quis transcrever aqui mas depois o tempo passou e... O que interessa é que se aplica agora. Entre várias medidas para ter sucesso na vida, uma delas era: “Tente descobrir o que as pessoas vão querer antes de elas descobrirem o que querem. Fazer alianças multiplica o poder. Faça com que as outras pessoas o ajudem e colaborem, unindo-se em direcção ao mesmo alvo”. Eu chamo a isto “manipulação”, mas de um ponto de vista muito realista, sim, isto funciona. Lembro-me de ter pensado que se para ter sucesso na vida tivesse de seguir aqueles 50 conselhos - como é que a Boa Estrela publica um artigo tão pouco edificante ainda não percebi - nunca teria sucesso porque prezo muito a minha consciência. É que eu tenho uma, e pesa-me.
Agora, que a manipulação e o intriguismo resultam, se resultam!
Não sei se o vampiro Armand lê a Boa Estrela, ou talvez tenha nascido ensinado. Todos nascemos com um dom especial.
Pois o dom de Armand é o poder. Mudam as circunstâncias, mudam os ideais, mas Armand tem o dom de “ficar sempre do lado certo”. Qualquer político devia ver em Armand uma inspiração.
Mais do que o intriguista que separa os amigos para seu proveito, Armand é sempre e toda a vida o líder do coven dos vampiros “civilizados”. Como o consegue? Quase por artes mágicas, torna-se na personificação da lei em vigor no momento - o Estado, podemos assim dizer - e chama a si os que temem viver na insegurança. Lestat não faz parte de coisa nenhuma e Louis está sempre tão ocupado a ter pena de si próprio que nem se apercebe que existe um mundo além do seu umbigo. Armand deseja os dois porque possivelmente tem uma certa inveja de não precisarem de quem lhes diga o que fazer. A liberdade é um conceito que Armand não compreende. Na sua ânsia de sobreviver, não se terá esquecido de viver? Que existência triste.
Quando Lestat foi criado, Armand tinha um coven de vampiros que viviam debaixo do cemitério e se dedicavam ao satanismo. Isto porque alguém lhes disse que era assim que deviam fazer, e alguém estipulou as regras que seguiam há séculos. Por ignorância, Lestat acaba por mostrar aos vampiros da altura que havia alternativa. E isso destruiu o pequeno mundo de Armand. O que fazer agora? Os vampiros revoltavam-se, queriam ser livres.
Primeiro, ainda destruiu uns quantos. Depois pensou duas vezes, deitou fora as suas roupas medievais, transformou-se num cavalheiro do século XVIII e voltou a liderar o coven do Teatro dos Vampiros - onde estavam os sobreviventes... de ele próprio.
Virar a casaca! Esse magnífico dom que já transformou maoístas em sociais-democratas! Pois...
Primeiro, Armand tenta seduzir Lestat para o seu grupinho de “discípulos de Armand” ... Mas Lestat nunca acreditou muito nele. Talvez porque antes de o seduzir, Armand o quis incinerar numa pira de fogo? Pormenores.
Por altura do encontro com Louis, o nosso Armand era o dono e senhor do Teatro dos Vampiros. Tinha também um escravo humano, uma espécie de guloseima fora das refeições, que matou num instante quando conheceu Louis. Afinal, este não era importante. Louis foi importante por uns tempos, mas depois também perdeu o interesse. Então já lhe podia dizer a verdade. Antes não era conveniente.
Depois da “fase Louis”, Armand não perdeu muito tempo a encontrar outra vítima. Lembram-se do jornalista que entrevista Brad Pitt em “Entrevista com o Vampiro”? Chama-se Daniel Molloy e também é uma criatura adorável. Ainda era humano e já me inspirava arrepios. Dele só se vê cobardia: tem medo de Louis e tem medo da morte, e tem medo de Armand quando este o começa a perseguir. O que quer dele o vampiro? Aprender sobre o século XX. Sente-se desactualizado, está a perder o poder. Durante anos leva a cabo o seu assédio de hárpia esfomeada até que Daniel confessa que está apaixonado pelo Mal. O Mal que há em Armand. E Daniel quer ser também o Mal. Ser um vampiro. Ser imortal. Nunca questiona a ética desse seu desejo.
É de facto uma bela amostra de ser humano, não haja dúvida!
Por fim lá consegue o que deseja, e o entrevistador do vampiro torna-se vampiro também. “A minha herança de Louis”, diz Armand.
Este prepara tudo para um grande coven onde, como não podia deixar de ser, ele é que manda. Mas também não teve o melhor dos resultados...

Apesar de tudo, reconheço que a hárpia tem os seus encantos. Armand não faz vítimas ao acaso. Senta-se e espera que as pessoas que desejam morrer cheguem até ele. Essa parte é amorosa!
Ainda não li o livro todo dedicado ao vampiro Armand (mas já cá o tenho, yes!) e já algo me diz que ainda me vou arrepender desta maledicência. Com certeza tanta perversidade e falta de moral tem uma origem. Nas entrelinhas quase que se adivinha: na sua adolescência como humano, Armand foi vendido a um bordel onde terá sofrido os calvários deste mundo e do outro. Ainda vamos chegar à conclusão que Armand é uma espécie de “menino da Casa Pia”...
Será desculpa suficiente?

Publicado por _gotika_ em 10:00 PM | Comentários: (2)

sábado, 2 de março de 2013

Gotika: arquivos Abril 2004

abril 01, 2004

Barbarismo

Apesar de já ser 1 de Abril, o que eu vou dizer não é de forma nenhuma irónico e também não é mentira, embora seja susceptível de várias interpretações. Hoje vimos na televisão imagens fantásticas (porque assombrosas) da mutilação de corpos americanos no Iraque. Vi imagens que só tinha visto semelhantes num filme de ficção, “Predador”: corpos mutilados pendurados de cabeça para baixo. Neste caso, o “predador” não é extraterrestre mas, para meu espanto, é tão humano como a presa.
No entanto, não fiquei chocada. Fiquei boquiaberta, sim, mas não chocada. Há aqui um pormenor que me faz pensar. Os corpos foram mutilados depois de mortos. Aqui há 500 (ou menos) anos, teriam sido desmembrados enquanto vivos. E arrastados por cavalos enquanto vivos.
Para descanso da minha consciência, estas mutilações foram efectuadas post mortem. Sei que isto vos vai parecer estranho, e irónico, e tudo isso, mas aqui é que se vê também o progresso da Humanidade enquanto TODO.
Sim, foi barbarismo, mas já houve mais e pior. Ali, o que aconteceu foi o descarregar de uma frustração colectiva no símbolo do opressor, como se os corpos fossem os bonecos que se incendeiam nas manifestações. Em tempos medievais, as execuções das pessoas (VIVAS) eram bárbaras e o povo aplaudia como se estivesse num espectáculo.
Por estas razões obscuras - não sei se me estou a fazer entender - acho que sim, a Humanidade progride. Lentamente, muito lentamente, mas progride. Por isso, haja razão para ter esperança.

Publicado por _gotika_ em 01:43 AM | Comentários: (15)


Temos revolução?

Este blog tem-me mostrado uma característica de mim própria - se não um defeito grave, ainda não decidi - que é o facto de ser obsessiva. Nunca imaginei ser tão obsessiva!
Mas enquanto não me passa a fase vampiresca, vamos ao estado da nação. (A fase política não há maneira de passar...)
Hoje tive de sair de casa para uma entrevista de emprego para nada. Eu explico. A entrevista não era para emprego nenhum, e eu já sabia disso quando lá fui. Uma entrevista numa empresa de recursos humanos (e nada pequena) que me chamou para uma entrevista para a eventualidade de aparecer qualquer coisa onde eu “caiba”. E não estamos a falar de emprego para licenciados. Não, estamos a falar de coisas bem mais modestas.
Esta de uma entrevista “para nada” nunca me tinha acontecido. Ou já? Sim, talvez em 1994/1995. É o tal ciclo da “toma” e “retoma” da crise, sendo que quem “toma” com ela somos sempre nós. Sim, eu sei que esta é uma boca revisteira e populista.
Por ser fim de mês, por ter havido greve da Carris de manhã e os autocarros demorarem à tarde, porque as empresas de transportes suburbanos vão abolir o acordo com o passe social, porque subiu a gasolina para mais de um euro, porque as falências não param e o desemprego também não, porque o dinheiro não chega, tudo isto junto, garanto-vos que nunca tinha ouvido tantos protestos e reclamações como hoje!
Era na paragem, era dentro dos autocarros, foi de tarde e foi de noite. Hoje esteve tudo fulo da vida em Lisboa!
Isso é que é estranho porque eu hoje estava tão bem disposta, mas tão bem disposta... Mas eu estou apaixonada. Apaixonada pela escrita de Anne Rice mas não interessa, o que interessa é que estou apaixonada.
Acho que o governo devia distribuir ecstasy para de repente nos apaixonarmos todos e suspirarmos pelas pestanas do Durão e pelas madeixas da Manuela e pela carecada do Portas. Como eu lhes chamo, quando estão os três no Parlamento, juntinhos, tão bonitos, a santíssima trindade. A Manuela, por ser do sexo feminino, cabe o papel de Espírito Santo. Durão e Portas alternam.
E ouvi uma palavra nova no autocarro: “Isto é uma vragonha!”. VRAGONHA. Inclusive, ouvi falar do 25 de Abril, e não foi pela mesma pessoa.

Publicado por _gotika_ em 01:41 AM | Comentários: (4)